quinta-feira, 29 de março de 2007

Vinho e Relações Internacionais



Artigo na The Economist desta semana fala sobre a competição entre as indústrias vinícolas da Argentina e do Chile, dando vantagem à primeira. O texto tem acesso restrito na Internet, não dá para linkar, mas ele me fez pensar em como o vinho se vincula às relações internacionais, com aplicações para economia, turismo e até identidades nacionais.

A indústria do vinho na Argentina passa por um momento de renovação e crescimento. Depois da brutal desvalorização do peso em 2002, o investimento estrangeiro se multiplicou no setor e com ele, inovações técnicas. Até então a maioria dos vinhos argentinos era produzida para consumo local e não tinha boa reputação no mercado externo. Forte contraste com o Chile, cujos vinhos há muito são um dos principais produtos de exportação nacionais.

O centro da indústria vinícola na Argentina é a encantadora cidade de Mendoza, à sombra dos pontos mais altos da Cordilheira dos Andes. A província é rica em petróleo, mas o vinho – e o turismo gastronômico associado a ele – estão mudando para melhor a região. Fiquei deslumbrado pela beleza de Mendonza, pela amabilidade das pessoas e pela excelente infra-estrutura disponível para os turistas.

Mendoza é a terra da uva Malbec, que serve de base para o tipo de vinho tinto mais famoso na Argentina. Variedade típica do país, ao ponto de ter se tornado um instrumento poderoso de marketing. Agrega valor, diriam os economistas. Em comparação, o Chile produz uvas tradicionais como Cabernet Sauvignon e Chardonnay.

Quem compra vinho não busca apenas uma bebida, está à procura também de um certo estilo de vida, de uma imagem glamourosa e idealizada de prazer e sofisticação. Quem viu filmes como “Mondovino” e “Um Bom Ano” sabe do que falo. Nesse sentido, a Argentina tem muito a oferecer, pela visão que muitos estrangeiros têm do país como uma terra apaixonada, qualidade que se ressalta em seus mitos nacionais, como Maradona, Evita, Che Guevara.

A reportagem da The Economist afirma que isso ajuda nos negócios e estou de acordo. O conceito que utilizamos na ciência política é “poder macio”, isto é, elementos simbólicos e culturais que ajudam um Estado a alcançar seus objetivos políticos e econômicos.

Exemplo é o efeito provocado pelo filme “Sideways”, ambientado nos vinhedos da Califórnia. Há uma identificação entre o protagonista da história, um homem sensível mas deprimido e de trato difícil, com o Pinot Noir. Pois bem, o filme provocou grande aumento nas vendas desse vinho, além de ser um tremendo cartão-postal turístico para aquela região dos Estados Unidos.

Um vinicultor francês do século XVIII, o barão de Montesquieu, dizia que o “doce comércio” aproxima os povos e adoça os costumes, contribuindo para a paz. Entre uma adega e outra escreveu alguns dos mais importantes tratados políticos da humanidade, como O Espírito das Leis, em cujo prólogo afirma que a fama de seus livros contribuiu em muito para o sucesso de seus vinhos. Suponho que o velho barão entenderia plenamente a situação atual, quem sabe escrevendo a respeito, embalado por um bom Malbec argentino.

6 comentários:

Anônimo disse...

A economia mendocina depende muito da produçäo de vinho, e se nota, por exemplo, nas escolas que forman técnicos enólogos e nas carreras universitárias vinculadas à química do vinho, etc. O granizo (caida de hielo) implica uma destrucçäo dos cultivos e isso equivale a uma catástrofe pela província inteira.
Abraços

Anônimo disse...

Infelizmente, ainda não há (que eu saiba) no mercado brasileiro um vinho argentino amplamente distribuído, e com boa relação entre preço e qualidade, como o Casillero del Diablo, do Chile.

Rodrigo Cerqueira disse...

E aí, Maurício, ano novo, blog novo, agora de volta ao Rio, não? Pelo que vejo, ainda com certa saudade dos ares do Sul. Aqui no ES as coisas vão bem, mas nada de vinho nem granizo. Um calor infernal que só me deixa pensar em praia e água de coco. Nada mal também. Vou te mandar um email essa semana com novidades e um convite para mais uma incursão sua pela academia capixaba. Aguarde.
Grande abraço.
Rodrigo

Maurício Santoro disse...

Caro Patricio,

fiquei muito bem impressionado com o que vi em Mendonza e com certeza o turismo na região ainda crescerá muito, pela beleza da província e pela gentileza no trato pessoal. Espero conseguir assistir um dia à festa da Vindima.

Marcus,

realmente não sei. Ontem procurei um Malbec no supermercado, mas só encontrei vinhos chilenos. Talvez numa boa casa importadora a situação seja diferente.

Grande Rodrigo,

por aqui o calor também está forte, nem sequer tivemos águas de março. Mande as novas, é sempre um enorme prazer rever o Espírito Santo, de preferência junto a uma boa moqueca.

Abraços

Leandro Bulkool disse...

Ok. Vinhos possuem um bom sabor, mas faça uma breve pesquisa no mercado da cerveja e as relações internacionais e talvez possamos entedê-la seus grandes mistérios. Afinal, muitas coisas são faladas e até decididas em uma mesa de bar.

Maurício Santoro disse...

Leandro, meu caro.

Quanto à cerveja, consigo pensar somente na onda das mini-cervejarias, que produzem pequena quantidade de bebida mas têm clientes no mundo todo, graças à Internet. Vi um programa bem interessante sobre isso no History Channel. Enfim, agregação de valor e "cor local".

Mas o vinho tem muito mais charme...

Abraços