quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
A Desvalorização da Venezuela
O pacote econômico que o governo da Venezuela anunciou nesta semana é uma imagem do passado brasileiro: maxidesvalorização da moeda, taxas múltiplas de câmbio, racionamento de energia elétrica e repressão estatal aos comerciantes que ameçam aumentar os preços. Difícil imaginar que o resultado será diferente do que aconteceu com tanta frequência no Brasil: inflação e/ou desabastecimento.
Desde 2005 o Bolívar tinha seu valor fixo ao dólar a uma taxa demasiado baixa de 2,15. O acesso à moeda estrangeira é controlado de forma rigorosa na Venezuela, o que fez com que muitas empresas tivessem problemas em suas operações cotidianas, por escassez de divisas. Firmas e pessoas também recorriam bastante ao mercado clandestino de câmbio. O Bolívar sobrevalorizado ajudava a controlar a inflação, por meio de importações baratas, mas nem assim a Venezuela conseguiu lidar com o problema, pois seu índice inflacionário de 25% (2009) é o mais alto da América Latina e um dos piores do mundo.
Com a desvalorização, o dólar passa a valer 4,30 Bolívares, mas haverá uma taxa especial de 2,60 para comprar produtos estrangeiros que o governo classificar como essenciais. Esse tipo de medida foi amplamente utilizado no Brasil, para favorecer determinadas indústrias (por meio da importação de bens de capital) e proteger setores sensíveis da economia. Dá margem à muita corrupção, na medida em que os grupos de interesses tentam convencer os as autoridades a favorecê-los com as taxas mais vantajosas.
A desvalorização beneficia os exportadores, que vêem seus lucros em Bolívares duplicados. Ora, 90% das exportações venezuelanas são de petróleo e derivados, realizadas pela estatal PDVSA. O objetivo de Chávez é claro: melhorar o caixa do governo, que vem enfrentando um déficit crescente, preocupante em meio à conjuntura da crise internacional.
É uma macroeconomia bastante diferente daquela que tem sido adotada pelos países latino-americanos mais bem-sucedidos, que têm controlado rigidamente a inflação, acumulado superátivs primários e usado a “flutuação suja” do câmbio, isto é, só intervindo no mercado quando a taxa ultrapassa certo limite de segurança.
O problema é que, ao encarecer as importações, a desvalorização cria uma forte pressão inflacionária, num país que já sofre muito com esse assunto e que compra do exterior 80% dos produtos que consume. A corrida dos venezuelanos às lojas, antes da vigência do novo câmbio, mostra a baixa confiança no governo e as dificuldades que as autoridades encontrarão para lidar com as expectativas da população. Chávez deu sua resposta tradicional de repressão, no espantoso uso do Exército para fechar 70 lojas que aumentaram preços.
Como nada está tão ruim que não possa piorar, a Venezuela enfrenta sua pior crise de energia em anos, com racionamentos nas principais cidades e apelos presidenciais para que as pessoas diminuam o tempo no banho. Num país tão rico em recursos energéticos, algo assim só é possível por péssimas políticas públicas de investimento e infraestrutura.
Diante de tantos problemas, só resta culpar os Estados Unidos, e Chávez lançou uma cartada nesse sentido acusando aviões americanos de violar o espaço aéreo da Venezuela. Resta saber se a população dará atenção a isso, diante de problemas econômicos cotidianos de tanta gravidade.
***
A tragédia humanitária no Haiti me deixa até mal em escrever sobre a economia venezuelana, mas no momento ainda não tenho informações mais precisas sobre o terremoto na ilha caribenha, apenas especulações assustadoras sobre o número de mortos, feridos e desabrigados. Em breve abordarei o tema, tão logo a situação fique clara.
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4 comentários:
Muito parecido mesmo com o nosso passado recente com uma diferença Chávez transformou o Exercíto em 1fiscais da SUNAB'
Pois é,o que mostra que mesmo quando o soneto é ruim, a emenda sempre pode piorá-lo. O Sarney ao menos tinha sua cota de donas de casa fiéis...
abraços
O Chaves aumentou o mínimo agora, tem inflação, crise energética, desvalorização da moeda...a Venezuela caminha para hiperinflação pelo visto.
Quanto mais Chaves quer colocar seu discurso em prática mais a situação se afunda deveria ser uma das máximas da política
Abraços,
Salve, Marcelo.
As coisas estão mesmo muito complicadas por lá. Nesta semana ele demitiu o ministro responsável pela área energética.
abraços
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