quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pé na Estrada



Na quinzena passada participei de dois excelentes eventos acadêmicos: a Semana de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e o congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos (LASA, na sigla em inglês) no Rio de Janeiro.

Em Porto Alegre, falei sobre a política de comércio exterior brasileira diante da crise econômica internacional. Os principais impactos foram a queda dos negócios com parceiros tradicionais (América Latina, EUA, União Européia) e a ascensão da China como maior mercado para as exportações do Brasil. Abordei a perspectiva de longo prazo, que desenvolve projetos que miram para além da conjuntura difícil deste momento, como as iniciativas de integração produtiva com a Argentina. Também mencionei novas possibilidades, como as missões comerciais para a África.

Na UFRGS, encontrei um grupo de estudantes empolgados e motivados. Foi um prazer trocar idéias sobre as perspectivas de carreira . Sou bastante crítico do modo como os cursos de graduação de relações internacionais estão organizados no país, os currículos se dedicam em excesso a discussões teóricas ou a temas da agenda global com pouco impacto no Brasil. Sinto falta de abordagens mais práticas. Por exemplo, que ensinem a preparar projetos para a cooperação internacional, como tive que aprender aos trancos e barrancos nos anos em que trabalhei no IBASE. Também há diversas opções interessantes em campos ainda pouco explorados, como os diálogos entre movimentos sociais e as iniciativas culturais.

Foi bom rever Porto Alegre, onde não ia desde o Fórum Social Mundial de 2005. A cidade me traz ótimas lembranças e os estudantes da UFRGS foram anfitriões impecáveis, me levando para conhecer o Museu Iberê Camargo e para tomar um capuccino no café da Casa de Cultura Mário Quintana. Se fosse melhor, estragava.

Alguns dias depois segui para o Rio de Janeiro, onde aproveitei o feriadão no congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos. Excelente oportunidade para rever amigos acadêmicos espalhados pela região, e também pelos EUA, Canadá e Europa. Foram ótimos papos e jantares, e para não dizer que não falei de trabalho, participei da mesa redonda sobre diálogos entre o Brasil e os demais países do Cone Sul, organizada por mestre Idelber Avelar.

Falei da pesquisa sobre a juventude sul-americana, na qual trabalhei no IBASE, e apontei as semelhanças entre os movimentos sociais da região e a necessidade de que os países do continente troquem mais experiências entre si, no que diz respeito às políticas públicas. Aliás, foi muito bom debater com profissionais de altíssimo gabarito da área de crítica literária e antropologia. Os cientistas políticos sempre ganhamos, quando saímos do nosso mundinho.

O Idelber chama a atenção para o aspecto ruim do congresso, que foi o alto custo em participar do evento e os homens de preto que vagavam pelos corredores dando um aspecto policialesco ao encontro. Foi a perda de uma oportunidade preciosa para que os estudantes de graduação do Rio tivessem acesso às discussões mais atualizadas sobre os temas latino-americanos. Pena também que as editoras universitárias estrangeiras não se disporam a vir ao Brasil, impossibilitando a tradicional feira do livro que fez minha alegria no Canadá, no congresso anterior.

Fui a debates muito bons, em particular os que trataram de Cuba. Fiquei impressionado com o alto nível de cooperação e cordialidade existente entre os acadêmicos cubanos e americanos, e me surpreendi com o conhecimento avançado que os pesquisadores da Universidade de Havana tem da política dos EUA. Eram capazes, por exemplo, de listar as distintas correntes diplomáticas que convivem no Congresso daquele país, enumerando os deputados e senadores que defendem cada posição. Também fui a eventos interessantes sobre a situação dos movimentos sociais na Colômbia e com relação às divisões do chavismo na Venezuela. Entre outros temas.

6 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
A cordialidade é um fenómeno regional... por isso no Porto Alegre você foi täo bem recevido! Ha, ha, ha! É a virtude dos pratenses. Ha, ha!
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Pode ser, meu caro :-)

O fato é que há coisas em Porto Alegre que me lembram muito, mas muito mesmo Buenos Aires. E isso é um tremendo elogio!

Abraços

Enzo Mayer Tessarolo disse...

Olá Mauricio,

Em agosto, aqui em Vitória - ES, iremos fazer a II Semana de Relações Internacionais. É uma ideia que está sendo desenvolvida desde o ano passado e que tem gerado bons resultados. Quem sabe um dia você nos prestigie com sua visita também...hehe

Abraços,
Enzo

Unknown disse...

A questão que vc levanta sobre a grade curricular do curso de RI é um problema (se é que podemos chamar de PROBLEMA mesmo). É só vc analisar grades de 3 universidades diferentes. Dificilmente elas serão idênticas. Algumas grades tem um "pé" em Economia, outras em Política, Direito, e por aí vai.

Algumas vezes os alunos acabam escolhendo a universidade pela grade que ela oferece.
Mas esse é o charme do curso.

Carla disse...

Mauricio,

Sobre "projetos de cooperação internacional", qual bibliografia você indica?

Abraço

Maurício Santoro disse...

Oi, Enzo.

Já dei palestras em Vitória/Vila Velha, em duas ocasiões, e com certeza seria um prazer aparecer de novo pela região.

Salve, xará.

Sim, varia muito de universidade para universidade, mas isso é bom, porque mostra que são várias experiências em curso. A questão é acertar um modelo, longo processo...

Carla,

Dê uma olhada no post "cooperação triangular", acho que foi no fim de maio, nele faço algumas referências.

Abraços