quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A Turquia e o Genocídio Armênio


Quem hoje em dia fala dos armênios?
Hitler para seus generais, segundo Samantha Power, em “Genocídio

Nesta semana o Congresso dos EUA aprovou resolução condenando o genocídio que o Império Otomano realizou contra sua minoria armênia, durante a I Guerra Mundial. A decisão enfureceu a Turquia, que retirou seu embaixador dos Estados Unidos, queixando-se da intromissão estrangeira num assunto que diz respeito a sua história. A crise diplomática vem em momento particularmente sensível, pois as forças armadas turcas iniciaram ataques ao Iraque, contra os curdos, apesar dos pedidos americanos para que não o fizessem.

A Turquia negocia para entrar na União Européia e um dos temas que mais dificultam seu acesso ao bloco é exatamente o péssimo nível de respeito aos direitos humanos. Isso inclui a recusa do governo turco de lidar com o turbulento passado de perseguição étnica e religiosa aos armênios e cristãos, e também a violência cometida atualmente contra a minoria curda. Como os curdos são um povo sem Estado, espalhados por vários países do Oriente Médio, o problema se torna automaticamente internacional.

Como único membro da OTAN no Oriente Médio, a Turquia tem grande importância para a estratégia de segurança dos Estados Unidos. Bush condenou a resolução congressual afirmando que a questão deveria ser decidida pelos historiadores, não pelos políticos. Bobagem. Há muito o genocídio dos armênios é considerado caso clássico desse tipo de crime e o debate a respeito do tema na Turquia é inteiramente censurado pelo governo. Classificar os massacres dos armênios como genocídio viola o artigo 301 do Código Penal turco, e mesmo um homem de tanto prestígio como o escritor Orhman Pamuk, Nobel de Literatura de 2006, foi processado por falar sobre o tabu.



O voto no Congresso dos EUA foi motivado por eficiente ação do Lobby armênio naquele país (na foto, armênios lembram o genocídio) e aumenta o eco de resolução semelhante adotada pela Assembléia Nacional da França e ao monumento que será construído no Reino Unido. A própria presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, foi eleita por um distrito onde é forte a presença de imigrantes dessa nacionalidade. Naturalmente, é mais uma maneira do Partido Democrata incomodar o governo republicano, pois agora Bush terá que apaziguar os enfurecidos turcos, que ameaçam criar problemas para a logística das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.

Por falar em genocídio, vocês conhecem algum louco que passaria as férias na Sérvia?

Bem, há meu irmão...

3 comentários:

Patrick disse...

Vi o blogue do teu irmão, muito interessante. Mas discordo da sua avaliação sobre a Sérvia ("confesso meu repúdio forte a esse país"). Morei na Espanha e é um país fantástico, principalmente por ser tão parecido ao nosso. Tinha dois colegas na escola, um era filho de um dirigente do PNV (partido basco) e outro era filho de um simpatizante da Falange de las Jons (grupo fascista). Um era o melhor amigo do outro. O clima no país, entre as pessoas, era esse e creio que continua sendo assim. Mas tenho certeza que se as regiões autônomas declarassem independência e fossem reconhecidas por Alemanha, França e EUA, os radicais tomariam o poder (provavelmente em todos os lados) e a violência não ficaria muito distante da que se viu na Iugoslávia.

Maurício Santoro disse...

Patrick,

o comportamento da Sérvia é inaceitável diante de qualquer circunstância política, foram crimes contra a humanidade ainda mais graves do que os cometidos durante a Guerra Civil Espanhola. Os massacres franquistas foram horrendos, mas nem mesmo os falangistas criaram campos de extermínio étnico como os sérvios.

O ponto é que na Espanha havia as questões nacionais (Bascos, Catalães) e a disputa política entre esquerda e direita.

Na Iugoslávia o que vimos foi uma guerra onde o que estava em jogo era a questão nacional e onde os sérvios esposaram uma versão particularmente assassina e virulenta do nacionalismo, em suas relações com Croácia, Bósnia e Kosovo.

Se os sérvios são assim tão legais, por que todos os povos que convivem com eles querem saltar fora?

Patrick disse...

Note, Maurício, que em nenhum momento do meu comentário eu disse que o comportamento nacionalista da Sérvia foi aceitável ou que eles são legais. Não é a toa o ditado "o nacionalismo é o último refúgio dos canalhas". Mas não caio no que, desde o meu ponto de vista, é um erro, qual seja, o de atribuir essa característica negativa de modo inato a um determinado país ou povo. Basta lembrar os exemplos da Alemanha e do Japão. Este é o ponto em que, respeitosamente, manifesto minha discordância.