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Artigo na The Economist desta semana fala sobre a competição entre as indústrias vinícolas da Argentina e do Chile, dando vantagem à primeira. O texto tem acesso restrito na Internet, não dá para linkar, mas ele me fez pensar em como o vinho se vincula às relações internacionais, com aplicações para economia, turismo e até identidades nacionais.
A indústria do vinho na Argentina passa por um momento de renovação e crescimento. Depois da brutal desvalorização do peso em 2002, o investimento estrangeiro se multiplicou no setor e com ele, inovações técnicas. Até então a maioria dos vinhos argentinos era produzida para consumo local e não tinha boa reputação no mercado externo. Forte contraste com o Chile, cujos vinhos há muito são um dos principais produtos de exportação nacionais.
O centro da indústria vinícola na Argentina é a encantadora cidade de Mendoza, à sombra dos pontos mais altos da Cordilheira dos Andes. A província é rica em petróleo, mas o vinho – e o turismo gastronômico associado a ele – estão mudando para melhor a região. Fiquei deslumbrado pela beleza de Mendonza, pela amabilidade das pessoas e pela excelente infra-estrutura disponível para os turistas.
Mendoza é a terra da uva Malbec, que serve de base para o tipo de vinho tinto mais famoso na Argentina. Variedade típica do país, ao ponto de ter se tornado um instrumento poderoso de marketing. Agrega valor, diriam os economistas. Em comparação, o Chile produz uvas tradicionais como Cabernet Sauvignon e Chardonnay.
Quem compra vinho não busca apenas uma bebida, está à procura também de um certo estilo de vida, de uma imagem glamourosa e idealizada de prazer e sofisticação. Quem viu filmes como “Mondovino” e “Um Bom Ano” sabe do que falo. Nesse sentido, a Argentina tem muito a oferecer, pela visão que muitos estrangeiros têm do país como uma terra apaixonada, qualidade que se ressalta em seus mitos nacionais, como Maradona, Evita, Che Guevara.
A reportagem da The Economist afirma que isso ajuda nos negócios e estou de acordo. O conceito que utilizamos na ciência política é “poder macio”, isto é, elementos simbólicos e culturais que ajudam um Estado a alcançar seus objetivos políticos e econômicos.
Exemplo é o efeito provocado pelo filme “Sideways”, ambientado nos vinhedos da Califórnia. Há uma identificação entre o protagonista da história, um homem sensível mas deprimido e de trato difícil, com o Pinot Noir. Pois bem, o filme provocou grande aumento nas vendas desse vinho, além de ser um tremendo cartão-postal turístico para aquela região dos Estados Unidos.
Um vinicultor francês do século XVIII, o barão de Montesquieu, dizia que o “doce comércio” aproxima os povos e adoça os costumes, contribuindo para a paz. Entre uma adega e outra escreveu alguns dos mais importantes tratados políticos da humanidade, como O Espírito das Leis, em cujo prólogo afirma que a fama de seus livros contribuiu em muito para o sucesso de seus vinhos. Suponho que o velho barão entenderia plenamente a situação atual, quem sabe escrevendo a respeito, embalado por um bom Malbec argentino.