Mostrando postagens com marcador televisão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador televisão. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

John Adams



Um aluno me emprestou a minissérie “John Adams”, do canal HBO, uma excelente telebiografia de um dos pais fundadores dos Estados Unidos, que acompanha o período da Revolução Americana e dos primeiros e turbulentos anos de vida independente do país. Adams era um advogado de Boston que foi deputado no Congresso que decidiu pela separação das 13 colônias do Império Britânico, organizou o exército continental comandado por George Washington e serviu a jovem nação como diplomata na França, Holanda e Grã-Bretanha.

Adams é interpretado por Paul Giamatti, excelente ator que retrata o político como um homem atormentado por dúvidas e frustrações, mas capaz de grande perseverança. Fascinante ver as transformações e o amadurecimento do personagem, em especial quando ele é eleito presidente – o segundo, sucedendo Washington – e assume a responsabilidade em manter os EUA fora das guerras napoleônicas.

A série é muito bem-sucedida em mostrar os embates que dividiram os Estados Unidos em seus primeiros anos. Adams era membro dos federalistas, o grupo que defendia um governo central forte para consolidar a independência e fazer frente aos desafios internacionais. O mais destacado de seus integrantes foi o secretário do Tesouro, Alexander Hamilton, que preconizava a criação de um Banco Nacional, que fomentaria o desenvolvimento econômico por meio do lançamento de títulos da dívida pública. Hamilton também escreveu o famoso Relatório sobre as Manufaturas, argumentando pela proteção às indústrias nascentes dos EUA, e um dos autores dos Artigos Federalistas, um clássico da Ciência Política que foi publicado como artigos em jornais, em defesa da nova Constituição americana. Na série, Hamilton é mostrado de modo hostil, como um homem ambicioso e sedento de poder, um proto-ditador.



O contraponto aos federalistas eram os republicanos democráticos (sem relação com o partido atual, que só se formou bem mais tarde, na década de 1850), dos quais o principal expoente era Thomas Jefferson (foto acima, à esquerda, com Adams). Concentrados no sul, viam com desconfiança os planos federalistas, acreditando que expressavam os interesses econômicos do norte e que acabariam por suplantar os impulsos libertários da Revolução. Preferiam uma distribuição de poder que beneficiasse a autonomia dos estados.

A política externa também dividia as duas facções. Os federalistas eram pró-britânicos e afirmavam que os Estados Unidos deveriam deixar para trás a hostilidade à Grã-Bretanha e estabelecer boas relações comerciais e políticas com o império. Os republicanos eram simpáticos à França e apoiavam sua Revolução, que viam como a continuação da experiência americana. Jefferson, o autor da Declaração da Independência Americana, ajudou a Assembléia Nacional francesa a elaborar seu próprio documento-chave, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Numa das frases mais memoráveis da minissérie, ele brinda à Revolução. Adams provoca: “Americana ou Francesa?”. A resposta de Jefferson: “They are one and the same.”

Washington era simpático aos federalistas, mas atuava como mediador entre eles e os republicanos. Nos assuntos externos, seu famoso Discurso de Despedida da Presidência alertava os Estados Unidos para os riscos de alianças permanentes e aconselhava à nação ficar fora das guerras européias, como de fato ocorreu por mais de 100 anos, até o conflito mundial de 1914-1918. É uma bela peça retórica, que não aparece na minissérie, mas o debate sobre o tema está bastante presente em cena.

Há um tema curioso que também não foi mostrado na TV. A primeira onda de sentimento anti-imigração nos EUA ocorreu na década de 1790, e veio justamente do confronto entre os dois partidos. A maioria dos novos imigrantes era favorável ao programa republicano e os federalistas acreditavam que a melhor maneira de manter sua influência era reduzir esse fluxo migratório.

A minissérie tem algumas cenas nas quais os personagens principais condenam a escravidão, mas são momentos passageiros. Omissão curiosa, visto que os embates com respeito ao tema foram uma das principais causas da guerra civil que quase destruiu o país na década de 1860.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Uma Noite em 67 e Dzi Croquettes


Cultura, contracultura e o dinamismo artístico do Brasil durante a ditadura militar. Estes são os temas de dois ótimos documentários recém-lançados: “Uma Noite em 67” e “Dzi Croquettes”.

O primeiro foi dirigido por Ricardo Calil e Renato Terra trata do III Festival da Canção, realizado pela TV Record. Os eventos eram famosos por reunir a nata da então nascente MPB e o de 1967 foi marcado pelo surgimento da revolução do Tropicalismo – um impacto tão grande que ainda hoje inquieta e desnorteia os protagonistas.

