sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
A Grécia e a Crise da UE
Num primeiro momento, a crise econômica internacional atingiu as empresas européias, agora a turbulência chegou aos governos. A Grécia está à beira de decretar moratória de sua dívida pública e há riscos de que a situação se espalhe para os outros “PIIGS” (Portugal, Itália, Irlanda e Espanha). Ontem a União Européia anunciou o compromisso retórico de ajudar os gregos, mas sem medidas concretas. O mercado financeiro reagiu mal e o euro caiu.
PIIGS é uma brincadeira, talvez de mau gosto, com a palavra inglesa para “porcos”, e a sigla designa os países europeus cujo desempenho econômico tem se destacado por problemas crônicos, particularmente no que diz respeito ao equilíbrio fiscal. São, por assim dizer, uma espécie de anti-BRICs. A crise na Grécia vem de longe e foi exacerbada pela conjunção dos problemas internacionais com o aumento descontrolado dos gastos públicos – o Parlamento grego, por exemplo, dobrou o número de funcionários nos últimos anos, no que foi provavelmente o maior trem da alegria no país desde os tempos de Sócrates e Platão.
A Grécia representa apenas 3% do PIB da União Européia, mas seu caso está sendo examinado como um laboratório sobre como o bloco lidará com crises semelhantes, que provavelmente ocorrerão no futuro próximo. Além dos PIIGS, os combalidos países bálticos são fortes candidatos à falência. Dada a enorme fragmentação institucional da Europa, a maioria dos observadores está cética quanto à possibilidade de uma ação rápida e coordenada que ofereça uma saída aos problemas atuais.
Há relutância do bloco em intervir com muito dinheiro, pelo chamado problema do “risco moral”. A expressão vem do mercado de seguros e descreve o incentivo não-intencional a um comportamento irresponsável. Em bom português: se a União Européia socorrer a Grécia de maneira muito fácil, estimulará outros países a agir de modo descuidado com as finanças públicas, na expectativa de que serão resgatados da mesma maneira. Mas se a UE não intervir, os riscos de disseminação da crise e desvalorização expressiva do euro são grandes.
Alguns comentaristas acreditam que o pacote de ajuda à Grécia deveria vir do FMI. O problema é que o Fundo é comandado por Dominique Strauss-Kahn, o principal rival do presidente francês Sarkozy. A declaração da cúpula da UE anuncia um “papel consultivo” para o FMI, o que na prática deve signficar pouca participação.
A União Européia não é, evidentemente, a única região do mundo desenvolvido a passar por problemas fiscais, como mostra o gráfico acima. Nos EUA, a crise já atingiu os governos subnacionais: 43 dos 50 estados enfrentam problemas desse tipo. A piada corrente é que como a Califórnia é governada por um austríaco, poderia se candidatar ao auxílio da UE...
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2 comentários:
Como sempre, ler seu blog é um previlegio. Sinto uma pontinha de inveja dos que podem disfrutar das tuas aulas.
Falar sobre os PIGS, é o tipo de coisa que a gente detestava quando misturavam toda america latina no mesmo saco.
A governo grego mentiu descaradamente sobre importantes dados economicos, especialamente sobre a divida publica, pensando que de uma hora pra outras as coisas melhorariam e o problema desapareceria. Mas a economia da Europa como um todo nao levanta cabeça.
Aqui na Espanha chega a ser engraçado ver como eles sofrem por uma crise que ninguem entende como começou, e como vai acabar. Pra gente que vem de fora ,é muito facil ver. A economia espanhola estava baseada num setor imobiliario que cresceu feito espuma nos ultimos anos ( media de 15 % anuais desde que cheguei aqui em 2002), sem nenhum fundamento economico que justificasse. A base de especuladores, e gente inocente que comprava pensando que os " preços nunca baixam". E tambem o setor turistico que movimenta a economia mas nao aporta muito mais que trabalho de gente com baixa qualificaçao. Agora estamos com uma taxa de desemprego de quase 20%. Chega a ser divertido ver a quantidade de gente, que esta fazendo as malas e voltando definitivamente pro Brasil. Curioso viver momentos historicos assim em primeira pessoa.
Oi, Glaucia.
Confesso que sinto uma pitada do que os alemães chamam de "Schadenfreude", alegria perversa, ao ver a Europa experimentando tudo aquilo que durante anos foi exibido como sinal da inferioridade dos latino-americanos.
Você está corretíssima ao apontar as principais causas dos problemas espanhóis, lembrando que a questão do emprego sazonal no país, em função do turismo, sempre foi algo complicado.
Vamos aguardar os desdobramentos da crise na UE, mas a tendência é que as coisas piorem um pouco antes de melhorarem...
Abraços
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