quarta-feira, 16 de abril de 2008

O Ataque aos Biocombustíveis



Uma das conseqüências da crise dos preços dos alimentos é um ataque massivo aos biocombustíveis, que tem deixado o governo brasileiro em posições difíceis nos fóruns diplomáticos. Dependendo da fonte que se utilize, as estimativas são que a produção de biocombustíveis é responsável por entre 10% e 30% do atual aumento da comida, na medida em que as terras cultiváveis são reservadas para a cadeia energética e não para os alimentos.

Há consenso de que isso ocorre no caso do programa do governo americano, que produz etanol a partir do milho, com impactos inflacionários que atingem também a carne de frango e os ovos.

No entanto, é questionável que os biocombustíveis sejam um fator decisivo no aumento do preço do arroz e do trigo, os outros gêneros cujo valor mais cresceu ao longo do último ano.



O governo brasileiro tem se esforçado para provar que o programa nacional, baseado na cana-de-açúcar e em oleaginosas (soja, mamona) não é o vilão que está sendo pintado. Os diplomatas argumentam que preocupações com os alimentos estão sendo usadas para mascarar interesses protecionistas, sobretudo para favorecer programas de etanol a base da beterraba, como o da União Européia. A entrada de um grande competidor no mercado, como é o Brasil, sempre provoca receios e distúrbios.

É da UE que vem a oposição mais ferrenha. Um painel de cientistas que aconselha a instituição fez um apelo para a Europa abandone sua meta de ter 10% de suas necessidades de transporte cobertas por biocombustíveis até 2020. Governos nacionais – Alemanha, França, Reino Unido – anunciaram o cancelamento de medidas de incentivos ao etanol.

Preocupações semelhantes também surgiram na América Latina. O Brasil ficou isolado na conferência regional da FAO, órgão das Nações Unidas que trata de agricultura e alimentação. Argentina, Bolívia, Cuba, Uruguai e Venezuela alertaram sobre os riscos de que a produção de biocombustíveis agrave a situação dos preços de alimentos.

Às preocupações com os alimentos e aos interesses de proteção comercial, se somam os questionamentos ligados ao impacto dos biocombustíveis sobre o Meio Ambiente, em particular pelo aumento do desmatamento e pela queima da cana - a foto que abre o post foi tirada em São Paulo, principal produtor brasileiro.

2 comentários:

Glaucia Mara disse...

Assim como o tema dos transgenicos, o debate sobre biocombustiveis esta se tornando cada dia mais politico e menos tecnico. A alta do preço dos alimentos é uma realidade indicultivel, mas o peso dos biocombustiveis nessa equaçao e ainda muito pouco explicado.Que porcentagem da produçao de cereais ( alimentos diretos ou para alimentaçao animal) esta hoje destinada a produçao de biocombustiveis ? Menos de 1% segundo informaçao da propria FAO. A realidade e que o aumento de demanda por parte de uma cada vez melhor alimentada populaçao na China/ India, e o preço cada dia mais elevado do petroleo ( elemento basico para produçao de alimentos) sao os principais fatores para a elevaçao dos preços.

Maurício Santoro disse...

Olá, Gláucia.

A questão não é o percentual de oleaginosas destinado aos biocombustíveis, mas o impacto da produção energética no aumento do preço das terras, da expansão da fronteira agrícola e, no caso do milho, nas conseqüências diretas sobre o preço de alimentos-chave.

Concordo que a demanda chinesa é mais relevante, o ponto é que o governo brasileiro está sob ataque massivo, e não tem conseguido se defender pela incapacidade de reconhecer que os biocombustíveis também têm seu lado ruim.

Abs