O filme contrasta as imagens da época com entrevistas com os principais artistas e organizadores do festival. Hoje são senhores de 60 e 70 anos, mas na ocasião eram inacreditavelmente jovens, levando em conta a qualidade de sua produção artística. Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque tinham pouco mais de 20 anos quando compuseram clássicos absolutos da MPB como “Alegria, Alegria”, “Domingo no Parque” e “Roda Viva”. Já Sérgio Ricardo parece mesmo um moleque, na inesquecível sequência em que quebra o violão e o lança sobre o público, após uma longa vaia.

A platéia vibra, vaia, aplaude e participa de modo fantástico – bem, talvez o auditório da TV fosse o único espaço público para manifestações disponível na ditadura... Com direito aos exageros da época, como a passeata contra o uso de guitarras elétricas. Mas a televisão brasileira parecia muito mais velha. A pompa dos jornalistas e o estilo formal (cantores de MPB se apresentando de smoking, Caetano sendo chamado de "Veloso"!) mostra o quanto a cultura brasileira se transformou. Em grande medida, sob o impacto da contracultura e de movimentos como o Tropicalismo.

É patente a mágoa de Chico Buarque e Edu Lobo porque eram considerados “velhos e conservadores” diante de Caetano, Gil e dos Mutantes, embora fossem todos da mesma geração. A desorientação com os tropicalistas também atingiu a Jovem Guarda – uma das melhores cenas do documentário são os integrantes do MPB4 contando uma conversa com Erasmo Carlos, no banheiro de uma boate onde Caetano se apresentava, e todos confessando não entender nada do que acontecia. E como é curioso ver Roberto Carlos cantando samba, em pleno festival!




Se em 1967 a revolução nos costumes apenas começava, em meados da década de 1970 ela já havia explodido, e é disso que trata “Dzi Croquettes”, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, que faz um retrato afetuoso do grupo que misturava teatro, dança e música e lançou o embrião de uma guinada irreverente nas artes cênicas. Formado por 13 homens, homossexuais, que se apresentavam vestidos como mulheres mas com símbolos de virilidade, as Dzi Croquettes desafiavam esteriótipos e lotaram casas de espetáculo do Rio de Janeiro a Paris. A ditadura levou um tempo até perceber o que ocorria – seus shows não tocavam em temas abertamente políticos, mas eram desafios ao conservadorismo do regime autoritário

Tatiana é filha de um dos cenógrafos do grupo e destaca bastante o aspecto de “grande família”, que permeava as Dzi Croquettes – todos moravam juntos, por exemplo. Há um forte esforço de memória, de lembrar a importância de pessoas como o ator e humorista Wagner Ribeiro e do bailarino e coreógrafo Lennie Dale, um bad boy da Broadway que acabou em Copacabana, apaixonado por Bossa Nova e pela música brasileira - impressiona ver como muitos dos entrevistados choram ao se lembrar dele.

Oito das Dzi já morreram. Quatro por AIDS, um por aneurisma e três assassinados. Mas, curiosamente, a mensagem subversiva e questionadora do grupo se adaptou muito bem à TV, encontrando continuadores e difusores na geração de atores e humoristas formados no teatro do Besteirol – pessoas como Miguel Falabella, Pedro Cardoso, Cláudia Raia, todos entrevistados no documentário. A própria Tatiana foi atriz da Globo, e hoje vive em Nova York e trabalha no mercado financeiro. Talvez seja o caso de inverter o famoso verso de Caetano Veloso: de perto, todos são normais. Dolorosamente normais.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O Grande Cunhado



O humor político na Argentina tem sempre boas iniciativas. A mais recente é o programa “Grande Cunhado”. Trata-se de uma paródia do Big Brother, na qual atores interpretam os principais políticos do país: a presidente, seu marido, líderes da oposição, ativistas de movimentos sociais etc. A lógica da atração é a mesma do programa que ela satiriza, ou seja, os telespectadores telefonam para a emissora e votam em que políticos serão eliminados no paredão.

Segundo o que tenho lido nos jornais – e o correspondente do Estadão em Buenos Aires, Ariel Palácios, escreveu um ótimo resumo do que aconteceu no Grande Cunhado – o desempenho dos atores está excelente, com caricaturas bem-humoradas da vida política argentina.

Como não poderia deixar de ser, a realidade está sempre um passo à frente. O ex-presidente Kirchner teria pedido à emissora que não incluísse sua esposa como personagem do show. Claro que não funcionou, o ponto alto do programa foi um clipe da atriz que interpreta Cristina cantando “Material Girl”, da Madonna (foto). Já o líder piquetero Luis d´Elia (que chegou a ser o equivalente a ministro da habitação, foi exonerado após declarações desastradas defendendo o Irã, cujo governo é suspeito de ter patrocinado uma série de atentados terroristas contra alvos judaicos em Buenos Aires, na década de 1990) fez o oposto, e importunou os produtores para que houvesse um humorista que o imitasse.



