sexta-feira, 27 de abril de 2007

Enquanto Escrevo


Ontem apresentei o primeiro capítulo da minha tese de doutorado aos colegas do seminário no qual discutimos nossos trabalhos. Foi uma bela manhã de conversas a respeito da política e história da Argentina e os amigos fizeram muitas sugestões importantes, em especial ao me chamarem a atenção para a necessidade de aprofundar o estudo sobre a ascensão de Menem à presidência.

Aos poucos nasce a tese. Enquanto escrevo, gosto de espalhar os livros e fichas de leitura pela mesa, abrir as janelas da sala para que o mundo possa entrar, ouvir CDs de música latino-americana e levantar de quando em quando para consultar as obras de referência na biblioteca.

O texto flui rapidamente – já são mais de 100 páginas em um mês e meio de trabalho. Embora seja somente a primeira versão, é um ritmo tranqüilizador, porque planejo um total de cerca de 150. O prazo é março de 2008, acredito que terminarei tudo no segundo semestre.

Escrever uma tese exige bastante em termos de tempo e de dedicação, mas não é sofrimento. Trata-se antes de um tipo de artesanato, de meter as mãos no barro e ver as idéias tomando forma. No meu caso, significa lembrar dos bons momentos na Argentina. A cada página recordo de conversas, aulas, lugares, pessoas, livros, instantes.

Teses começam com hipóteses, que ao fim quase sempre estão erradas. A distância entre os resultados e as expectativas chama-se pesquisa. Revejo muitos (pré)conceitos sobre a política argentina. Meus e dos outros. Penso nos benefícios que meu texto poderá trazer ao debate: aproximar a discussão brasileira do ambiente intelectual argentino, chamar a atenção para pontos que passaram desapercebidos.

Não invento a roda. Não caminho sozinho. Minha pesquisa se insere no conjunto mais amplo de acadêmicos, no Brasil e na Argentina, como os amigos do Observatório Político Sul-Americano. As conversas com os alunos, os debates após as palestras que tenho dado com freqüência. Trama de complementações, reflexões, provocações, conspirações.

A tese também é janela, desculpa para mergulhar no vórtice argentino. A ditadura e a resistência a ela. As relações entre civis e militares. O pensamento sobre o declínio do país. A força da memória histórica. As coalizões políticas que implementaram o neoliberalismo na América Latina. As condições que permitem às idéias virarem agendas políticas. Altos e baixos do processo de integração regional. A grande crise de 2001. A ascensão dos movimentos sociais. O novo cenário de lutas e conflitos do governo Kirchner.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Teses começam com hipóteses, que ao fim quase sempre estão erradas".

Hehehe. Isso é que é uma descrição realista do processo científico...

Boa sorte com a tese.

Maurício Santoro disse...

É mais autobiografia intelectual do que descrição do método científico, mas acho que a história se aplica a muita gente...

Abraços

Sergio Leo disse...

Assino embaixo. E estou curiosíssimo, caro Santoro.

Maurício Santoro disse...

Meu caro Sergio,

sigo trabalhando, e duro, na tese, mas é muito legal ver o quanto o processo todo é um diálogo, como há troca de idéias e o interesse das pessoas pelo tema. Adiante!

Abraços