sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Bush na África


Ao longo desta semana George W. Bush visitou cinco países africanos (Benin, Tanzânia, Gana , Ruanda e Libéria) numa viagem para divulgar o programa anti-AIDS na África e no Caribe que é provavelmente sua mais bem-sucedida iniciativa de política externa.

O programa lançado por Bush reuniu cerca de US$19 bilhões para combater AIDS e malária (as duas doenças aparecem bastante associadas na África, com a tuberculose completando a trindade do mal). A estimativa é que cerca de um milhão e meio de pessoas tenham passado a receber remédios contra a AIDS e foram obtidos avanços muito significativos em áreas-chave como transmissão de mãe para filhos.

Um dos objetivos da viagem africana de Bush é conseguir do Congresso americano apoio para ampliar o programa para incríveis US$50 bilhões ao longo dos próximos cinco anos. Essa é uma tendência forte na política externa americana: a ajuda para os países africanos dobrou desde 2000.

As razões para o aumento dizem respeito à segurança e à economia. Uma série de líderes políticos e de acadêmicos têm chamado a atenção para os riscos que a epidemia de AIDS na África coloca para a estabilidade política do continente. Há temores generalizados de que esses problemas acabem afetando os países ricos, pelo terrorismo ou pela migração. O Conselho de Segurança da ONU realizou até uma sessão especial sobre a AIDS, para demonstrar internacionalmente o impacto da doença. A África também se tornou mais importante para os Estados Unidos em função da corrida contra a China pelo controle de seus recursos naturais, como petróleo e minérios.

O programa anti-AIDS de Bush foi construído como consenso bi-partidário, mas pagou um alto preço ao credo ideológico dos setores mais extremados do Partido Republicano. Os problemas se concentram em duas exigências para que os países africanos recebam a ajuda:

- Promoção de programas de abstinência sexual e de fidelidade conjugal
- Proibição de repasse de verbas a instituições que trabalhem com prostitutas

O primeiro item não é propriamente o comportamento sexual mais comum da humanidade. O segundo exclui um dos principais grupos de risco afetados pela doença. É um forte contraste com o excelente programa brasileiro de prevenção à DST/AIDS, exemplo de política pública formulada com participação social. Especialistas também apontam que a iniciativa de Bush pode ter efeitos contraproducentes perversos, como impulsionar a rejeição ao uso de preservativos.

Nesta jornada africana, Bush visitou países relativamente estáveis, com um bom histórico de democratização e de afastamento de tragédias passadas. O presidente americano foi criticado por não ir aos locais de crises humanitárias, como o Sudão, a República Democrática do Congo e o Quênia. Talvez por isso Bush tenha parecido tão pouco à vontade nas entrevistas de TV (sua performance na foto acima fica a cargo de cada leitor). Ou, quem sabe, esteja pensando no que acontecerá se o próximo presidente dos EUA for filho de um africano...

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