segunda-feira, 7 de julho de 2008

Fale Macio e Lidere a Região



Artigo publicado nesta segunda no New York Times avalia que a estratégia de moderação diplomática do Brasil está rendendo mais frutos em termos de liderança na América Latina do que a prática da contestação freqüente da Venezuela. O texto constata o óbvio: um país com 190 milhões de habitantes e mais de US$1 trilhão de PIB tem muito mais recursos à disposição do que outro com 26 milhões e US$235 bilhões, respectivamente. A imprensa brasileira ficou espantadíssima com a descoberta e o artigo do NY Times foi reproduzido nos principais portais de notícias de cá.

O mais interessante do artigo é contrastar o discurso público de Lula, sempre em defesa de Chávez, com uma série de medidas práticas tomadas pelo governo brasileiro que resultaram na erosão da influência da Venezuela na América Latina. Basicamente, são as grandes iniciativas de articulação política brasileira (como o Conselho de Defesa da região), as ações das empresas do país e a expansão do comércio exterior. Os venezuelanos só tem como contraponto alguns acordos de comércio e trocas de serviços por combustível barato com Bolívia, Cuba, Nicarágua e República Dominicana.

O NY Times afirma que a Venezuela se tornou dependente comercialmente do Brasil, em especial no que toca à importação de alimentos, que cresceu bastante. Nesse ponto, acredito que o jornal se equivocou. A dependência é mútua – sem a expansão das exportações para o país, a balança comercial brasileira estaria em dificuldades ainda mais sérias.

Outro comentário que complementa o artigo do NY Times é a análise do economista e ex-diplomata venezuelano Edgar Otálvora sobre os impactos do resgate de Ingrid Betancourt para as disputas de poder na América do Sul. Ele chama a atenção para a aproximação discreta que está em curso entre Brasil, Colômbia e Peru, resultando em certo afastamento da Venezuela.

Chávez, em uma de suas habituais guinadas, já percebeu que perde prestígio ao atacar Uribe, e voltou a chamar o presidente colombiano de “irmão”. Naturalmente, a mediação do Brasil ajuda.

6 comentários:

Patrick disse...

Seria interessante você comentar alguma das matérias do Eduardo Guimarães sobre a Venezuela.

Maurício Santoro disse...

Olá, Patrick.

Obrigado pela indicação. Não conhecia o blog do Eduardo Guimarães e é interessante o relato que ele faz do cotidiano da Venezuela, se parece com as reportagens que o Luís Nachbin fez recentemente para a TV Futura.

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Interessante artigo. Li as páginas que cita e me chamou muito a atençäo que o NY ressalta que o Chávez e o Lula säo "Mr." e omite que o Uribe é avogado (diz "Presidente Uribe"), como dizendo que a América Latina é governada por pessoas sem educaçäo.
Saludos do sul

Maurício Santoro disse...

Olá, Patricio.

Alguns jornais e revistas de língua inglesa, como o Nwe York Times, sempre tratam líderes políticos como "senhor" e "senhora" mesmo quando eles têm pós-graduação.

Não existe no mundo anglo-saxônico (e nem no Brasil) o hábito dos hispano-americanos de se referir às figuras públicas com sua profissão antes do nome (p.ex., o "engenheiro Di Tella").

Abraços

Anônimo disse...

O que mais me intriga é a postura da imprensa brasileira!! As coisas acontecem aqui e só tem relevância, de fato, quando são analisadas fora da região!! Aff... vai entender!!

Bjs Isabella

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Outra vez falei sem saver muito sobre o tema. Fiz toda uma história de discriminaçäo, etc. (como dizemos na Argentina, "me hice la película") quando todo era täo simple!!!
Obrigado pelo dato.
Saludos

Patricio Iglesias