sábado, 29 de dezembro de 2007

Roma - Segunda Temporada


Meu irmão me emprestou a caixa de DVDs contendo a segunda (e última) temporada da série “Roma” e assisti aos episódios ao longo desta semana. O primeiro ano contou a saga de dois legionários, Lúcio Voreno e Tito Pulo, em meio à ascensão de Júlio César ao poder. Esta temporada acompanha a descida de Voreno e Pulo ao mundo das gangues romanas, enquanto Otávio, Marco Antônio, Brutus e Cássio disputam o comando da República no caos que se segue ao assassinato de César.

A produção continua espetacular como sempre, mas a segunda fase é uma queda de qualidade com relação à primeira, pela opção dos roteiristas de se concentrarem nas disputas do crime organizado de Roma pelo controle dos bairros comerciais da cidade. Colocar Voreno e Pulo na história foi forçar a mão, eles entram no conflito após bater de frente com um dos líderes do submundo. É difícil imaginá-los resignados a essa vida, em vez de alistar nas legiões de Antônio e Otávio, enquanto a guerra civil estourava pela Gália, Grécia, Egito e Turquia. Além disso, o drama familiar de Voreno descamba num melodrama de má qualidade, que nada acrescente à trama.

O ponto alto da segunda temporada são as maquinações de Otávio para se consolidar como herdeiro de César, a partir do momento em que o surpreendente testamento de seu tio-avô o nomeia filho adotivo. Na ocasião ele era apenas um rapaz de 18 anos, sem muito dinheiro ou experiência política e militar, mas consegue manobrar oponentes muito mais astutos como Antônio e Cícero, basicamente porque eles subestimaram sua dedicação e inteligência. Otávio também se cercou de auxiliares muito competentes, como Mecenas e Agripa, que são mal-retratados na série: o primeiro, cujo amor à arte e à cultura era tão grande que seu nome virou sinônimo de patrono, é mostrado como um playboy cínico. O segundo, um gênio militar, aparece como um rapaz gordinho e tímido com um amor difícil pela irmã do chefe.

Também me desagradou a caracterização de Cleópatra. Ela deve ter sido uma mulher fascinante, para enredar César e Antônio, mas na série parece uma clubber que acabou de sair de uma rave barra pesada. O Egito é representado com todos os clichês de como os americanos atuais vêem um terceiro mundo: uma terra de clima quente, costumes sexuais relaxados e degeneração ética que enfraquece até grandes guerreiros. Daria um bom capítulo extra para o “Orientalismo” de Edward Said.

Não pensem, porém, que desgostei de Roma. Pelo contrário, me diverti muito vendo os 10 episódios, é entretenimento da melhor qualidade. Não consigo dizer três frases sem mencionar a “crise da República” ou fazer algum juramento pomposo em latim. Ainda assim, acho que o tema da Roma Antiga continua a merecer uma visão mais elaborada, em especial no momento em que seus sucessores imperiais estão atolados com o velho reino dos Partas.

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