sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Lula e os Presos Políticos de Cuba



Os presos políticos de Cuba enviaram um apelo ao presidente Lula para que ele interviesse em defesa de seus direitos humanos, aproveitando a visita que faz ao país. Isso não ocorreu. A viagem do mandatário brasileiro coincidiu com a morte de um dissidente, encanador por profissão, que faleceu em decorrência da greve de fome que adotou na prisão. O ex-torneiro mecânico que preside o Brasil deve ter se identificado com o drama, pois usou o mesmo método quando foi encarcerado pela ditadura militar brasileira. À parte as diferenças ideológicas, todos os regimes autoritários se parecem em sua truculência e desrespeito à dignidade básica do ser humano.

Nesta semana comecei a lecionar a segunda versão do curso sobre Ditadores Contemporâneos, agora para o MBA em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. A aula inicial foi justamente sobre Cuba, e comentei sobre os acontecimentos recentes relativos às violações de direitos humanos na ilha, como a “Primavera Negra”, a onda de prisões em massa contra os dissidentes. Mencionei o surgimento do movimento das “Damas de Branco” (foto), formado por mães e mulheres dos presos políticos e fiz a analogia com grupos semelhantes em outros países, como as Mães da Praça de Maio. Citei o escritor peruano Mario Vargas Llosa: “As mulheres são sempre as primeiras vítimas das ditaduras”. Mas talvez possam ser suas opositoras mais ferrenhas e eficazes.

Não é da política externa brasileira criticar países que violem direitos humanos, salvo raras exceções como as condenações ao golpe em Honduras e às tentativas na Venezuela e no Paraguai. Desde que as relações diplomáticas foram reestabelecidas com Cuba, durante a redemocratização do Brasil na década de 1980, nenhum presidente condenou o regime de Havana. A posição brasileira contrasta com as sanções adotadas pela União Européia após a Primavera Negra, e mesmo com as críticas efetuadas por alguns governos na Argentina e no México, embora estas tenham ocorrido como parte de uma estratégia de rejeitar a agenda diplomática terceiro-mundista e reforçar as reformas liberalizantes na economia.

Em sua visita a Cuba, o presidente Lula anunciou financiamento oficial brasileiro para reformar o porto de Mariel. Ironias da história. Trata-se do local por onde partiu uma geração inteira de emigrantes cubanos para os Estados Unidos, na década de 1980. O chamado “êxodo de Mariel” ocorreu sobretudo por razões econômicas e seus participantes hoje são parte importante da comunidade cubano-americana.

A economia de Cuba está novamente em dificuldades, sentindo os efeitos da crise internacional. A escassez de divisas levou o governo a adotar medidas que prejudicaram as empresas brasileiras, como retenção de dólares no país ou simplesmente calote de dívidas relativas a comércio exterior. Tal como na questão dos direitos humanos, o presidente Lula optou por ignorar o problema durante a visita.

4 comentários:

Mário Machado disse...

Lamentáveis e doídas as palavras de Lula. Depois de 7 anos como presidente ele ainda parece falar em nome do partido e não do Brasil.

Esse moralismo de geometria variável (sic) do Brasil que em meu blog chamo de moralismo ad hoc é sem duvida um retrocesso na diplomacia brasileira.

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Lembrei o conhecido incidente na época do De La Rua no qual (com muita razão!) o Fidel chamou nosso presidente "Lamebotas de los yanquis". He, he, he!
Sem dúvidas Cuba deve encontrar o caminho à democracia. Todos temos que ajudar e rescatar o legado positivo do castrismo (educação, saúde, etc.).
Abraços!

Patricio Iglesias

Denny Thame disse...

Nossa que delícia que deve ser esse curso sobre Ditadores Contemporâneos! Vai ter versão paulista?

Maurício Santoro disse...

Salve, Dani.

A Casa do Saber me pediu para preparar uma versão sintética do curso, em apenas uma aula, e a princípio ela seria dada em outras cidades, mas acho que só no estado do Rio.

Mas aguarde surpresas com relação ao curso! ;-)