quarta-feira, 6 de abril de 2011

Moyano e o Bloqueio ao Clarín



As crises são o oxigênio da carreira política dos Kirchner e à medida que se aproximam as eleições presidenciais na Argentina, é de se esperar que surjam novos conflitos para reforçar a liderança de Cristina sobre o sempre fragmentado partido peronista. A atual rodada de contendas é a etapa mais recente das disputas entre a presidente e a imprensa, em particular o Grupo Clarín. Sindicalistas liderados por Hugo Moyano (foto), cabeça da Central Geral dos Trabalhadores e um dos principais aliados do governo, estabeleram na semana passada um bloqueio para impedir a distribuição dos jornais desse conglomerado de mídia, que de ex-apoiadores dos Kirchner transformou-se em um de seus principais críticos. Moyano havia feito o mesmo em 2009 e o estopim desta vez foi a publicação de denúncias de corrupção contra o líder sindical.

O enfrentamento do governo com o Clarín já resultou numa nova lei de imprensa, feita sob medida para prejudicar os interesses do grupo e dificultar a posse conjunta de jornais, rádios e canais de TV. Em seguida os Kirchner alteraram a legislação sobre filhos de desaparecidos políticos, tornando obrigatórios os testes de DNA para pessoas que as associações de direitos humanos acreditem terem sido roubadas quando bebês – isso porque suspeita-se que o casal de gêmeos que os donos do Clarín adotaram durante a ditadura possam se enquadrar nessa categoria.

O peronismo tem longa história de conflitos com os meios de comunicação, a quem seus ativistas acusam de defender apenas as perspectivas da “oligarquia”, a tradicional elite agrária do país. Perón teve um secretário de imprensa que recebia os repórteres com um revólver em cima da mesa. Os Kirchner não foram tão longe, mas com frequência lançam ataques genérios à mídia, sobretudo quando esta denuncia casos de corrupção no governo ou critica o modo como a Casa Rosada conduz as crises políticas, tais como o enfrentamento com o agronegócio, a manipulação dos índices de inflação ou a disputa com o Uruguai pela construção das fábricas de celulose, que por anos fechou pontes entre os dois países.

A presidente Cristina tem afirmado que o bloqueio à circulação dos jornais do Clarín é uma ação legítima empreendida por movimentos sociais, e não uma decisão do governo contra a liberdade de imprensa. Na realidade, a CGT de Moyano é um dos pilares do apoio ao peronismo e tradicionalmente foi usada pelos líderes do partido para executar represálias contra seus oponentes, como nos choques entre Perón e a Igreja Católica, na década de 1950. E mesmo que os sindicatos agissem de modo autônomo com relação à Casa Rosada, caberia as autoridades reprimir o bloqueio ilegal. Afinal, é legítimo que pessoas deixem de comprar jornais dos quais discordem, ou que considerem ruim, bem como perfeitamente aceitável que tentam convencer outros a fazer o mesmo. Mas o uso da violência e da força para impedir sua distribuição é absolutamente inaceitável em qualquer circunstãncia, e apenas demonstra o tamanho da crise política e da corrosão das instituições na Argentina contemporânea.

Como costuma acontecer nesses casos, junto à polarização política há espaço para ótimos negócios: um vídeo mostrou um líder sindical exigindo dinheiro do Grupo Clarín, para não paralizar a distribuição de seus jornais. O homem foi preso por extorsão.

2 comentários:

Malu disse...

Oi Maurício (:

"Descobri" teu blog hoje, e já li vários dos textos que tu publicou.
Sou estudante, e artigos que abordam as atualidades da forma que tu fez são ótimos para mim, pois tu consegue deixar espaço pra reflexão, o que é sempre importante.
A partir de hoje acompanharei tuas postagens e serei figurinha carimbada aqui :D

Abraço!

Maurício Santoro disse...

Obrigado, Renata. Do jeito que a conjuntura internacional anda explosiva, não faltarão assuntos.

abraços