segunda-feira, 26 de julho de 2010

Crescente e Estrela



Semanas atrás chegou um pacote de livros sobre Oriente Médio que eu havia encomendado na Amazon e um dos mais interessantes nessa leva foi “Crescent and Star: Turkey between two worlds“, do jornalista americano Stephen Kinzer, que chefiou a sucursal do New York Times na Turquia. Se você está interessado nas mudanças recentes desse importante país, é o livro ideal – certifique-se apenas de que comprou a 2ª edição, atualizada, que incorpora as análises sobre as transformações ocorridas a partir da década de 2000.

A República turca foi fundada sobre os escombros do império otomano, pelo bem-sucedido general Mustafá Kemal, que derrotou as forças de ocupação ocidentais. Ele depôs o sultão e reconstruiu o país em bases seculares, num dos mais impressionantes esforços de modernização do século XX. Em grande medida, alcançou seus objetivos: a Turquia é uma nação bastante dinâmica do ponto de vista econômico, uma potência emergente que em nada lembra o “homem doente da Europa”, como era chamada a velha monarquia otomana.

Contudo, o Estado refundado por Kemal tinha problemas sérios. O guardião do caráter laico do poder público era o Exército, que exerceu uma tutela autoritária sobre a sociedade. Após a Segunda Guerra Mundial, a frágil democracia turca sofreu uma série de golpes militares, sobretudo quando as Forças Armadas acreditavam que um determinado líder político queria implementar leis islâmicas no país. A eclosão da Revolução Iraniana só tornou esses medos ainda mais agudos.



A partir da década de 1990 a Turquia realmente se democratizou, movida pelas pressões de sua classe média em ascensão e pelo desejo de se integrar à União Européia. O processo nunca foi fácil nem rápido, sofrendo muitos obstáculos. Além dos conflitos religiosos, a longa rebelião dos curdos no sudoeste do país resultou em horrendas violações aos direitos humanos. Tragédias anteriores, como o genocídio dos armênios durante a I Guerra Mundial, tampouco foram resolvidas.

Os últimos anos, sob o governo do partido Justiça e Desenvolvimento (AK) foram revolucionários em dois aspectos. Primeiro, pelos esforços do primeiro-ministro Recep Erdogan em estabelecer uma linha política que incorpore o islamismo moderado à vida pública turca. Segundo, pela guinada diplomática da Turquia, de voltar a privilegiar os laços com os vizinhos no Oriente Médio e no Cáucaso.

Kinzer é um entusiasta da Turquia, que ele chama de “o país mais interessante do mundo” e seu carinho pela cultura local é evidente no livro. Ele se mostra simpático inclusive ao AK, embora permaneça cético quanto à nova diplomacia turca. Curioso, uma vez que a Turquia tem fortes tradições e vínculos com a região vizinha, e faz todo o sentido que ela seja importante, ainda mais dadas as crises constantes na área e o fortalecimento da economia.

5 comentários:

Mário Machado disse...

Dr,

Compre um belo pé de arruda, algumas espadas de são jorge, várias espécies de pimenta. Pq a inveja que tenho da sua biblioteca é grande.

Abs,

Maurício Santoro disse...

Ha ha ha... Não se preocupe, porque ela está sempre diminuindo, tem literalmente dezenas de livros dela emprestados com alunos, orientandos, amigos, curisosos e etc.

Abraços

Mário Machado disse...

As bibliotecas têm mesmo essa faceta que poderiamos chamar de "lei dos rendimentos decrescentes"..rs...

Marcelo L. disse...

prezado Mauricio, é bom essa série de resenhas (sobre turquia melhor ainda)...

Tem aqui um bom artigo sintético do OMER Taspinar sob a política externa turca...

http://www.todayszaman.com/tz-web/yazarDetay.do;jsessionid=D150309B231F9DEC8B1D23CDE0A3FD99?haberno=217860

PS: Daniel C. Kurtzer colocou um tempo para as pessoas se preparem para nova guerra de Israel no Líbano...Sorrym nas Obama é Bush com melhor spin...

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

Tenho acompanhado as tensões entre Israel e Líbano - nesta semana mesmo tivemos mais mortes na fronteira - e estou pessimista. Acho que vem outra guerra pela frente.

Abraços