segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Depois da Emergência



Se a democracia triunfar no Oriente Médio, haverá alguns demagogos, nacionalistas e fanáticos, assim como nos Estados Unidos e em Israel, e eles podem tornar a diplomacia mais complicada. Mas lembre-se de que foram a repressão, prisão e tortura de Mubarak que alimentaram extremistas raivosos como Ayman al-Zawahri da Al-Qaeda, o braço direito de Osama Bin Laden. Seria trágico se deixarmos nossas ansiedades impedirem nosso abraço da liberdade e da democracia na mais populosa nação árabe.

Nick Kiristof, colunista do New York Times

A transição para a democracia no Egito deu passos importantes no fim de semana, com a realização da manifestação do "Domingo dos Mártires" e a bem-sucedida negociação entre governo e oposição que culminou na abolição da Lei de Emergência, que autorizava boa parte dos poderes ditatoriais de Mubarak. A censura à imprensa também será suspensa, prisioneiros políticos serão libertados e comissões mistas elaborarão emendas constitucionais para regular a nova vida política do país. São conquistas extremamente significativas para as duas semanas de protesto e em comparação com outras experiências internacionais, embora os manifestantes continuem a exigir a renúncia do ditador e seu julgamento pelos crimes cometidos ao longo dos 30 anos de regime autoritário.

As negociações também iluminam pontos importantes das disputas políticas no Egito. O principal negociador pelo governo é o recém-empossado vice-presidente Omar Suleiman, que assim confirma sua posição como representante das Forças Armadas e da estabilidade, em meio aos medos de caos no país. Os jovens egípcios tiveram representação própria, junto aos partidos de oposição, o que comprova o destaque de suas demandas e capacidade de mobilização.

O grande ponto de interrogação é a participação da Irmandade Muçulmana na transição. Kristof argumenta que ela terá pouca influência e cita a experiência do Iêmen, onde os fundamentalistas foram derrotados após breve permanência na coalizão do governo. São bons pontos, mas acredito que ele subestima o conservadorismo religioso de boa parte da população egípcia, em especial na empobrecida zona rural. Em países como o Líbano, a ação do Hezbolá no governo tem sido bem mais perigosa e duradoura. A Economist também entrou bem na discussão, defendendo os partidos islâmicos moderados como a melhor maneira de conter o fundamentalismo.



A revista britânica publicou um ótimo quadro, reproduzido acima, que lista os países árabes de acordo com indicadores internacionais de democracia, corrupção e liberdade de imprensa. O quadro é dramático para as liberdades civis e políticas, onde as regiões melhor situadas - Líbano e Palestina - mal conseguem ficar entre as 100 mais democráticas. Curiosamente, alguns regimes autoritários árabes se saem melhor no tema do combate à corrupção, como os ricos Estados do Golfo (Catar, Emirados Árabes Unidos, Bahrein).

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