segunda-feira, 16 de maio de 2011
Com Fronteiras
Há poucos dias dei duas entrevistas para rádios – Band News e Cultura de Porto Alegre – a respeito das controvérsias na União Européia com respeito à imigração. A Dinamarca anunciou que irá reinstalar controles nas fronteiras e França e Itália pressionam pela revisão do acordo Schengen, que garante a livre circulação de pessoas dentro da UE. O pano de fundo para essas decisões é a ansiedade decorrente da crise econômica e do acirramento dos conflitos culturais e religiosos, com o fortalecimento eleitoral dos partidos de extrema-direita.
A Dinamarca é governada por uma coalizão de conservadores, liberais e uma agremiação extremista, o Partido do Povo Dinamarquês. A mudança de política com relação aos controles fronteiriços fez parte de barganha pela qual o PPD apóia a reforma do sistema de aposentadorias e pensões proposto por seus aliados. Na França, os conservadores precisam responder ao desafio da extrema-direita, com a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, à frente do presidente Nicholas Sarkozy nas pesquisas de intenção de voto para a eleição de 2012. Os socialistas franceses acabam de perder seu principal pré-candidato: Dominique Strauss-Kahn, diretor do Fundo Monetário Internacional, foi preso sob acusação de tentar estuprar a camareira de um hotel em Nova York. Na Itália, a extrema-direita é desde o início parte das coalizões de apoio a Silvio Berlusconi e o auxiliou em gestos como o acordo com o ditador líbio Muhamar Kadafi, para conter a emigração africana em troca de dinheiro.
A última década foi marcada por tensões crescentes relativas à imigração na UE, em particular quando trata-se de pessoas oriundas da Ásia, África ou América Latina, com peles mais escuras ou de religião muçulmana. A controversa diretriz de imigração aprovada pela União é muito questionada pelas contradições com os princípios de direitos humanos que orientam o processo de integração europeu. Os choques culturais manifestam-se na aprovação de leis limitando ou proibindo o uso dos véus, na eclosão de rebeliões de jovens imigrantes (ou seus filhos) como a dos subúrbios franceses e mesmo na participação desses grupos em atentados terroristas islâmicos, como os que atingiram recentemente o Reino Unido.
Mesmo antes da crise econômica iniciada em 2007, a União Européia já era afligida por baixo crescimento do PIB e por taxas de desemprego de dois dígitos, as atuais dificuldades agravam quadro que já era muito ruim. As revoltas árabes lançam nova esperança para o Oriente Médio e o Norte da África, mas a instabilidade dos novos regimes levou cerca de 25 mil pessoas a tentar emigrar para a Europa, com ou sem crise na economia. A reação dura da UE manifesta-se em conflitos como o trem de refugiados da Tunísia que vagou entre Itália e França, por vários dias, numa cena que lembra os dramas dos refugiados judeus no período de ascensão do nazi-fascismo.
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2 comentários:
Meu caro:
Ótimo artigo. E parecia que o "lepenismo" tinha morto na França...
Abraços
Patricio Iglesias
Hola, mi amigo.
Pois é, mas a família Le Pen voltou, a filha, Marine, é mais habilidosa do que o pai. Tempos difíceis para a Europa.
abraços
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