quarta-feira, 11 de maio de 2011

Copenhague



Tenho um interesse crescente por temas ambientais, em particular aqueles ligados à mudança do clima. “Copenhague –antes e depois”, do jornalista e cientista político Sérgio Abranches, é uma excelente análise da 15ª conferência da ONU a respeito do tema (COP15), que ocorreu em dezembro de 2009, das controvérsias que a cercaram e da difícil transição nas posições brasileiras e dos bastidores diplomáticos do encontro.

Copenhague foi precedida por duas polêmicas. Uma foi a divulgação, por um hacker, de emails roubados a cientistas. A disseminação sensacionalista do material dava a entender que os pesquisadores haviam mentido para exagerar os impactos da mudança climática, mas ao fim, tudo não passou de manipulação de interesses contrários às restrições que a ONU tenta impor aos poluidores. A segunda foi uma misteriosa negociação em Cingapura, envolvendo China, Estados Unidos e o inepto primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Rasmussen, que na ânsia por mediar as disputas lançou suspeitas de que teria fechado um acordo secreto, antecipado.

Não era o caso, mas a COP15 já começou em meio a desconfianças. O cerne é a recusa dos maiores emissores de carbono – China, EUA, Índia e Brasil – em aceitar compromissos obrigatórios em reduzir sua poluição, a exemplo que União Européia e Japão aceitaram com o Protocolo de Quioto. Os países em desenvolvimento querem financiamento e transferência de tecnologia para adaptarem-se às mudanças do clima e aceitam, quando muito, metas voluntárias. As nações africanas e os Estados-Ilha são os mais mobilizados, por sofrerem de modo mais intenso os efeitos das transformações climáticas. Esses impasses não foram superados, nem em Copenhague, nem na COP16, em Cancún, um ano depois.



O Brasil teve a maior delegação da COP15 – espantosas 900 pessoas, entre funcionários federais, estaduais e empresários. Abranches critica bastante as atitudes do governo brasileiro, em especial a postura de Dilma Rousseff, chefe da delegação, que era então ministra da Casa Civil e pré-candidata à presidência. O autor narra vários episódios em que ela agiu de forma arrogante,com pouco conhecimento da complexidade técnica dos temas debatidos, e de como estava mais preocupada com a disputa eleitoral com seus rivais José Serra e Marina Silva, também presentes à COP15.

Contudo, o Brasil teve papel importante na conferência, sobretudo quando o presidente Lula participou para intermediar negociações com China, EUA, Índia e África do Sul. Os chefes de governo saíram antes do fim da COP15, mas ao menos pavimentaram o caminho para o que ficou conhecido como “acordo político”. Não foi um tratado diplomático para substituir o Protocolo de Quioto (que expira em 2012) mas basicamente manteve o compromisso em discutir. Com o tempo, vários países aderiram ao acordo, num resultado melhor do que poderia se esperar na Dinamarca.

Abranches analisa em detalhes a péssima organização da COP15 e as diversas gafes políticas cometidas pelo governo da Dinamarca, mas o bônus saboroso de seu livro é o exame da nova geração de ONGs (mais globais e muito capacitadas tecnicamente) e dos impactos das tecnologias de web 2.0, como blogs e twitter, para a cobertura de tais eventos. Muita coisa boa tem saído daí é bom ficar de olho no que essa turma tem produzido.

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