sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Invictus



Dou os toques finais num curso que lecionarei para jornalistas que cobrirão a Copa do Mundo na África do Sul. Por conta disso, tenho examinado ou revisto bastante material sobre o país, e por um acaso feliz na semana passada estreou nos cinemas brasileiros "Invictus", filme que narra como o presidente Nelson Mandela usou o esporte nos esforços para integrar racialmente a África do Sul, logo após a queda do apartheid.

"Invictus" é dirigido por Clint Eastwood - olha ele aqui de novo - um dos heróis deste blog, e é baseado numa história real. Quem conhece a obra de Eastwood não se espanta pela escolha do tema, pois o diretor há muito explora a questão dos ódios raciais em seus filmes. Aliás, "Invictus" reedita e sempre bem-sucedida parceria de Eastwood com Morgan Freeman, que interpreta de maneira brilhante Mandela, caracterizando à perfeição sua postura corporal e sotaque.

O enredo: Mandela está no início de seu governo e precisa enfrentar uma série de problemas sérios: o medo da população branca de que sua vitória represente a vingança contra as atrocidades perpretadas durante o apartheid, a calamitosa situação econômica do país e o aumento do crime. Nesse contexto, ele enxerga na desacreditada seleção nacional de rugby a possibilidade de um símbolo importante.

Nas divisões raciais que predominavam na África do Sul, o rugby era principalmente um esporte de brancos - a seleção nacional tinha apenas um jogador negro - e a população com outras cores de pele preferia, de modo geral, o futebol. Mas como a África do Sul sediaria a Copa do Mundo de Rugby em 1995, um ano após a posse de Mandela, o presidente apostou que o time poderia se tornar a representação da união nacional da qual o país tanto precisava.

Isso foi conseguido por meio de um intenso trabalho político, muito bem narrado no filme, que mostra as negociações de Mandela com a confederação esportiva nacional, para que mantivesse as cores e emblemas oficiais do time, um processo de sedução carismática dos jogadores, convencendo-os de sua importância para a África do Sul, e excursões e atividades sociais da equipe para identificá-la com a população negra e pobre.

Cerca de 2/3 do filme são dedicados a essas questões, apenas a parte final é um tanto tediosa, pois repete os habituais clichês dos dramas esportivos de "unidos venceremos" - a seleção sul-africana foi a campeã da Copa do Mundo. O roteiro também peca por um certo esquematismo nas relações raciais entre os personagens principais, as tensões étnicas na África do Sul continuam muito fortes e mal resolvidas, como era de se esperar após quase 50 anos de apartheid.

Ainda assim, "Invictus" vale a pipoca, quando mais não seja pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre um país que tem tanto a dizer ao Brasil, e que sediará, novamente, uma competição internacional esportiva.

3 comentários:

Mariana Cabral disse...

oooiiii Maurício!!

Ainda não vi Invictus justamente por achar a narrativa do Anthony Peckham muito artificial, maniqueísta... Os roteiros dele são extremamente esquemáticos, como vc bem definiu. Pela mesma razão estou enrolando pra ver Sherlock Holmes, rsrs.

Mas tudo bem, vc me convenceu a ver Invictus. Não pelo nosso querido Clint, sempre irretocável, nem pela atuação de Morgan Freeman, sempre favorito ao Oscar, mas,principalmente, pq eu percebi que não sei absolutamente naaada sobre a Africa do Sul!! :)

um beijo!

Maurício Santoro disse...

Salve, Mariana.

Com Eastwood na direção, é sempre bom ver o que está acontecendo. E tomara que o filme te desperte o interesse pela África do Sul!

Abraços

Rafael disse...

Olá Maurício.

Nunca escrevi aqui mas saiba que este é um dos meus blogs preferidos. Assisti Invictus uma semana após ver Avatar, logo em seguida saiu a lista do Oscar e os vencedores do Globo de Ouro, você não acha que Clint não poderia ganhar dessas disputas? Achei o filme ótimo até nos clichês.

abraço