segunda-feira, 11 de outubro de 2010

As Guerras do Câmbio



A inflação aleija, mas o câmbio mata.
Mario Henrique Simonsen, ex-ministro da Fazenda do Brasil

O dólar é nosso, o problema é de vocês.
Do secretário do Tesouro de Nixon para seus homólogos europeus.

Nas últimas semanas, nas conversas com jornalistas estrangeiros sobre o Brasil, um tema que surgiu com força foi a questão do câmbio, em particular as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o mundo vive uma “guerra monetária”, na medida em que diversos países agem para defender suas moedas diante da apreciação exagerada diante do dólar e do Yuan chinês subvalorizado, o que prejudica a competitividade internacional de muitas nações.

Uma das repórteres com quem conversei estava curiosa em por que o tema não era mais destacado na campanha presidencial. A pergunta é boa, afinal nos últimos meses o real se valorizou cerca de 40% com relação ao dólar, sobretudo em função de duas causas: 1) A combinação brasileira entre baixo risco-país e altas taxas de juros; 2) O processo de capitalização da Petrobras. Combinadas, significam a entrada de grandes volumes de recursos estrangeiros no país, apreciando a moeda.

O governo tenta lidar com o problema. O Imposto sobre Operações Financeiras cobrado do investimento externo aumentou de 2% para 4%, e o Tesouro foi autorizado a comprar maiores volumes de dólares, numa tentativa de conter a valorização do real. Me parece que a melhor análise do tema veio do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga: a maneira de enfrentar a questão é a melhoria da situação fiscal, de modo a permitir a redução dos juros.

Disse à jornalista que o tema cambial não era tão discutido na campanha porque o real sobrevalorizado prejudica os exportadores, mas é uma visão do paraíso para a classe média. Tenho tantos alunos passando férias na Europa ou nos EUA que minhas salas de aula chegam a apresentar grandes espaços vazios! Quanto a mim, tenho comprado tantos livros na Amazon que devo ser o responsável por boa parte dos problemas da balança comercial brasileira. Que meus amigos e ex-colegas no MDIC me perdoem!

Os problemas enfrentados pelo Brasil são comuns a muitos outros países, às voltas com acontecimentos fora de seu controle – um dólar declinante e a relutância chinesa em apreciar sua moeda. O que se pode fazer, à falta de maior cooperação monetária internacional, são medidas locais para amenizar as dificuldades. A persistir a crise global, imagino que em breve serão necessárias medidas mais rigorosas das instituições multilaterais. Mas como conseguir o consenso, se mesmo a tão integrada União Européia esbarra na cautela alemã em desvalorizar o euro, em detrimento do equilíbrio comercial dos parceiros mais pobres, como a Grécia? Afinal, ao contrário do auge do sistema de Bretton Woods (1944-1971), não temos um país hegemônico capaz de impor as regras que garantam a boa governança mundial.

3 comentários:

Mário Machado disse...

Há outra questão sem importados baratos seria impossível para o Bacen manter a inflação dentro da meta.

Dias desse saiu um excelente artigo sobre isso no Correio Brasilienze.

marcelo l. disse...

Prezado Mauricio,

Taí um tema complicado, mas vc é gestor público e sabe que que é impossível hoje em dia diminuir os gastos públicos por uma razão singela, por que o Estado precisa hoje em dia cumprir a lei e oferecer ao cidadãos vários serviços.

Por que não se discute na campanha é simples só ver as promessas e os estudos que se fazem para campanha...fico por aqui...

E economizar pode tirar não é no executivo e sim em algumas autarquias (como o próprio BC), judiciário (2 instância e superiores) e legislativo.

Mesmo no judiciário, os gastos exigidos na 1 instância praticamente comeria todo o dinheiro economizado e ainda precisaria de mais.

Eu sinceramente acho que a meta brasileira está fora da realidade a anos, já deveria ter passado para 5% ao ano, por que existe sim uma inflação mundial e o crescimento gera demanda...é melhor 0,5% de inflação que vai ocorrer mesmo do que ter 2% a mais na taxa de juros que no fim só gera sacrifício.

No fundo é marcha da insensatez que governa o debate, ninguém tem coragem de colocar isso por que parece que estão dizendo que aceita-se trocar inflação por crescimento...o que não é a verdade só ver as duas taxas em qualquer país que tem o mesmo crescimento que o Brasil ou maior e analisa-las.

Todos terão inflação real maior que a nossa e juros menores...por isso não discute-se em campanha é mais fácil falar em cortes que você sabe é muito difícil sem comprometer os serviços básicos que em muitos casos já são precários.

Abs

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

Bem lembrado, ajuda mesmo. É comum ouvirmos que a entrada da China e da Índia como exportadoras globais foi fundamental nessa pressão anti-inflacionária.

Caro Marcelo,

É fato, mais de 90% do orçamento do governo federal é composto por despesas obrigatórias (como pagamento de salários ou aposentadorias) ou determinadas constitucionalmente em saúde e educação. Sobra pouco espaço para mudança.

Mas acredito que há melhores possibilidades na política monetária do que o formato tão rígiido adotado atualmente.

abraços