E se você acha que o midiático ex-presidente Carlos Menem estaria morrendo de inveja, pode tirar o alfajor da chuva. O próprio fez uma participação no Grande Cunhado, na qual disparou uma saraivada de ataques contra os Kirchner e anunciou sua intenção de voltar a ser candidato à presidência. O programa é humorístico, mas suponho que a declaração tenha sido a sério...

Com tantas emoções, é fácil entender por que o Grande Cunhado bateu o índice de audiência do Big Brother Argentina e analistas políticos de prestígio, como Rosendo Fraga, especulam sobre o impacto do programa nas eleições legislativas que ocorrerão no fim deste mês.

Alguém tem sugestões para uma eventual edição brasileira?

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Leila Diniz


Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz


Rita Lee, Todas as Mulheres do Mundo

Será que é divina a vida da atriz?
Chico Buarque e Edu Lobo, Beatriz


A coleção "Perfis Brasileiros", da Editora Companhia das Letras, publicou algumas das melhores biografias recentes dos grandes vultos da pátria, com ênfase em líderes políticos, como os dois imperadores e Getúlio Vargas. Sempre homens. Portanto, é boa nova a inclusão de uma mulher na série de "Leila Diniz: uma revolução na praia", do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos. Dono de um texto fluente e agrádavel, ele conta a história da moça que fez época posando de bíquini quando grávida e liberando costumes e linguagem. E que inventou aos trancos e barrancos uma nova maneira de ser mulher, num país que tentava avançar em meio a uma ditadura que queria parar o relógio da cultura.

Leila entrou no teatro, cinema e televisão na década de 1960, quando essas atividades estavam na transição de uma ação entre amigos para um negócio moderno. Começou na TV ainda no tempo dos folhetins ambientados em terras exóticas e enredos melodramáticos, à la "O Sheik de Agadir", que não combinavam com seu jeito moleque contemporâneo, de jovem mulher que queria lidar com os homens de igual para igual, e não ficar restrita aos esteriótipos de mãe ou femme fatale. Consta que Janete Clair, que não gostava dela, teria dito que não havia lugar para a moça em uma de suas novelas, pois não estaria disponível um papel para prostituta.



Se Leila cavava um posto com dificuldade na televisão, encontrou um canal mais fácil de expressão no cinema, onde fez mais de uma dúzia de filmes, com destaque para "Todas as Mulheres do Mundo" (de 1966), escrito e dirigido por seu primeiro marido, Domingos de Oliveira. Por meio da história ele fez uma espécie de mea culpa do fim do casamento entre os dois. Na tela grande, o enredo tem final feliz, o que me lembrou o celébre encerramento de Annie Hall, onde Woody Allen afirma que a vida real é tão complicada que ao menos na ficção as coisas precisam acabar bem.

A vida amorosa, sentimental e sexual de Leila causou escândalo na época, mas para os padrões de hoje passaria tranquilamente como capa da Nova, ou quem sabe programa de debates no GNT, para sadia instrução da mocidade. Claro que em 1969 provocaram o risco do colapso da pátria, como na célebre entrevista ao Pasquim, que é uma espécie de canto de guerra da revolução sexual no Brasil. Foi a edição mais vendida do jornal oposicionista.

A bela biografia de Joaquim Ferreira dos Santos nunca coloca explicitamente a pergunta se Leila era feliz, mas o questionamento está lá, implícito. Como na declaração da atriz: “Nós, mulheres, queremos e não queremos ser independentes”. Um dos momentos mais bonitos é seu romance com o cineasta Rui Guerra, com foi casada brevemente e teve uma filha, Janaína, com quem aliás militei no movimento estudantil. A história de amor entre os dois foi diferente dos casos geralmente rumorosos de Leila, e é narrada com sensibilidade numa crônica de Danuza Leão, "O Homem Certo", citada de passagem no livro.

A ditadura perseguiu a atriz e lhe brindou com o chamado "Decreto Leila Diniz", que proíbia manifestações culturais contrárias "a moral e aos bons costumes". Mas Leila ganhou amigos inesperados, como o apresentador de TV Flávio Cavalcanti, um apoiador do regime autoritário, que no entanto a protegeu, oferendo-lhe emprego e até escondendo-a com sua família. Como é bem conhecido, Leila morreu tragicamente, num acidente de avião, em 1972. Ainda não tinha 30 anos. Falecer jovem e bonita é receita certa para se tornar um mito, mas cabe perguntar o que teria sido de sua carreira artística se ele tivesse continuado a trabalhar. Em seus últimos anos de vida já havia atuado em pornochanchadas de gosto bastante duvidoso. Será que teria se transformado numa versão mais bonita de Dercy Gonçalves? Ou teria continuado a se reinventar e apontar novos caminhos às mulheres brasileiras?

