domingo, 18 de março de 2007
Páginas da Vida Acadêmica
Com um intervalo de duas semanas, recebi os livros com meus artigos que receberam o Prêmio América do Sul 2005 e 2006, concedido pelo Ministério das Relações Exteriores. O concurso é uma iniciativa nova, criada para estimular a pesquisa acadêmica brasileira sobre o continente.
O de 2005, "Desenvolvimento como Integração", é uma provocação baseada nas idéias de Hélio Jaguaribe, onde sigo a opinião do mestre de que o colapso do modelo nacional-desenvolvimentista só pode ser superado por um enfoque regional, sul-americano. Escrevi o artigo às pressas e não estou lá muito satisfeito com o resultado.
Mas fiquei contente com meu ensaio de 2006, "A Outra Volta do Bumerangue - Estado, movimentos sociais e recursos naturais na Bolívia". Sintetiza caminhos pelos quais quero seguir na vida acadêmica, como o olhar sobre a sociedade, a reflexão a respeito de direitos humanos e a necessidade de incorporar essas perspectivas ao estudo das relações internacionais.
Voltei às aulas no doutorado. Foi bom retomar o contato com os colegas no seminário de tese, em especial pela acolhida calorosa que me deram e o enorme interesse que despertou meu trabalho de campo na Argentina. Me surpreendi com as discussões animadas que tivemos a respeito de temas como a memória história da ditadura militar ou as conseqüências da guerra das Malvinas. Devo apresentar o primeiro capítulo da tese daqui a um mês. Está fluindo bem e me peguei escrevendo entusiasmado sobre as negociações envolvendo a crise da dívida externa ou tratando das rebeliões militares no governo Alfonsín.
Também voltei a dar aulas na universidade. Comecei com a turma de 2007 na pós e fiquei espantado, novamente, pelo interesse que minha experiência na Argentina tem despertado, inclusive pela grande quantidade de alunos que me perguntou pela possibilidade de cursar o mestrado em Buenos Aires. Muito bom!
O tema do módulo que dei no sábado foi a contribuição dos pensadores políticos clássicos para as relações internacionais e os debates mais acalorados foram em torno do nacionalismo e das questões envolvendo identidade, em especial por que tantos brasileiros se irritam ao ser confundidos no exterior com hispano-americanos. Curioso ver o quanto os alunos se envolveram com o tema, o Brasil tem pouca tradição nesse tipo de pesquisa, que é bem mais forte na Europa.
Outro bom ponto foi o início do curso ministrado no doutorado pelo meu orientador, que tratará dos debates entre liberais e nacionalistas nos anos 50 e 60. Já cumpri meus créditos, mas faço a disciplina por puro prazer, porque as aulas são apaixonantes, com debates bem-humorados sobre temas que vão de Celso Furtado à crítica literária sob o modernismo. Lembrete de que, com todos os problemas, a tradição intelectual e política do Brasil é muito rica.
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2 comentários:
Já que é prazerosa, compartilhe essa experiência com seus leitores, maurício. Gostaremos todos.
Pode deixar, mestre Sergio. É só o curso ter mais aulas e mais assunto para comentar.
No seminário de tese desta semana discutiremos dois trabalhos sobre a era Vargas, um que trata da criação das leis de segurança nacional e outro que discute a formação da esquerda nacionalista. Ambos estão muito interessantes, acho que será uma boa discussão.
Abraços
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