sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Economia na Primavera Árabe



Em meio à crise européia e à ascensão do G-20, o G-8 mostrou que ainda tem musculatura político-econômica e na reunião que realizou nesta sexta anunciou um pacote de ajuda de US$20 bilhões para Egito e Tunísia, visando a consolidar a transição democrática nos dois países. O valor do auxílio pode chegar ao dobro, com contribuições dos ricos emirados do Golfo Pérsico, que falam até na criação de um banco de desenvolvimento para os povos árabes. As declarações vêm em excelente momento, pois uma vez derrubados os ditadores no norte da África, começam a surgir as demandas por reformas na economia, que muito se ressente da turbulência deste semestre.

No Egito, o turismo caiu quase pela metade, algo gravíssimo numa nação em que 1 em cada 7 empregos depende do fluxo de visitantes estrangeiros. A queda foi provocada não apenas pelos choques entre o regime autoritário e os manifestantes democráticos, mas também pelo receio da escalada de violência religiosa, como os conflitos entre muçulmanos e cristãos coptas, que agravaram-se nos últimos meses.

Na Tunísia, há protestos crescentes com relação à má situação econômica no interior do país e movimentos sociais organizam-se contra empresas européias que investem no setor de gás, por conta de condições de trabalho e desemprego. No Egito, os sindicatos voltaram a se organizar – eles foram importantes no início da oposição a Mubarak, sobretudo no setor têxtil - inclusive na tentativa de recriar os antigos partidos de esquerda banidos pela ditadura.

Em suma, a agenda sócio-econômica ganha força no Magreb e para que a democracia vença a batalha, terá que atender pelo menos em parte às expectativas de melhorias de condições de vida. O cenário é mais complexo no Egito, cuja economia estava em pior estado do que a da Tunísia, e onde há mais interesses a conciliar. Os manifestantes iniciaram um novo ciclo de protestos contra a junta militar que controla o governo de transição, demandando o adiamento das eleições, para que os novos partidos tenham mais tempo para se organizar. Uma votação em poucos meses beneficiaria os poderes constituídos, como os políticos aliados aos militares e a Irmandade Muçulmana, que apesar de declarações em contrário, começa a se organizar como o partido “Justiça e Liberdade”. Supostamente autônomo, ele parece se inspirar no islamismo moderado do “Justiça e Desenvolvimento”, que governa a Turquia há uma década.

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