Não sei, torço pela segunda hipótese. Mas sem dúvida, Leila Diniz tem uma história de vida bem mais divertida do que a do imperador Pedro II. Já Pedro I, naturalmente, teria adorado o livro.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

À Procura de Gandhi



Ontem assisti a mais um excelente documentário da série “Por que democracia?” - espero que as produções sejam lançadas em conjunto, numa caixa de DVDs ou algo assim. Desta vez o tema foram as desigualdades sociais na Índia, no filme “À Procura de Gandhi”, do cineasta Lalit Vachani.

O diretor refez o percurso de mais de trezentos quilômetros da “Marcha do Sal”, que Gandhi havia conduzido em 1930 para protestar contra o monopólio sobre o produto exercido pela Coroa britânica. A manifestação foi um marco do movimento pela independência da Índia. Vachani percorre o caminho e vai conversando com as pessoas sobre Gandhi, constatando que as idéias de tolerância e não-violência do líder foram esquecidas, ou passaram a ser consideradas incômodas, e em seu lugar surgiu um amálgama de consumismo, individualismo exacerbado (com profunda desconfiança do Estado e dos outros cidadãos) e fundamentalismo religioso hindu e muçulmano. Mas também afloraram novas mobilizações sociais, em particular entre os mais pobres.



A viagem começa em Gujarat, a província natal de Gandhi. A região é governada por Narendra Modi, que incorporou o discurso da modernização e de transformar Ahmedabad, a capital provincial, numa “cidade global”. Ao mesmo tempo estimula o fundamentalismo hindu como maneira de se manter popular. Em sua administração a economia cresceu, mas também ocorreram uma terrível onda de violência religiosa, na qual pelo menos mil muçulmanos foram assassinados e vários outros tiveram suas casas destruídas. A polícia ficou de braços cruzados, enquanto as atrocidades aconteciam.

O cineasta visita alguns pontos célebres da marcha, como a ponte Ellis, onde Gandhi fez um famoso discurso. Agora existe uma favela embaixo da ponte, que está ameaçada de ser despejada pelo governador Modi.

As contradições da democracia indiana também estão presentes na zona rural – não poderia ser de outro modo num país em que mais de 2/3 da população depende do campo para sobreviver. Vachani atravessa as pequenas aldeias por onde Gandhi passou e descobre que os locais onde ele se hospedou foram abandonados ou destruídos, e que muitas de suas estátuas estão trancadas ou escondidas. O momento mais impressionante é a conversa que ele tem com um homem muito idoso, que participou da marcha do sal. Embora ele fale com respeito dos ideais de pacificismo, também mergulha numa diatribe violenta contra os muçulmanos.

Contudo, Vachani encontra igualmente sinais de progresso e melhoria na Índia. A nova riqueza material é palpável, com uma ampla classe média aproveitando os frutos da tecnologia e as maravilhas do consumo.

Ele também se impressiona com a força do movimento dos Dalits, as pessoas que estão de fora do sistema de castas e ocupam a posição social mais baixa na sociedade indiana. Gandhi os chamava de Harijan, os Filhos de Deus, e condenava a discriminação contra eles – posição endossada na Constituição da Índia, que criou programas de ação afirmativa. Hoje o termo Harijan é considerado paternalista e pejorativo, assim como o mais conhecido “intocáveis” e a expressão mais usada é “dalit”, que significa algo como “oprimido”. O cineasta conversa com os ativistas, inclusive um que foi eleito prefeito de seu vilarejo. Naturalmente, o racismo persiste e o ódio é bastante explícito nas entrevistas do filme.

Dica para quem se interessa por Índia e quer conferir uma perspectiva brasileira sobre o país: visitem o sítio do Sergio Leo, que começou a postar sobre sua recentíssima viagem por essa nação.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Os Tudors


Tema: Governo de Henrique VIII

Contém: Relação Sexual, Assassinato, Nudez, Suicídio e Masturbação.



Essa é a etiqueta do DVD e pelo aviso já se entende parte do sucesso da série de TV "Os Tudors". De fato, a história da dinastia é um prato cheio para tablóides de qualquer época e o programa dosa em boas medidas as intrigas sexuais e políticas de um dos momentos mais conturbados da história britânica. No Brasil, a série passa no canal People + Arts, às 22h de quinta-feira.

Os excelentes roteiros são escritos por Michael Hirst, que se baseou nos agéis diálogos de Aaron Sorkin da Casa Branca de The West Wing, e em seu próprio filme sobre a rainha Elizabeth. A imagem clichê de Henrique VIII é a do gordo barbudo, com seus divórcios movidos à decapitação. A série brinca com essas expectativas, mostrando o monarca como um popstar do Renascimento, inteligente, belo e dinâmico. Ele é interpretado pelo galã Jonathan Rhys Meyers, que está muito bem no papel. O problema é sua idade. Supostamente começa a saga com vinte e poucos anos, mas alguns personagens envelhecem à sua volta, enquanto ele se conserva jovem.

