quinta-feira, 5 de junho de 2008

Milagre Econômico na África?



Vagando pela Internet, encontrei um interessante artigo sobre o milagre econômico da África. Escrito pelo economista de Berkeley Edward Miguel, o texto analisa as razões do bom desempenho econômico do continente ao longo desta primeira década do século XXI.

Os primeiros anos da África pós-independência foram prósperos, mas o continente entrou num ciclo de decadência a partir de 1975 que se arrastou por longos 25 anos e culminou em tragédias como a fome na Etiópia, o colapso do Estado na Somália e guerras e extermínios no Congo, em Ruanda e Serra Leoa. As causas das catástrofes foram muitas: governos tirânicos, péssimas políticas econômicas, variações desastrosas nos preços internacionais das principais mercadorias exportadas pela região, o impacto das rivalidades da Guerra Fria.

De 2000 para cá, a tendência se inverteu. Em média, a renda per capita cresce a 3% anuais (gráfico abaixo) – menos que na China e na Índia, mas um número bastante bom para as séries históricas africanas. Muitos conflitos foram resolvidos e embora o autoritarismo persista na maioria do continente, as liberdades democráticas têm avançado de maneira persistente.




Miguel privilegia o impacto positivo da ascensão da China e da Índia na elevação dos preços das commodities. No período que ele examina, os valores do petróleo e do café triplicaram, e o do cobre se multiplicou por cinco. O comércio entre África e Ásia ultrapassou US$100 bilhões por ano e os investimentos chineses proliferam pela região.

Ele chama a atenção para o impacto que o aquecimento global pode ter no continente, em especial na faixa semi-árida do Sahel, entre o deserto do Sahara e as florestas equatoriais. Já um território muito pobre e violento, onde estão localizados Sudão e Chade. Há estimativas de que as chuvas por lá podem diminuir em até 25% por causa da mudança climática, o que tornaria o quadro ainda mais sombrio. Na realidade, muitos analistas afirmam que isso já influencia o genocídio em Darfur, na medida em que os recursos naturais escassos são uma das causas daquele conflito.

Miguel também dá uma estocada na política agrícola dos EUA, ressaltando o impacto negativo que os subsídios ao algodão têm para países como Benin, Burkina Faso, Mali e Tanzânia. Nesta semana o Brasil obteve mais uma vitória na Organização Mundial do Comércio contra os subsídios americanos ao algodão, parte de longo processo que move nesse setor.

As discussões sobre o milagre econômico na África fazem parte de um fascinante debate, mais amplo, sobre a capacidade dos especialistas em desenvolvimento em fazer valer suas idéias. Há uma corrente muito cética, liderada por William Easterly, moderados nos quais se destacam Dani Rodrik e o próprio Miguel e os otimistas simbolizados por Jeffrey Sachs.

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