quarta-feira, 21 de março de 2007

Pro Dia Nascer Feliz



Por conta da pesquisa sobre juventude, assisti a dois excelentes documentários nos últimos dias. “Pro Dia Nascer Feliz”, de João Jardim (foto), trata das expectativas dos jovens com relação à escola, enquanto “Meninas”, de Sandra Werneck e Gisela Câmara, aborda a gravidez na adolescência.

“Pro Dia Nascer Feliz” acompanha jovens de quatro escolas de ensino médio, de um município paupérrimo no interior de Pernambuco a um colégio de elite em São Paulo, passando pelas periferias paulistana e fluminense. O filme retrata escolas que não conseguem lidar com os sonhos da juventude. Não servem como transmissoras de conhecimento, não oferecem a possibilidade concreta de ascensão social via mercado de trabalho. Os alunos se queixam do descaso dos professores e da falta de confiança que eles demonstram em seu potencial.

Claro que há luz no fim do túnel. Me chamou a atenção como a cultura aparece como uma tremenda possibilidade de crescimento. Poesias – algumas delas belíssimas – escritas para os fanzines dos colégios. A participação na banda da escola, que dá a um rapaz o sentimento de “ser alguém” e o orgulho por um trabalho bem-feito.

Tenho várias amigas são professoras da rede pública e todas largaram ou querem largar seus empregos, para dar aulas em colégios privados ou universidades. Suas queixas encontram eco no filme: o desinteresse das colegas docentes e dos alunos, a sensação de que ninguém se importa com seu trabalho, a relação difícil com os estudantes, que inclui agressões e ameaças.

“Pro Dia Nascer Feliz” é um filme pessimista? Não acho. O sentimento mais forte que me deixou foi o de que muitos dos jovens mostrados no documentário precisam apenas de um empurrão, de um pequeno apoio pessoal/institucional que lhes permita desenvolver seu potencial e voltar a sonhar com uma vida melhor.

O sonho – ou a ausência dele - também está muito presente em “Meninas”. O filme segue a rotina de quatro adolescentes grávidas da cidade e da região metropolitana do Rio de Janeiro, com foco no relacionamento com os namorados e a família, sobretudo com as mães.

Passamos o filme no Ibase e depois fizemos um debate com participação de colegas do Instituto de Medicina Social da UERJ e da Casa da Mulher Trabalhadora, com ampla experiência na área. O que mais se destacou na conversa foi que para uma menina pobre, ter filhos é com freqüência o principal projeto de vida. A escola não lhe oferece possibilidades.

Universidade é um horizonte impossível. O que sobra para ser respeitada como integrante da comunidade? “O tráfico ou ser mãe”, resumiu uma amiga que vive numa favela carioca.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nas "villas" (favelas) de Buenos Aires e área metropolitana é também muito comum que as jóvens tenham como objetivo ter filhos, e os embaraços precoces säo muito comúns. É uma problemática muito grave.
Saludos

Maurício Santoro disse...

Pois é, meu caro Patricio, quanto mais conheço a Argentina, mais vejo o quanto ela se parece com o Brasil. E vice-versa.

Abraços

Anônimo disse...

Isso não é privilégio do 'Terceiro Mundo' - a Inglaterra tem a maior taxa de gravidez entre adolescentes da Europa, e a maioria dos casos acontece obviamente entre as populações de baixa renda. E isso porque o aborto é legalizado por essas bandas, e informação não falta...

Maurício Santoro disse...

Querida Nica,

soube da escala da gravidez entre as adolescentes britânicas acompanhando os debates sobre aborto em Portugal, onde as pessoas contrárias a essa medida usavam o Reino Unido como exemplo de que a legalização do aborto não resolveria o problema.

Mas nunca entendi por que tantas adolescentes britânicas ficam grávidas. Que explicações circulam pela imprensa?

Beijo