sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Guerra da Sucessão Hondurenha



A decisão do governo golpista de Honduras de desrespeitar o acordo de votar pela volta de Zelaya aponta para um cenário bastante ruim, que pode colocar em risco a legitimidade das eleições presidenciais que serão realizadas em 29 de novembro. Segundo as notícias mais recentes, o Congresso decidiria sobre o destino de Zelaya apenas no dia 2 de dezembro. É muito questionável que a votação ocorra em boas condições e há a possibilidade de que a oposição ao golpe não aceite os resultados. A questão divide a OEA: os Estados Unidos apoiam a realização das eleições, mesmo com Zelaya fora do poder, os países da América Latina são contrários.

Como a economia de Honduras é extremamente dependente dos mercados dos EUA, mas têm relativamente poucos vínculos com os vizinhos do continente, a divisão da OEA indica uma situação de instabilidade, em que Washington reconheceria o presidente eleito, e as nações latino-americanas, não. Segundo noticiou o Valor, as autoridades brasileiras estudam limitar as relações diplomáticas com Honduras a um patamar mínimo, inclusive retirando o embaixador.

A ambiguidade da OEA criaria um precedente perigoso, em particular para países que passaram por riscos recentes de golpes, na América Central e na região Andina. Grupos que queiram derrubar governantes controversos, mas eleitos democraticamente, podem muito bem concluir que ações violentas compensam, contanto que consigam resistir por alguns meses e evitem determinados erros. Por exemplo, permitir que o presidente deposto busque refúgio no exterior.

Zelaya escreveu uma carta a Barack Obama acusando os Estados Unidos de terem-no abandonado em seus esforços para voltar à presidência, e anunciou que não aceitará um acordo com o governo golpista. A Venezuela, seu principal patrono político, passa por muitas dificuldades. Além da tensão com a Colômbia (que abordei no post anterior), nesta semana o país entrou recessão e ainda foi declarado o mais corrupto da América Latina. Com aliados como esses, Zelaya dificilmente precisa de inimigos.

A crise de Honduras conseguiu deixar em situação contrangedora quase todos os países envolvidos com seus turbulentos acontecimentos e o mesmo acontece com os Estados Unidos, numa demonstração de indecisões e vacilações que ilustram a falta de diretrizes claras do governo Obama com relação à América Latina. Na excelente definição de um amigo com quem conversei sobre o tema, a região “hoje oferece para os EUA mais custos do que benefícios”. Ir contra as nações do continente em um assunto tão delicado quanto a preservação da democracia confirma os piores esteriótipos sobre a política externa americana, e se afasta das promessas de Obama em deixar para trás os fantasmas desse relacionamento.

3 comentários:

Mário Machado disse...

E nenhum lado parece preocupado com a democracia, com as instituições. E enquanto brigam pelo poder, avançam os problemas, crescem em força as perigosas "maras".

A meu quem tá ganhando com tudo isso são a MS13, Marasalvatrucha e por ai vai...

Ainda vão transformar em Honduras em um estado falido tal qual o Haiti...

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Concordo totalmente. A crise na Honduras, e os pasos titubeantes, só deixaram um legado de instabilidade. Sem dúvidas a reacção dos EUA tem sido muito mais positiva do que em anos anteriores, mas ainda muito falente. Se houvesse sido mais contundente acredito que todo havria terminhado melhor.
Fico preocupado pela democracia e, com ela, pela imagem internacional da América Latina. Istos acontecimentos podem comprometer, por exemplo, investimentos estrangeiros. Quem va quer deixar dinheiro em paises com golpes e presidentes por dois?
Abraços!

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Caros,

Infelizmente, concordo com ambos, o cenário que se desenha para Honduras é péssimo, tanto na economia quanto na política. O que será que teremos pela frente?

Abraços