sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Onde os Velhos Não Têm Vez
Atirador, quando compra vingança alheia
Tem que ter veneno na veia
Tem que saber andar num chão de navalha
Atirador tarda mas não falha
Atirador não tem dó quando atira
Atirador é o dublê da ira
Ele só sabe o nome, só viu o retrato
Alma sebosa é mais barato.
Lenine, O Atirador
"No Country for Old Men", dos irmãos Coen, talvez tenha sido mesmo a melhor escolha para campeão do Oscar 2008, mas não estou entre aqueles que o consideram uma obra-prima. Em linhas gerais, acho que é um excelente faroeste-noir, mas que muitas vezes sucumbe à violência gratuita e niilista que supostamente critica.
Alfred Hitchcock cunhou a expressão “McGuffin” para definir o elemento misterioso que impulsiona a trama, mas que afora isso tem pouco valor em si mesmo. O McGuffin de No Country for Old Men é uma mala com US$2 milhões encontrada por um homem no cenário de uma chacina entre duas quadrilhas de criminosos, no meio do deserto do Texas. Ele passa o resto do filme sendo perseguido por um matador de aluguel (Javier Bardem, excelente) que quer reavê-la. Mas o bangue-bangue é mero pretexto para o que realmente importa: a reflexão sobre a violência sem sentido que tomou conta dos Estados Unidos.
Nesse sentido, o personagem-chave do filme não é o assassino interpretado por Bardem, mas o idoso e sábio xerife vivido por Tommy Lee Jones. Último de uma dinastia de homens da lei, ele se confessa impotente diante dos crimes cada vez mais brutais e despropositados que passou a testemunhar. Não consegue mais compreender o mundo em que vive. Por isso o título do filme em português deveria ser “Onde os velhos não têm vez”, como aliás foi o caso com o romance em que está baseado. Só Deus sabe porque os tradutores preferiram “Onde os fracos não têm vez”, e Ele não me explicou a razão.
O personagem de Bardem é uma espécie de Anjo da Morte, com um código de conduta bastante próprio, e critérios para matar ou deixar viver que às vezes dependem da virada aleatória de uma moeda. Contudo, acho que os irmãos Coen o trataram com fascinação respeitosa. Ele é o personagem mais esperto de todo o filme e não duvido que muitos espectadores tenham torcido para o sucesso de sua missão.
O filme dividiu opiniões entre meus amigos. Entre os que não gostaram, a principal razão foi dúvidas com relação ao modo como a trama termina. Não me pareceu que ela fosse confusa, mas de fato algumas cenas se prestam a várias interpretações. Ainda assim, o essencial não é o destino da mala de dinheiro, puro McGuffin. O destaque da história é a lamentação por um mundo desencantado e seco como a poeira do deserto.
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7 comentários:
Olá!
Acabei me cadastrando no blogger motivado por este post. Precisava comentá-lo!
Concordo plenamente com o apontamento sobre a tradução do título. É a desilusão de uma velha perspectiva e não uma questão de ser fraco ou forte.
Em tempo, não vi o filme mas li quase todos de McCarthy. Ganhou o Pullitzer de ficção 2007 com A Estrada.
Não sei se o filme mostra, Anton Chigur não queria o dinheiro, queria uma credencial. Devolver a maleta com o dinheiro ao seu "dono" lhe daria crédito.
Enquanto Moss queria a grana para viver numa boa Chigur não dá a mínima para a vida. Este é o impulso da violência,ao meu ver, não importa mais a vida nem projetos de vida. Quando se está no jogo da violência, em larga escala como é a ação do enredo, as perspectivas são outras. Talvez nem haja perspectiva.
Moss entrou como gaiato e não existe perdão para isto, nem para a mulher dele nem para ninguém.
Abraço
Salve, Paulo.
Sem dúvida - no fim das contas, nunca sabemos qual é a motivação de Chigur com relação ao dinheiro. Ele parece estimulado muito mais por seu próprio código de honra, e a cena com a mulher de Moss é das melhores do filme. No mundo dos Coen, ninguém tem perdão!
Abraços
Attention!
Olá,
Estou entrando em contato novamente para me colocar à disposição ao esclarecimento de dúvidas referente ao e-mail que enviei no dia 26/02/08, tratando da Parceria Comercial entre o Site Todos os fogos com a HOTWords.
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Oi, Maurício!
Descobri o seu blog...
O filme é muito bom, com um suspense muito bem feito (muito apropriada a observação sobre o mcguffin), bons atores, etc. Mas, no fundo, é um sexta-feira 13, não é? Com um excelente ator no papel de Jason...
Exato, Ana!
Como se a única maneira de criticar a violência fosse fazendo um filme extremamente violento!
Abraços e bem-vinda ao blog,
Olá
Deixa eu pegar no pé de vocês.
É que Cormac, o escritor, jamais criticaria ou daria a sua opinião, de alguma mazela social ou conduta social.
É literário demais para isto.
Definitivamente o velho xerife não é Cormac.
O livro é Cormac.
Abraços
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