sábado, 24 de março de 2007

Europa: em busca de sentido


Um colega de doutorado visitou a Europa como executivo da indústria siderúrgica nos anos 60, quando a integração continental mal começara. Numa reunião, perguntou ao prefeito de Strasbourg qual o sentido do processo de integração. O político pensou por alguns instantes e lhe respondeu: “Amanhã é o aniversário do meu filho mais velho. Ele é o primeiro homem da minha família em três gerações que não precisou lutar numa guerra.”

Amanhã se comemoram 50 anos do Tratado de Roma (foto), que criou a Comunidade Econômica Européia, marco do mais ambicioso projeto político de nossa época. A cerimônia ocorreu numa época em que a capital italiana ainda era marcada pela pobreza e destruição da guerra, e que rebanhos de ovelha pastavam pelo centro.

Costumo ensinar a meus alunos que o projeto da integração européia, tal como o conhecemos, nasceu durante o Iluminismo. Vários pensadores do século XVIII defenderam esse ideal. Ele aparece de um ou outro modo em Voltaire, Rousseau e, sobretudo, em Kant. O ensaio do filósofo alemão sobre os modos de se obter “a paz perpétua” continua a ser uma das obras-primas da reflexão sobre a política internacional.

Foram necessárias duas guerras mundiais, a destruição dos impérios coloniais europeus e a consolidação da União Soviética como uma superpotência para reavivar a idéia de integração européia. Em 50 anos esse processo passou por altos e baixos. Os pontos críticos foram “a política da cadeira vazia” do general De Gaulle, que vetou a entrada do Reino Unido durante vários anos, a “euroesclerose” dos anos 70. Entre as maiores realizações estão a incorporação da Península Ibérica, Irlanda e da Grécia ao processo europeu, a prosperidade entre os parceiros mais ricos (sobretudo Alemanha e França) e a consolidação do euro como moeda continental.

A União Européia faz aniversário com problemas sérios. Baixo crescimento econômico e altas taxas de desemprego nos principais países do bloco. Sentimentos populares de que as instituições comunitárias estão distante de suas realidades e pouco interferem em sua vida (como se manifestou na rejeição ao Tratado Constitucional Europeu). As polêmicas sobre o protecionismo agrícola, que causam amargos dissabores. As dificuldades sobre como incorporar os imigrantes e o debate mais amplo sobre o que
diabos significa Europa. Qual é, por exemplo, o lugar da Turquia na União Européia?

Se você fala inglês, leia o artigo “Europe in the Search of a Purpose”, de Paul Reynolds. Ele é um ex-correspondente da BBC em Bruxelas que revisita a cidade e mostra o que mudou na UE, e em sua cobertura, nos últimos 20 anos. O tipo de texto que faz do jornalismo britânico o melhor do mundo.

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