Contudo, isso não chega a ser um problema na primeira temporada, que acabou de sair em DVD. Os dez episódios são conduzidos por duas tramas que se intercalam: Henrique VIII se apaixona por Ana Bolena e tenta se divorciar da rainha para se casar com ela; e o cardeal Wolsey - na prática, o primeiro-ministro do rei - arquiteta maquinações para dar um pouco de estabilidade à Inglaterra, numa Europa em chamas pela Reforma protestante e pelas rivalidades entre a França, o Império Hapsburgo e o Papado.

Ana Bolena é um dos papéis mais difíceis que posso imaginar. Como personagem histórica, ela era uma nobre menor, educada nas Cortes dos Valois franceses e dos Habpsburgo austríacos, acompanhando seu pai diplomata. Deve ter sido uma mulher extremamente sofisticada e inteligente, além de bonita. Uma flor exótica que enfeitiçou o rei ao ponto de fazê-lo romper com a Igreja. Na série, ela é vivida pela estreante Natalie Dormer, que tem beleza mas não consegue impor a dimensão do que deve ter sido Ana e a retrata como uma patricinha agitada.



O melhor ator da temporada é Sam Neill, que interpreta Wolsey astuto como um cardeal Richelieu, mas ao mesmo tempo dolorosamente humano e frágil. Consciente de suas fraquezas e frustrado diante do fracasso em seus planos em se tornar papa e da dificuldade de lidar com a demanda de Henrique VIII para casar com Ana. Ele gosta do rei e lhe é fiel até certo ponto - já que cede à corrupção dos franceses, por seu amor ao luxo e aos confortos materiais. A Corte britânica é mostrada como um imenso Big Brother, marcado por disputas constantes, onde todos se vigiam, e qualquer simbolismo ganha força extraordinária, caso mostre proximidade com o rei.

Infelizmente Wolsey sai da série na segunda temporada, mas a excelência na atuação continua com a Igreja: Peter O´Toole dá o show habitual, desta vez como o papa Paulo III.

A série é bem mais centrada nos dramas dos personagens do que no contexto histórico e imagino que alguns espectadores fiquem um tanto perdidos em meio à citação rápida de fatos e personagens cruciais, como os escritos de Lutero e Erasmo, o saque de Roma pelas tropas do imperador Hapsburgo e mesmo Michelangelo que aparece aqui e ali trabalhando nas obras da Basílica de São Pedro.



Em linhas gerais: os Tudor foram a dinastia que governou a Inglaterra entre 1485 e 1603. Sua escalada ao poder começou com Henrique VII, que matou Ricardo III em batalha e se apoderou da coroa. A vitória pôs fim a uma guerra civil de 30 anos, entre as casas de York e Lancaster. Henrique VII pertencia à segunda, mas se casou com uma princesa da primeira.

Seu filho, Henrique VIII, chegou ao trono consciente da fragilidade de sua dinastia e apavorado com a possibilidade de retorno à guerra civil, em particular porque havia nobres com pretensões bem mais legítimas à coroa do que aquelas de sua família. Para garantir a estabilidade ele precisava de filhos homens, legítimos, que pudessem ser seus sucessores. A rainha só conseguiu lhe dar uma menina. Ele teve bastardos com outras mulheres, inclusive com Mary Bolena, irmã de Ana. Mas o imponderável que ronda as paixões humanas mudou o curso da história.

Claro, havia a Reforma. A Igreja da época era um amontoado de corrupção e desordem. A série não foca esse aspecto: os personagens católicos são modelos de virtude, como a rainha Catarina e o filósofo e conselheiro real Sir Thomas More. E os protestantes são retratados de modo ambíguo, mais como oportunistas a serviço do Estado absolutista nascente. Como a série é co-produzida por irlandeses, acho que está aí a explicação...

No fim, Henrique VIII conseguiu um herdeiro legítimo, mas não de Ana. Contudo, foi sua filha com ela - Elizabeth - que logrou a tão sonhada estabilidade e prosperidade à Inglaterra. Nenhum dos descendentes de Henrique VIII teve filhos, o que talvez não seja de espantar, dada a história da família. Mestre Machado de Assis diria que optaram por não transmitir a outros seres o legado de nossa miséria.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Procurando pela Revolução


Já havia escrito aqui no blog sobre a excelente série de documentários “Por que democracia?”, projeto internacional que no Brasil é exibido pelo Canal Futura. Mas foi somente no domingo que consegui assistir ao episódio latino-americano. “Procurando pela Revolução“ é dirigido pelo cineasta argentino Rodrigo Vazquez e aborda a Bolívia nos dois primeiros anos do governo Evo Morales, com ênfase mais do que bem-vinda na mobilização das mulheres indígenas.

