segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Brasil e Irã



O Irã é uma potência regional no Oriente Médio e um ator de destaque em vários conflitos locais, no Líbano, Palestina e Afeganistão. É um mercado promissor para o agronegócio. As duas características, somadas, o tornam um interlocutor importante para o Brasil, nesta conjuntura em que o país almeja maior presença no Oriente Médio e que, numa impressionante demonstração de prestígio internacional, recebe em poucos dias três chefes de Estado da região. Contudo, a visita do mandatário iraniano ao Brasil ocorre em péssimo momento: em meio à crescente pressão diplomática contra seu programa nuclear, e logo depois de uma violenta onda repressiva contra seu movimento democrático.

Ao longo do século XX, o Irã sofreu diversas invasões: da Gra-Bretanha, da União Soviética, do Iraque. Os Estados Unidos intervieram de forma brutal em sua política, em particular no golpe de Estado da década de 1950 contra o regime nacionalista que asssumiu o controle da indústria do petróleo. Desde a Revolução Islâmica de 1979, os dois países vivem em conflito. Nos primeiros anos do século XXI, o Irã viu seu vizinho mais importante ser ocupado por exércitos estrangeiros, liderados pelos EUA e pelo Reino Unido. Além disso, o país se envolveu em guerras religiosas, apoiando grupos xiitas no Líbano e na Palestina, e enfrentando Israel em batalhas clandestinas que chegaram até a Argentina. Nesse contexto, não causa espanto que Teerã busque armas nucleares.

Tampouco provoca surpresa que as grandes potências – inclusive Rússia e China - rejeitem esse pleito. O Irã é uma força desestabilizadora numa região turbulenta, seu xiismo militante apavora os Estados sunitas, numa mistura de milenares rivalidades religiosas, culturais e étnicas (árabes contra persas). Seu virulento antissemitismo é recente, em parte fruto da rejeição da Revolução Islâmica aos entendimentos entre Israel e o xá Reza Pahlevi contra inimigos comuns, como o nacionalismo árabe.

O presidente Lula foi cauteloso ao afirmar que o apoio brasileiro ao programa nuclear iraniano está condicionado ao caráter pacífico dessa iniciativa, e ao respeito às normas internacionais. Contudo, nas condições atuais, receber Ahamadinejad significa ajudá-lo a romper o cordão de isolamento que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU tentam construir a seu redor. Indispor-se com os integrantes desse clube seleto não é a melhor maneira de candidatar-se a fazer parte do grupo.



Além do programa nuclear, há a questão das violações de direitos humanos perpretadas pelo governo iraniano, em particular a repressão aos protestos contra a reeleição de Ahamadinejad em 2009. Mesmo que aceitemos as alegações de Teerã de que não houve fraudes na votação, nada justifica as prisões arbitrárias e torturas cometidas pelo regime. A violência foi tão grande que provocou uma cisão na elite do país, com os clérigos da cidade sagrada de Qom lançando uma inédita manifestação contra o governo.

Naturalmente, o Irã não está sozinho em seu autoritarismo. Podemos fazer uma analogia, por exemplo, com o massacre da praça da Paz Celestial na China, em 1989. A diferença é que no caso chinês se trata de uma grande potência, cujo enorme poder dá pouco espaço para questionamentos e negociações. Mas uma relação política intensa com o Irã é uma opção, não uma necessidade. Uma escolha que precisa levar em conta os impactos para um momento em que a política externa brasileira frisa a importância da preservação da democracia em Honduras, onde há o risco de criar um precedente para o retorno do golpismo na América Latina.

12 comentários:

IcaroReverso disse...

sorte na vida e em tua empreitada, icaro.

