quarta-feira, 9 de abril de 2008

Colômbia: aniversário sem festa



“Cuando fue que el Perú se jodió?”, pergunta Vargas Llosa na abertura de um de seus melhores romances. Podemos repetir a indagação com relação à Colômbia e arriscar uma data precisa: 9 de abril de 1948, o dia em que o líder liberal Jorge Gaitán foi assassinado, detonando um período de conflito político armado que mesmo hoje, 60 anos depois, ainda não terminou. O link leva para excelente especial do jornal colombiano El Tiempo.

A Colômbia compartilha com os demais países latino-americanos história de desigualdades, pobreza e Estado frágil, embora esteja longe de ser a pior colocada nessas categorias. Há muitas discussões sobre por que a violência floresce com tanta força entre os colombianos e não, por exemplo, no Paraguai ou na Bolívia. Uma das respostas diz respeito ao tipo de estrutura política se gerou por lá, com intensa polarização entre dois partidos muito fortes e enraizados na sociedade, Liberal e Conservador. Leia os romances de García Márquez (em especial “Cem Anos de Solidão” e “Ninguém Escreve ao Coronel”) e você verá a longa história de guerras civis entre ambos.

No Brasil, o suicídio de Vargas levou a algumas horas de tumulto e quebra-quebra. Na Colômbia, o assassinato de Gaitán resultou numa rebelião popular, o Bogotazo, que praticamente destruiu a capital. Os distúrbios se espalharam rapidamente à zona rural e se tornaram guerra civil de dez anos que matou cerca de 200 mil pessoas, período conhecido como La Violencia.



A época deixou sementes de ódio e feridas não-curadas que se estenderam no tempo. Após a Revolução Cubana, a cultura do conflito radical que se solidificou no campo se transformou numa série de guerrilhas – FARCs, ELN, EPL – e em movimentos sociais armados, como os indígenas do Quintin Lame. Fora grupos urbanos, como o M-19. Aliás, um dos efeitos inesperados do Bogotazo foi a influência que teve sobre Fidel Castro, então líder estudantil. Ele estava na Colômbia para a cúpula da OEA e se juntou aos distúrbios saindo de lá bastante entusiasmado com a excitação da luta armada.

Não há muito o que comemorar na Colômbia de hoje, na guerrilha sem fim das FARCs e nos escândalos de corrupção envolvendo os paramilitares e o Congresso. O aniversário da morte de Gaitán e do Bogotazo será sem festa.

Pós-escrito: dica do Márcio Pimenta. Nesta quarta, às 21h, o History Channel exibirá um documentário sobre o Bogotazo. O canal tem tradição de ótimos programas sobre a Colômbia, portanto, vale a pena conferir!

3 comentários:

Anônimo disse...

Mauricio,

Recomendo, para quem tem TV a cabo, o documentário "Bogotazo" que irá ao ar hoje pelo History Channel.

Abraços!

Maurício Santoro disse...

Caro Márcio,

obrigado pelo dica, vou colocar um pós-escrito no texto avisando aos leitores.

Abraços

Anônimo disse...

Mauricio,

Cortei e colei a frase abaixo do Luis Nassif, tenho por mim que a muito ocorre esse fenômeno de uma nova classe que emergiu das privatizações que tem interesses com a antiga elite rural e essas duas hoje forçam a discussão para um radicalismo, conseguindo enfraquecer tanto setores industriais do lado patronal, quanto da classe trabalhadora, fizeram uma agenda de desindustrialização que vemos tomar conta do nosso continente. É isso mesmo?


"Há uma nova elite que emergiu das privatizações. Têm a elite rural (que tem voz mais ativa que no Brasil). E uma aliança, que pegou fogo, entre a mídia tradicional cartelizada (basicamente em torno do El Clarin) e uma ultra-direita minoritária, porém vociferante, tentando a todo custo desestabilizar o governo". Nassif
PS: Sei que não é local mais correto, mas não encontrei outro.

Marcelo Luiz