sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Demissões em Cuba



No início da semana dei uma pequena entrevista à Folha de São Paulo, tratando da nova rodada de reformas econômicas em Cuba. O elemento mais significativo é a demissão de 500 mil funcionários públicos, um número muito expressivo para um total por volta de 4 milhões. O objetivo do governo cubano é estimular a formação de cooperativas e o crescimento do setor econômico privado, de maneira controlada.

Não é tarefa fácil. O setor público concentra cerca de ¾ da população economicamente ativa na ilha. As reformas dos anos 1990/2000 criaram um segmento importante na iniciativa privada, sobretudo na área turística e na mineração. Muitos cubanos trabalham como funcionários de empresas estrangeiras que operam no país em joint-ventures com o Estado, ou então tocam pequenos negócios próprios, como os restaurantes caseiros conhecidos como Paladares.

No entanto, setores importantes da economia de Cuba não passaram por reformas semelhantes. O mais expressivo é a agricultura, e aqui o contraste com a China é marcante. Lá, as reformas econômicas começaram com o que foi, na prática, a privatização das terras comunais, entregues aos camponeses sob diversos instrumentos jurídicos, como contratos com “empresas municipais” que só existiam no papel. Na ilha caribenha, a agricultura ficou em segundo plano e o açúcar – que era o principal produto de exportação – declinou acentuadamente. Cuba precisa importar grande quantidade de alimentos e tem enfrentado más colheitas e escassez de gêneros essenciais, como o arroz.

Transformar os burocratas cubanos em empreendedores e gestores de cooperativas será uma tarefa difícil para o governo de Raúl Castro. Há várias questões em aberto. Por exemplo: de onde virá o financiamento para estabelecer esses negócios? E o apoio técnico? Quais os segmentos econômicos mais viáveis para esses investimentos?

3 comentários:

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Li sobre sobre a reforma cubana, mas me parece levada a um fracasso me lembra a reforma do Mao ou Stalin fracassada...um plano de cima para baixo "sem boias de salvação" para a população que será seriamente afetada.

Vi os discursos, mas procurei metas claras e nada...por isso, ficarei surpreso se não ler notícias no futuro de fome na Ilha.

brunomlopes disse...

Mauricio,

lembre-se que o plantio do açucar está ligada à produção de um dos poucos itens em que Cuba tem competitiva e consegue até exportar - a produção de bebidas alcólicas, e a mais famosa é o Havana Club. É big business, joint venture entre o governo e a francesa Pernod Ricard, e não se mexe em galinhas de ovos de ouro.

E o mesmo acontece com o tabaco, vital para o sucesso do charuto, produzido e exportado por empresas estatais.

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

As perspectivas para a agricultura cubana são ruins, mas não acredito que o país será atacado pela fome, porque há a possibilidade de importar alimentos. O cenário, a meu ver, é a deterioração das contas públicas em função da crise agrícola.

Bruno, caríssimo.

O problema é que, na era do agronegócio, o açúcar cubano não é mais competitivo, nos últimos 20 anos o governo fechou metade das usinas de açúcar.

O tabaco é outra história e continua a ser um negócio importante, com muita presença de empresas estrangeiras.

abraços