sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Primárias


Começou o maior espetáculo da Terra. As primárias de Iowa abriram a corrida presencial nos Estados Unidos e foram marcadas por semanas de indefinição que resultaram em vitórias um tanto inesperadas: Barack Obama pelos democratas (37,5% contra 29,8% de John Edwards e 29,5% de Hilary Clinton) e Mike Huckabee pelos republicanos (34,4% contra 25,4% de Mitt Romney, 13,4% de Fred Thompson e 12,2% de John McCain). Os eleitores de Iowa apresentaram mensagem comum: críticas ao status quo dos dois partidos majoritários. Clinton e Romney são os que mais perderam.

Tanto Obama quanto Huckabee cresceram muito nas últimas semanas e o caso do republicano é ainda mais impressionante, pois há poucos meses era praticamente desconhecido fora do estado do Arkansas, sua base política. Ambos foram bem-sucedidos em canalizar o descontentamento dos eleitores e inovaram em seus métodos de campanha. Novamente, Huckabee se destaca: sua rede de evangélicos fazendo propaganda de porta em porta conseguiu uma vitória notável sob seu rival Romney, que gastou seis vezes mais dinheiro em marketing eleitoral em Iowa. A eleição presidencial é a mais disputada em muitos anos e isso motivou muito mais pessoas a participar das primárias. Com relação a 2004, o crescimento foi de 125.000 para 239.000 (democratas) e de 87.700 para 115.000 (republicanos).

O perfil dos votantes nas primárias revela diferenças importantes entre democratas e republicanos. Entre os primeiros há participação mais expressiva de jovens e o fator principal para a decisão do voto foi "mudança". Hilary Clinton foi vista como alguém muito vinculada às lutas partidárias dos anos 90 - época de divisões amargas, com o Congresso republicano tentanto o impeachment do presidente Clinton. Obama tem um discurso bastante conciliador. O eleitorado republicano é mais velho e o que pesou na escolha por Huckabee foi a percepção de compartilhar valores religiosos e morais.

Contudo, os eleitores dos dois partidos mostraram preocupações semelhantes com a economia e a guerra do Iraque. O que os distingue: os democratas se inquietam com os problemas da saúde pública e os republicanos estão bastante temerosos da imigração.

No que diz respeito à campanha de Obama, parece que ela comprova as teses do cientista político Russell Dalton, para quem está em curso uma renovação geracional na política americana, com os jovens se mobilizando muito mais do que as pessoas mais velhas, e defendendo novos valores, como ecologia e mais participação democrática. A aposta é boa, vale examiná-la com atenção.

Iowa é apenas o começo. Daqui até a "Super Terça-Feira" de 5 de fevereiro, há mais de vinte primárias. A próxima é em New Hampshire. Se Obama vencer o estado, aumentam muito as chances de ser o indicado dos democratas. As coisas estão bem mais nebulosas para os republicanos: Huckabee é fraco em New Hampshire, onde está em ascensão a estrela de McCain. Além disso, Rudolph Giuliani não fez campanha em Iowa, optando por uma estratégia arriscada e inovadora de se concentrar nos maiores estados.

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