segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Movimento do Chá



Na última semana o Tea Party Movement conseguiu vitórias impressionantes nas primárias republicanas em estados da Costa Leste, como Nova York, Delaware e New Hampshire, derrotando os candidatos moderados que tradicionalmente eram o bastião do partido nessa região. Em apenas um ano e meio, o movimento conseguiu se estabelecer como um ator nacional importante, mas seu futuro é incerto. Ao empurrar os republicanos para posições radicais, podem levar o partido a derrotas eleitorais significativas, perdendo o eleitorado mais centrista.

O Movimento do Chá é um estudo de caso em organização descentralizada, em rede. Ele surgiu de grupos de discussão e fóruns online que aglutinavam conservadores descontentes com a vitória de Barack Obama à presidência, e insatisfeitos com os rumos do partido republicano. Como se vê pela pesquisa abaixo, publicada pela Economist, os participantes do movimento costumam ser mais velhos e com maior renda do que a média nos EUA.



Falam no sentimento de “perda da América”, e reivindicam posições partidárias baseadas em valores religiosos. Sarah Palin é sua admiração mais importante na cúpula republicana (clique no link para um perfil crítico publicado na revista Vanity Fair), mas o movimento também idolatra personalidades como o jornalista Glenn Beck, que recentemente organizou uma Marcha para Washington que se pretendia a reedição daquela realizada por Martin Luther King Jr.

Como qualquer movimento descentralizado e heterogêneo, o do Chá corre o risco de se fragmentar em pequenos grupos, sem condições de agir em conjunto de forma eficiente, como ocorreu com os estudantes nos EUA da década de 1960/70. Ou então de se transformar numa estrutura centralizada e hierárquica, como houve com os ambientalistas que fundaram o Partido Verde americano.

A área mais controversa entre os integrantes do Movimento do Chá é a política externa. De forma resumida, eles se dividem entre os que advogam uma versão “com esteróides” do que foi a diplomacia de George W. Bush e outra linha que defende posturas isolacionistas, como o fechamento de bases militares americanas no exterior e a redução do tamanho das Forças Armadas. É uma controvérsia que aparece com enorme regularidade na história política americana.

As eleições parlamentares de novembro serão um teste importante para o movimento, no sentido de mensurar sua viabilidade como um projeto eleitoral capaz de derrotar os democratas. Por ora, as ações do grupo forçaram os republicanos a levarem suas queixas a sério, agravando os embates partidários entre moderados e uma base cada vez mais radicalizada, e com grande capacidade de mobilização.

7 comentários:

Anônimo disse...

Salve, Santoro.

Gostaria de ver um estudo comparativo entre a ascenção do neoconservadorismo na década de 1940 do séc. XX e da galera do Tea Party, no último ano e meio.

É sempre arriscado falar em "padrão histórico", mas arrisco aqui um palpite: Os neocons surgiram em reação às reformas sociais da administração FDR. Segundo muitos, estava havendo uma lenta marcha da América rumo ao socialismo.

Lembra um pouco a retórica do pessoal do Chá, não?

Abração.

Gabriel Trigueiro

Mário Machado disse...

A meu ver o movimento é baseado em sentimentos que desaparecerão quando a economia americana voltar a crescer.

Contudo, o legado principal do Tea Party será a responsabilidade fiscal como bandeira de movimentos populares "grassroots". Algo que pode ser muito benéfico ao Partido Republicano.

Maurício Santoro disse...

Salve, meu caro.

Eu também gostaria, por que você não faz isso no seu doutorado? :=)

Falando sério, vou continuar a ler sobre o tema. Mas me parece que a princípio a diferença mais importante é o caráter de movimento social de base do Tea Party, ao passo que os conservadores pós-New Deal eram muito ligados às universidades (sobretudo Chicago, na economia) ou às associações empresariais.

Caro Mário,

Essa é uma boa pergunta. Será que a diminuição do desemprego, e da insegurança econômica, esvaziaria de maneira significativa o Tea Party? Não sei, mas é uma boa hipótese.

abraços

marcelo l. disse...

Prezado Mauricio,

O Tea Party é algo bem mais enraizado que parece...ele tem apoio dentro de importantes postos chaves de gerência das indústrias americanas, são pessoas que com o alargamento da importância da indústria militar conseguiram os postos de trabalhos pelos convênios e subiram por tempo de serviço e fatores subjetivos que ajudam a ascender dentro das firmas em detrimento dos mais capacidados.

A crise e a dívida com a China só fez eles endurecerem o discurso que hoje é catalizado no Tea Party...mas, pelo peso econômico hoje da indústria militar e mais sua influência na indústria no geral.

O centro americano por isso deve ser mais a direita que muitos pensam, diferente dos anos 60 e 70.

Maurício Santoro disse...

Caro Marcelo,

as posições do Tea Party são um tanto diferentes daquelas defendidas pelos Republicanos vinculados mais estreitamente ao setor empresarial.

Esses foram os políticos que perderam as disputas nos estados do Nordeste dos EUA, justamente para os candidatos do Tea Party.

Abraços

marcelo l. disse...

Prezado Mauricio,

O que pensei foi nas pessoas em termos de administração que cuidam da estratégia tática das empresas e não estratégica, são pessoas que devem seus cargos principalmente de políticas existem de integração de ex-membros das forças armadas (vale guarda nacional) nos últimos 20 anos.

Isto cria agora uma dinâmica muito própria dentro do país em um momento de crise tiveram a chance de se expressar, as regiões que houve derrotas de republicanos moderados não é de se estranhar, hoje a industria militar americana está espanhada por todo país e os programas de apoio a ingresso desses ex-"militares" ocorreu nos 51 estados em todas as grandes firmas pelo que já entendi mesmo estrangeiras aderiram em algum momento (acho que algumas pelos resultados saíram como a GE).

O que houve ao meu ver é um movimento popular de classe média, como outros do passado só que com características atuais da economia americana que mesmo em setores civis tem influência em cargos táticos de pessoas vindas da cultura das armas.

Concluindo, tenho que parte das idéias vieram para ficar e o centro americano está mais a direita.

Abs

marcelo l. disse...

Prezado Mauricio,

O que pensei foi nas pessoas em termos de administração que cuidam da estratégia tática das empresas e não estratégica, são pessoas que devem seus cargos principalmente de políticas existem de integração de ex-membros das forças armadas (vale guarda nacional) nos últimos 20 anos.

Isto cria agora uma dinâmica muito própria dentro do país em um momento de crise tiveram a chance de se expressar, as regiões que houve derrotas de republicanos moderados não é de se estranhar, hoje a industria militar americana está espanhada por todo país e os programas de apoio a ingresso desses ex-"militares" ocorreu nos 51 estados em todas as grandes firmas pelo que já entendi mesmo estrangeiras aderiram em algum momento (acho que algumas pelos resultados saíram como a GE).

O que houve ao meu ver é um movimento popular de classe média, como outros do passado só que com características atuais da economia americana que mesmo em setores civis tem influência em cargos táticos de pessoas vindas da cultura das armas.

Concluindo, tenho que parte das idéias vieram para ficar e o centro americano está mais a direita.

Abs