A protagonista do filme é Jiovanna, líder de um grupo feminino cujo principal objetivo é a geração de empregos. Ela é uma personalidade em ascensão no Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de Morales, e é eleita deputada na mesma votação que consagra Evo como presidente. A expectativa das mulheres que militavam com ela é que sua atuação no parlamento resolva o problema da falta de trabalho, conseguindo recursos públicos para o programa que desenvolviam com grande dificuldade.

Você pode assistir a um trecho do documentário clicando abaixo:



Jiovanna parece comprometida com a causa das mulheres, mas também está fascinada com sua nova condição de deputada e o documentário a acompanha comprando roupas de luxo num shopping center ou falando com admiração dos colegas “inteligentes e cultos” com os quais convive no parlamento. Simultaneamente, Morales enfrenta dificuldades crescentes com os partidos de direita, incluindo insólita “greve de senadores”, que se recusam a votar projetos importantes para o governo.

Os meses vão passando e as mulheres que trabalhavam com Jiovanna não conseguem entender a incapacidade do governo de responder às suas demandas, o que leva a uma série de acusações e agressões contra a deputada. A situação piora quando sua principal auxiliar cai num escândalo de corrupção, acusada de pedir em dinheiro em troca da promessa de um emprego.

O MAS tem forte vínculo tão forte com os movimentos sociais que seus integrantes preferem defini-lo como “instrumento político” dos grupos populares, e não como partido. Nomenclaturas à parte isso se traduz em grande capacidade das bases em fiscalizarem os dirigentes e cobrarem a fidelidade às decisões coletivas. A relação é retratada de modo bem claro no filme e impressiona a força da mobilização do MAS.



A situação enfrentada pelas mulheres mostradas na história se parece muito com um caso que minha equipe e eu estudamos na Bolívia, só que envolvendo jovens da cidade de El Alto, que exigiam a criação de uma escola de formação de professores. Conseguiram, mas com um número de vagas bem abaixo do que desejavam. Certamente não falta vontade do governo Morales em atender a essas reivindicações, mas a escassez de dinheiro é brutal, e o Estado foi muito fragilizado pelas reformas que se seguiram à hiperinflação do início da década de 1980.

O belo documentário de Rodrigo Vazquez ajuda a entender o que acontece na Bolívia atual, minha única crítica séria é sua obsessão em traçar paralelos entre Morales e Che Guevara. Ora, os movimentos sociais atuais têm sua luz própria, e inovações na organização política deveras interessantes.

domingo, 11 de maio de 2008

Por que democracia?


Televisão e direitos humanos não são expressões que costumo citar na mesma frase, mas em boa hora o Canal Futura exibe a série "Por que democracia?". Trata-se de um projeto internacional que reúne 10 documentários realizados com o objetivo de iniciar uma "conversa global" sobre o tema. Até agora assisti a seis programas e gostei de todos.

O melhor deles é "Por favor, vote em mim" que usa uma pioneira eleição para representante de turma numa escola primária da China como microcosmo dos desafios e possibilidades da construção da democracia no país. As crianças, de 8 anos, são incrivelmente articuladas e falantes, mas a disputa eleitoral é barra-pesada, com direito a manipulações para matar qualquer político clientelista de inveja. Impressiona como os pais se envolvem em todo o processo e estimulam os garotos e competir selvagemente entre si.

Outro destaque do projeto é "Jantar com o Presidente", em que uma ativista liberal se encontra com o presidente do Paquistão e com os líderes tribais da turbulenta fronteira do país com o Afeganistão. A conclusão é que uma ditadura militar pode não ser o pior dos mundos... Uma perspectiva diferente é do filme sobre o Egito, "Estamos Vigiando Você", no qual um grupo de militantes pró-democracia questiona o governo secular e autoritário do país e rejeita sua pretensão de ser a única barreira à ascensão do fundamentalismo islâmico.

O encontro difícil entre o mundo desenvolvido e o desenvolvimento aparece em dois documentários, um que trata da polêmica sobre os cartuns dinamarqueses sobre o Islâ, outro que aborda as torturas praticadas pelas autoridades dos EUA nos suspeitos de terrorismo. Há ainda um filme sobre a Rússia pós-soviética que mostra a força política do novo nacionalismo, que mistura religião ortodoxa, culto ao Estado e desprezo ao Ocidente.

Ainda não vi todos os filmes e estou especialmente curioso para ver os que abordam América Latina, Índia e África.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Roma - Segunda Temporada


Meu irmão me emprestou a caixa de DVDs contendo a segunda (e última) temporada da série “Roma” e assisti aos episódios ao longo desta semana. O primeiro ano contou a saga de dois legionários, Lúcio Voreno e Tito Pulo, em meio à ascensão de Júlio César ao poder. Esta temporada acompanha a descida de Voreno e Pulo ao mundo das gangues romanas, enquanto Otávio, Marco Antônio, Brutus e Cássio disputam o comando da República no caos que se segue ao assassinato de César.