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Gostei do artigo apesar dos pontos que não concordo, mas o Irã é força estabilizadora e desestabilizadora ao mesmo tempo.
De um lado por ser xiita apoia a luta contra o talibã de um lado, temendo os ocorridos em Herat quando do jugo dos grupo sunita.
De outro no Iraque tem bons contatos no governo, apoia a comunidade xiita, o que o levou a ser alvo de atentados a pouco.
Por outro lado seu xiismo militante apavora as monarquias ou ditaduras sunitas, mas a reciproca é verdadeira as monarquias sunitas também sempre quiseram expandir uma certa visão da suna...principalmente a monarquia ordoxa da Arabia Saudita tanto que boa parte dos terroristas internacionais tem em comum serem sunitas.
Sobre Israel e o Libano a situação é mais complexa...o Partido de Deus nasceu da luta contra o domínio de Israel do Sul do Libano e não da luta fratricida, a milicia xiita que participou da guerra foi a Amal e apesar de tudo não é conhecido nenhum ato de guerra do Hezbolah fora do Libano (se vc tirar os misseis lançados que no começo pelo menos eram para atacar as tropas nas fazendas de Shebbah (território Libanes), a expansão posterior também são entrocamento logísticos em cidades da fronteira do norte.
Quanto a Palestina, a aposta deles não era o Hamas (até por que esse faz parte da Irmandade Mulçumana), mas a força eleitoral levou-os a isso.
A própria guerra fria entre Israel x Irã começa a desenrolar muito mais pela derrota militar do segundo no Sul Libano, quando literalmente abandonam o ESL e recuam para ponto atual da fronteira, houve a pouco outra guerra por causa de dois soldados que pelo visto estavam em território libanes controlado por eles...bem ao norte de Sheba...
Como desestabilidador, o atual presidente vêm da guarda republicana, criada não só pela desconfiança com o exercito, mas uma força que literalmente lançava levas de homens contra um exercito moderno (Iraque) e essa entrada de novos "jogadores" trouxe pertubação no "status quo" dominado até então só por cléricos moderados ou ortodoxos que "repartiar as benesses do estado".

Comparar com Honduras acredito ser complicado qq outro país que não faz parte da OEA, por que o nosso artigo 5 tem muitas das clausulas das convenções e tratados (a bem da verdade muitos são cópias dos da ONU, mas), qualquer escolha ali é ruim, se for rigoroso fia a Turquia como única democracia no Oriente Médio, se for bondoso junta-se o Irã, Israel e Líbano, cada um com seus problemas.

Se for para vender 10 bi (eu dúvido), mas pelo menos um comércio maior vale a pena a visita, afinal o fardo do homem branco sempre foi levar os valores civilizados para Oriente e lucrar com isso...

Marcelo L. disse...

O Irã pode ser ruim e é, mas ali não tem santo, já vimos M. Begin e pessoas do Irgum que participaram e foram condenadas por terrorismo (entre eles o enforcamento do sargento inglês) e limpeza étnica atos condenados "apenas" por Ben Gurion.

Lembrando que em Janeiro antes do massacre de Gaza ninguém acreditava que ele iria ganhar as eleições (claro a dúvidas se ganhou), portanto é de se esperar que em tempos mais calmos, ele suma...e os moderados retornem ao poder, afinal é muito azar coincidir no mesmo ano as eleições em Israel e no Irã.

Abs,

PS: Desculpe pelos erros, mas nem parei para pensar muito.

Helvécio Jr. disse...

Concordo plenamente jogador,

Esse tipo de relacionamento com o Irã é contraproducente e exagerado diante do objetivo brasileiro de conquistar um assento permanente no CS.

Não é irônico a diplomacia do marco aurélio soviético não reconhecer o pleito hondurenho e reconhecer o iraniano?

Direitos Humanos está (por imperativos contitucionais) na pauta da diplomacia brasileira. É lamentável ver isso ser desconsiderado.

abraços!

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

O Hezbolá é considerado o responsável pelos atentados cometidos em Buenos Aires na década de 1990, contra a emabaixada de Israel e contra a AMIA, importante associação judaica argentina.

Naturalmente, os xiitas do Irã não são as únicas forças religiosas do Oriente Médio a apoiar o terrorismo, como você bem lembrou a Arábia Saudita, sunita, é uma das principais financiadoras internacionais.

No caso do Líbano, concordo com você que a principal razão do Hezbolá foi a ocupação israelense, mas após isso o grupo se tornou um participante importante nos conflitos pelo poder no país, com desobramentos internacionais como na guerra recente contra Israel. Cujo estopim teve menos a ver com o sequestro dos dois soldados, e mais com o desejo israelense de tentar derrotar militarmente o Hezbolá antes que o Irã desenvolvesse suas armas nucleares.

Salve, Helvécio.

A ironia da política externa brasileira foi bem compreendida pelos atores internacionais. O país hoje levou uma bronca do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que acusou o Brasil de "dupla moral". Mas esse é meu tema do post de amanhã....

Abraços

Anônimo disse...

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