sexta-feira, 18 de março de 2011

A Visita de Obama



Obama havia criado grande expectativa em torno do discurso que faria em praça pública, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. A decisão repentina de cancelá-lo, substituindo-o por um evento fechado no Theatro Municipal, é um desastre de relações públicas. Alimentou o imaginário da população apenas para frustá-lo.

O fato mais importante sobre a visita do presidente americano, Barack Obama, ao Brasil é a própria visita, um sinal de que os dois governos querem reaproximar-se após as fricções dos dois últimos anos, que culminaram na divergência sobre o programa nuclear do Irã. Existe espaço para maior cooperação entre Obama e Dilma, quando mais não seja porque o Brasil é um interlocutor global importante para os Estados Unidos, num cenário de declínio de seus aliados tradicionais (União Européia, Japão) e ascensão da China. No entanto, dificilmente a passagem do presidente americano por terras brasileira resultará no anúncio de alguma grande conquista. O mais provável é que as mudanças levem tempo.

O desafio de Obama é superar o padrão histórico das divergências entre os dois países - Brasil em busca de reconhecimento e apoio dos EUA à sua agenda internacional cada vez mais abragente (que às vezes preocupa Washington por posições autônomas no Oriente Médio, África etc) e os Estados Unidos à procura do auxílio brasileiro em suas empreitadas regionais na América Latina, quase sempre recebidas com pouca simpatia em Brasília (livre comércio, militarização do combate ao tráfico de drogas e ao terrorismo, modo de lidar com governos de esquerda em Cuba e na Venezuela etc).

No campo político, a principal especulação é que Obama possa anunciar o apoio à candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU, como ele fez em sua viagem à India, em 2010. Não há sinais de que isso vá ocorrer. As declarações mais recentes da secretária de Estado, Hilary Clinton, são de que os EUA querem o "engajamento construtivo" sobre o tema com o governo brasileiro, "durante e após" a visita presidencial. É um avanço com respeito à postura dos mandatários anteriores, que não quiseram debater o assunto (Bill Clinton) ou afirmaram "não se opor" às ambições brasileiras (Bush).

A crise econômica e a fragilidade do Partido Democrata, ainda abalado pela derrota eleitoral de novembro (a pior em 60 anos) impossibilitam concessões nessa área, apesar das muitas queixas brasileiras pelos subsídios agrícolas americanos e os contenciosos com etanol, algodão, suco de laranja e carnes. Obama segue em seu esforço de vender os F-18 para a Força Aérea Brasileira mas não há sinais de que iria garantir a transferência de tecnologia, até porque isso depende do apoio do Congresso.

6 comentários:

Mário Machado disse...

Acho que todas aquelas janelas deixaram o serviço secreto nervoso.

Agora se eu fosse presidente americano eu não iria a teatros.

Abs,

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

Pelo rumo dos acontecimentos, me parece que o governo americano ficou com medo de constrangimentos (como vaias) ou mesmo protestos violentos depois da decisão de atacar a Líbia. Faz sentido, mas de certo modo torna Kadafi o relações públicas de Obama...

abraços

Alessandra Baldner disse...

Acho que foram as duas questões associadas (segurança e protestos devido ao ataque à Líbia)o motivo da mudança de local de discurso. E ainda houve aquela história da foto do Eduardo Paes com o sósia do Osama Bin Laden no jornal O Dia... Rir ou chorar?

Abs
Alessandra

Maurício Santoro disse...

De rir, Alessandra. Assim como o prefeito Paes tirando foto com celular, ao lado de Obama e do filho, como se o presidente americano fosse a Xuxa.

Abraços

Mário Machado disse...

Foi de rir, da cara do Paes. Compostura e postura homem.

Alessandra Baldner disse...

Pensando bem, foi de chorar de rir! O Paes tirando fotos do Obama com celular deu a sensação de estarmos assistindo a uma tentativa de comédia pastelão. Que papelão, hein! kkkk