A produção continua espetacular como sempre, mas a segunda fase é uma queda de qualidade com relação à primeira, pela opção dos roteiristas de se concentrarem nas disputas do crime organizado de Roma pelo controle dos bairros comerciais da cidade. Colocar Voreno e Pulo na história foi forçar a mão, eles entram no conflito após bater de frente com um dos líderes do submundo. É difícil imaginá-los resignados a essa vida, em vez de alistar nas legiões de Antônio e Otávio, enquanto a guerra civil estourava pela Gália, Grécia, Egito e Turquia. Além disso, o drama familiar de Voreno descamba num melodrama de má qualidade, que nada acrescente à trama.

O ponto alto da segunda temporada são as maquinações de Otávio para se consolidar como herdeiro de César, a partir do momento em que o surpreendente testamento de seu tio-avô o nomeia filho adotivo. Na ocasião ele era apenas um rapaz de 18 anos, sem muito dinheiro ou experiência política e militar, mas consegue manobrar oponentes muito mais astutos como Antônio e Cícero, basicamente porque eles subestimaram sua dedicação e inteligência. Otávio também se cercou de auxiliares muito competentes, como Mecenas e Agripa, que são mal-retratados na série: o primeiro, cujo amor à arte e à cultura era tão grande que seu nome virou sinônimo de patrono, é mostrado como um playboy cínico. O segundo, um gênio militar, aparece como um rapaz gordinho e tímido com um amor difícil pela irmã do chefe.

Também me desagradou a caracterização de Cleópatra. Ela deve ter sido uma mulher fascinante, para enredar César e Antônio, mas na série parece uma clubber que acabou de sair de uma rave barra pesada. O Egito é representado com todos os clichês de como os americanos atuais vêem um terceiro mundo: uma terra de clima quente, costumes sexuais relaxados e degeneração ética que enfraquece até grandes guerreiros. Daria um bom capítulo extra para o “Orientalismo” de Edward Said.

Não pensem, porém, que desgostei de Roma. Pelo contrário, me diverti muito vendo os 10 episódios, é entretenimento da melhor qualidade. Não consigo dizer três frases sem mencionar a “crise da República” ou fazer algum juramento pomposo em latim. Ainda assim, acho que o tema da Roma Antiga continua a merecer uma visão mais elaborada, em especial no momento em que seus sucessores imperiais estão atolados com o velho reino dos Partas.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Perdidos



Um dos poucos programas de TV a que assisto regularmente é a série “Lost”, já na terceira temporada. Ela conta a história de pessoas cujo avião cai numa misteriosa ilha do Pacífico. Precisam aprender a sobreviver e a desvendar os enigmas do lugar, ao mesmo tempo em que enfrentam os fantasmas do passado. Estão triplamente perdidos: no espaço, nas charadas da ilha e nas suas próprias trajetórias de vida.

“Lost” virou febre mundial, talvez mais pelos seus aspectos misteriosos, como os números que se repetem a todo tempo, em circunstâncias distintas, a natureza da Iniciativa Dharma (que parece uma mistura de projeto científico fracassado e seita mística) e os fenômenos sobrenaturais que ocorrem na ilha. Mas não é isso que me atrai na série – até perco a paciência com tantos segredos. O que realmente gosto são os dramas de cada personagem e a maneira como as histórias se conectam.

Os roteiristas da série usam de maneira primorosa o recurso do flashback. Primeiro, ele quebra a monotopia. Em vez de ficarmos restritos a uma pequena ilha, passeamos por vidas que se espalham por vários países: EUA, Austrália, Inglaterra, Coréia do Sul, Tailândia, França e Iraque, para ficar nos que me vêm à cabeça neste momento. Segundo, as lembranças dos personagens se encaixam maravilhosamente nas situações que enfrentam no cotidiano. Mergulhando em seu passado, somos capazes de entender seus comportamentos, medos, gestos e até frases que gostam de usar. Também é interessante como parte do elenco aparece de coadjuvante nas memórias alheias, iluminando aos poucos as conexões existentes entre eles.

Os episódios se revezam em torno de um elenco principal de cerca de dez personagens. Meu favorito é Sawyer, o trapaceiro sarcástico que tem as melhores falas da série, e que esforça-se imensamente para mostrar que é um individualista, quando na realidade está em busca de sua redenção pessoal. Mas o melhor ator em cena é Terry O´Quinn, que interpreta Locke, o “homem de fé” a quem a ilha oferece uma segunda chance na vida (sim, gosto das piadas filosóficas com o nome dos personagems: Locke e Hume, os empiristas britânicos; Danielle Rousseau, a “boa selvagem”).

