segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Irã e Israel: cartas na mesa



As ameaças do governo de Israel ao Irã têm aumentado nas últimas semanas com a retórica de bombardeios aéreos caso a república islãmica continue com seu programa nuclear. Não está claro se haverá nova guerra no Oriente Médio e ao menos por enquanto o discurso israelense se encaixa numa estratégia mais ampla de pressões que envolvem também os Estados Unidos e a União Européia. Na terça-feira a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgou relatório que reforça suas afirmações anteriores: o Irã avança em sua pesquisa tecnológica nuclear, inclusive na possibilidade de desenvolver bombas atômicas, mas não há indicações de que esteja empreendendo a construção dessas armas. A divulgação do relatório pela imprensa foi bem mais alarmista do que o documento em si. Para os interessados numa análise mais moderada, o melhor é ler o livro do ex-diretor da AIEA e Nobel da Paz, Mohamed El-Baradei (há edição brasileira).

Um Irã com bombas nucleares estaria protegido de invasões e intervenções militares ocidentais, como as que sofreram Iraque e Líbia – o erro do qual Kadafi mais deve se arrepender foi ter desmantelado seu programa de armas de destruição em massa após o 11 de setembro. Isso provavelmente o tornaria mais ousado em suas ações no Oriente Médio, inclusive pelo apoio a aliados como Síria, Hezbolá e Hamas. O não-reconhecimento de Israel e a negação de que o Holocausto ocorreu tornam a república islâmica ainda mais perigosa aos olhos do governo israelense que traça analogias entre a situação atual e a Europa às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Em 1981 a força aérea de Israel realizou um bem-sucedido ataque cirúrgico contra as instalações nucleares de Osirak, que sediavam o programa atômico de Saddam Hussein. Em 2007, algo semelhante foi feito com a Síria. O Irã é um alvo bem mais difícil, pois os iranianos aprenderam com os erros dos outros e criaram um programa descentralizado, espalhado por seu país. A maior distância geográfica também dificulta a ação israelense. Mas o objetivo dos ataques não seria a destruição do programa, e simplemsente atrasá-lo em alguns anos. Isso é que tem sido feito com sucesso por operações de espionagem, como a implementação do vírus Stuxnet nos computadores iranianos e o assassinato de diversos cientistas.



O Irã é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que o proíbe de desenvolver armas atômicas. Israel nunca o assinou. A Coréia do Norte o fez, e depois se retirou do acordo. Ameaças de guerra e sanções econômicas não tem funcionado e há espaço para a retomada do diálogo diplomático, inclusive com propostas de relançar o acordo proposto por Brasil e Turquia, em 2010, pelo qual o governo iraniano mandaria seu urânio para ser enriquecido fora do país, a 20%, taxa suficiente para seu uso médico, mas não para a construção de bombas nucleares.

Soluções pacíficas têm sempre muitos inimigos, em particular no Oriente Médio, e as potências ocidentais e Israel rejeitaram rapidamente a proposta do Brasil e da Turquia. As pressões internacionais têm fortalecido a linha dura no Irã e há crise entre os aiatolás e o presidente Mahmoud Ahamadinejad, que corre risco de ser deposto. Por estranho que possa parecer, ele é a voz moderada nos debates. Pode-se imaginar o que viria em seu lugar.

7 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Maurício,

O que mais me assusta é que com a crise interna israelense - protestos, decadência econômica, crise política -, Bibi Netanyahu não esteja se criando um bode expiatório radical para seus problemas domésticos. Israel, no entanto, não tem como não ser cruel em um eventual ataque: o país dispõe de grandes contingentes militares, justamente porque quase a totalidade de sua população recebeu treinamento militar e está na reserva, mas é evidente que justamente por isso, aquele Estado não aguentaria uma guerra longa. Precisa bater rápido e para doer. Sobretudo em um gigante como o Irã. Outra variável problemática na história é como o clã Assad poderia usar isso a seu favor, nos mesmos termos, dentro da Síria. Sem dizer, é claro, o baixo interesse russo em ver o Ocidente se aproximando mais ainda do Cáucaso. Essa mistura de crise econômica com interesses baixos de gente pequena já vimos antes, e não deu em nada bom.

abraços

Maurício Santoro disse...

Salve, Hugo.

A crise interna em Israel sem dúvida agrava uma situação regional que já é bastante tensa e no caso de um conflito com o Irã, acredito que os dois países se radicalizariam muito, com as respectivas sociedades se unindo em torno de seus governos.

Uma guerra entre Israel e qualquer outro país seria uma cartada forte nas mãos dos ditadores árabes, reforçaria seu argumento de que seus países precisam de uma "mão forte" para enfrentar ameaças externas. E neste momento de transições democráticas frágeis, seria algo muito, muito ruim.

abraços

Anônimo disse...

Moral da história: não há nada que esteja ruim o suficiente, sempre pode piorar...
Carol

Anônimo disse...

EEUU: mil bases militares nos cinco Continentes.Cerca de 8.000 bombas atômicas. O exército mais poderoso do planeta.

Israel: 200 bombas atômicas. O segundo exército mais bem equipado do mundo.O melhor serviço secreto do mundo: Mossad.
Afirmar que o Irã é perigoso porque estaria construindo uma bomba, é falso, hipócrita, pérfido Na realidade o que objetivam é o petróleo e de novo, como as mentiras que criram para invadir o Iraque, destruir o país e assassinar um milhão de civis, criram via midia subserviente e mentirosa, a histórinha da bomba para ter argumentos e desencadear uma nova guerra. E Israel cumpre seu abjeto papel de ser a voz do dono,na realidade um estado americano encravado no Oriente Médio.
Prefiro o anonimato, pois logo me chamarão de anti-semita.

Maurício Santoro disse...

Anônimo,

Um Irã nuclear é ruim para Israel e para os Estados Unidos, contraria seus interesses. E preocupa também a maioria dos países árabes, em especial a Arábia Saudita.

Para o resto do mundo, é mais um membro no clube atômico, mas a vida segue. Se um país tão instável como o Paquistão e tão ditatorial quanto a Coréia do Norte podem ter armas nucleares... bem, não será o fim do mundo com o Irã.

abraços

Marc Jaguar disse...

Prezado Amigo e Mestre, Mauricio

Considero equivocada a analise feita pelo comentarista anonimo.
Essa teoria conspiratoria que fazem de EUA e Israel os viloes do mundo eh tipica do discurso da nova esquerda radical, aquela que pensa como sendo a " vanguarda do Seculo XIX".
Acredito que o que torna o Ira potencialmente mais perigoso do que qualquer outro pais membro do Clube Atomico eh o fato de que seu presidente, de forma quase que alienada, insiste em fazer a negacao do holocausto e apoia os grupos extremistas, como o Hezbolah e o Hamas, que pregam a eliminacao de Israel como solucao para a causa palestina.

Forte abraco, Mauricio!

Goncalez

Anônimo disse...

OIIII

GALERA DA GUERRA NUCLEAR ...
TUDO E ISSO TUDO PARA QUE SE
CUMPRA AS PROFECIAS BIBLICAS.

VALEU