sexta-feira, 27 de junho de 2008

As Apostas de Sarkozy



Há alguns dias debatíamos neste blog sobre a capacidade de Nicolas Sarkozy em fazer com que seu país tenha um papel de liderança internacional mais sólida a partir de 1 de julho, quando a França assume a presidência da União Européia. Uma série de acontecimentos recentes e contraditórios joga mais lenha na fogueira.

Primeiro, houve a viagem de Sarkozy a Israel, na qual ele fez ótimo discurso na Knesset, o parlamento do país. Defendeu o estabelecimento de Jerusalém como “bicapital” para israeleneses e palestinos, o congelamento de construção de novas colônias judaicas na Cisjordânia e incentivou o diálogo entre Israel e o Hamas, ao mesmo tempo em que pregou mais sanções contra o Irã. O presidente francês aproveitou o vácuo de poder criado pelas crises nos Estados Unidos, e tem feito diversos lances ousados no Oriente Médio.

Um deles, bastante controverso, é sua proposta de criar uma União Mediterânea que juntaria Europa, África do Norte, Oriente Médio e Turquia. A Alemanha manifestou reservas com a idéia, porque seu foco é em outras regiões, como Rússia e Europa Oriental. Mas Sarkozy levou o plano adiante e haverá uma cúpula no dia 13 de julho. Concordo com a avaliação de Lluís Bassets, do jornal espanhol El País: “Sarkozy ha conseguido, como mínimo, que Francia vuelva a levantar cabeza y a existir diplomáticamente en la zona y quizás que detrás suyo también Europa exista. habrá que seguir atentamente esta jugada. “

Um diplomata europeu disse que Sarkozy segue a "estratégia de Casanova": convida várias moças para dançar, na esperança de que isso aumente suas chances de que pelo menos uma delas aceite o convite. Tendo em conta a atual primeira-dama da França, não se deve subestimar o potencial da doutrina.

Mas se Sarkozy brilha no exterior, enfrenta problemas em casa. Pesquisas de opinião divulgadas pelo Le Monde indicam que apenas 48% dos franceses acreditam que seu país se beneficia em fazer parte da União Européia, um índice muito baixo tendo em conta que se trata do pilar mais importante da política externa da França, há 50 anos! Pior ainda, 80% da população crê que “as coisas irão piorar”. Ora, pessoas céticas e pessimistas não apoiam grandes líderes, sua tendência é fechar-se numa agenda conservadora, receosa de mudanças.

A situação parece ainda mais difícil em outros países europeus. Na Alemanha, a vitória da seleção nacional sobre a Turquia, pela Eurocopa, foi o estopim para uma onde de ataques racistas contra imigrantes. Na Itália, o novo governo de Silvio Berlusconi aumenta a tensão com medidas xenófobas.

Eis a matéria-prima com a qual Sarkozy terá que trabalhar à frente da UE.

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