Na segunda temporada o tema que dava unidade aos episódios era a eterna disputa entre a fé e a razão, aquela encarnada em Locke, esta no dr. Jack. Ambos lutavam pela influência entre os sobreviventes e discutiam as estratégias para investigar os mistérios da ilha. Não gostei do giro desta terceira temporada, mais focada na luta contra “Os Outros”, que às vezes escorrega para Rambo – quando dei por mim, Locke explodia um submarino! E alguém consegue me explicar a participação do Rodrigo Santoro? Foi só para introduzir os diamantes na ilha? Ele voltará da tumba, a exemplo de certos políticos brasileiros?

Críticas à parte, “Lost” é um marco de uma época em que a TV americana tem produzido ficções mais interessantes do que o cinema do país, revelando talentos e possibilidades (basta pensar em programas como West Wing ou Roma, muito superiores aos filmes do mesmo gênero). No caso de Lost, um de seus criadores foi contratado para reformular a série cinematográfica de Missão Impossível e os principais atores começam a despontar também na grande tela.

domingo, 22 de abril de 2007

Roma



Por conta do trabalho na tese, tenho passado mais tempo em casa. Costumo intercalar a escrita com algum filme na TV a cabo mas nos últimos dias assisti aos DVDs da primeira temporada da série "Roma", co-produção da HBO e da BBC. Eu havia visto os dois episódios iniciais e adorado. O resto só reforçou essa opinião.

"Roma" é ambientada nos anos finais da República, um dos períodos mais conturbados da história daquela civilização. A austera cidade-Estado dos primeiros séculos conquistara um enorme império que se estendia da Espanha à Turquia, mas nesse processo o poder se concentrara nas mãos dos aristocratas e a economia passou a depender cada vez mais do trabalho escravo e do latifúndio. Os conflitos sociais estouraram por toda parte: nobres x plebeus, italianos x romanos, escravos x homens livres... Era questão de tempo até aparecer um homem forte que centralizasse as instituições do Estado. Sila, Catilina e César tentaram, coube a Otávio realizar o feito e se tornar imperador.

A primeira temporada conta a guerra civil entre César e o Senado (na foto, uma animada contenda parlamentar entre os dois partidos), a segunda foca na luta por sua herança política entre seu aliado Marco Antônio e seu sobrinho-neto Otávio. A intriga em Roma é excelente, em particular nos episódios escritos pelo produtor da série, Bruno Heller. Meu favorito é o segundo, no qual César toma a decisão de atravessar o rio Rubicão e entrar na Itália com suas legiões, um crime gravíssimo pela lei romana.

A grande sacada da série é fazer o espectador entrar na história acompanhando dois personagens do povo, soldados da 13a Legião de César. Lúcio Voreno é o centurião exemplar, cidadão-modelo da República, que por seu prestígio junto à tropa é arrastado a contragosto para o esquema de favores e apoios políticos de César, a quem considera um aventureiro perigoso. Tito Pullo é o soldado fanfarrão, amante das mulheres, bebida, jogo e de uma boa briga. Os dois são unidos por uma forte amizade e enfrentam perigos que os levam das guerras na Gália, Grécia e Egito às disputas nas ruas de Roma.

Os conflitos pessoais dos dois soldados - a esposa infiel de Lúcio e a busca de Tito por um amor que preencha o vazio de sua vida - são intercalados com as tramas das famílias nobres de Roma, em particular a guerra de morte travada entre a sobrinha de César, Átia, e a ex-amante do líder, Servília.

As legendas da HBO são cheias de problemas e traduzem errado o nome de alguns personagens históricos (por exemplo, o rígido defensor dos valores éticos da antiga Roma chama-se Catão e não Cato) além de perderem aspectos importantes da trama, como a linguagem vulgar e agressiva dos soldados. Nada que realmente comprometa o produto final, mas poderia ser melhor cuidado.

Anteontem revi "Spartacus", também em DVD, cuja trama se passa cerca de 25 anos antes do início da série. O filme é realmente magistral e emocionante. Da fina ironia dos atores ingleses que interpretam os aristocratas romanos à beleza do enredo romântico, passando pelo épico politico da luta dos escravos. Foi o primeiro filme romano que não tinha mensagem religiosa e se concentrava simplesmente na questão da liberdade e da dignidade. O excelente roteiro é de Dalton Trumbo, escritor que encabeçava a lista negra de Hollywood, acusado de comunista. Ele salpicou referências muito interessantes ao McCarthismo no filme, como o momento em que o general calhorda que persegue Spartacus anuncia ter listas de "cidadãos desleais" em cada cidade da Itália. Genial.