terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uribe, Santos, Chávez



No fim de semana fui entrevistado pela Globonews a respeito da posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e das implicações de seu governo para as relações com a Venezuela e o Brasil. Meu comentário foi que sua ascensão à presidência traz uma expectativa moderada de melhorias.

Santos foi ministro da Defesa de Álvaro Uribe, posto no qual, evidentemente, se destacou pela ação contra as guerrilhas. Contudo, suas posições anteriores de alto escalão foram todas nas áreas de comércio exterior e economia internacional. Nos anos 90, inclusive advogou negociações de paz com as FARCs. A família do novo presidente é de grandes empresários, por décadas foram os magnatas da mídia na Colômbia. A ênfase nos negócios pode ajudar bastante nas relações com Hugo Chávez: apesar de todas as turbulências entre seus presidentes, Colômbia e Venezuela seguem sendo as segundas maiores parceiras comerciais uma da outra, atrás somente dos Estados Unidos.

Outro sinal de boa vontade de Santos foi nomear como ministra das Relações Exteriores a diplomata Maria Angela Holguin, que havia sido embaixadora em Caracas e mantido ótimo diálogo com Chávez – embora, ironicamente, tenha tido alguns problemas com Uribe. Chávez respondeu ao gesto enviando seu chanceler, Nicolas Maduro, para a posse de Santos. Nada mal para países que passaram os últimos anos cortando relações e fechando embaixadas.

Algumas das perguntas da entrevista disseram respeito ao personalismo na política latino-americana, no sentido que a diplomacia – que deveria ser uma política de Estado,marcada mais por continuidade do que por mudanças bruscas – tornou-se muito dependente dos humores e caprichos dos governantes. Chamei a atenção para as semelhanças entre Colômbia e Venezuela. Até a década de 1990, ambos os países tinham sistemas partidários muito fortes, que entraram em colapso, simultaneamente, por conta de problemas diversos: crises econômicas, violência política etc. Dos escombros dessa ordem institucional ascenderam dois presidentes carismáticos e centralizadores: Uribe e Chávez. Parecidos, apesar de estarem em pólos ideológicos opostos.

A meu ver, o melhor remédio para tanto personalismo seria fortalecer as instituições regionais sul-americanas, de modo a consolidar fóruns que possam amortecer os impulsos mais destrutivos que vem dos Andes. Talvez o Conselho de Defesa da região possa desempenhar esse papel, caso reforce sua capacidade e seja percebido pelos principais atores políticos do continente como um órgão neutro e de confiança. Tarefa difícil, diante da ambigüidade com que muitos países sul-americanos tratam as guerrilhas colombianas.

3 comentários:

Mário Machado disse...

Dr,

Mais uma vez concordamos partindo de pressupostos diferentes. É realmente preciso reforçar as instituições, mas o populismo é tão sedutor pros políticos locais.

Agora nos cabe apontar, estudar e informar. E claro aguardar pra ver como fica.

Abs,

SLeo disse...

Boas perguntas, excelentes respostas. É isso aí, Maurício!

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

Coisas da Política! :=)


Mestre Sérgio,

Por coincidência, você estava no ar um pouco antes da minha entrevista, participando do Fatos & Versões. Aliás, mês que vem daremos palestra no mesmo evento em Porto Alegre, não é? Muito papo para colocarmos em dia!

Abraços