segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Alemanha e a Crise do Euro



A crise financeira que atingiu Grécia e Irlanda e ameaça derrubar Portugal e Espanha chegou a um ponto no qual se começa a discutir a sério a possibilidade de alguns desses países saírem do euro. Segunda maior exportadora do mundo, atrás apenas da China, a Alemanha não tem incentivos para desvalorizar o euro. Perderia muito com a depreciação da moeda. No entanto, isso é necessário para as economias mais frágeis, que precisam desse estímulo para melhorar sua competitividade diante de rivais como os chineses e os americanos, que se beneficiam do câmbio favorável.

A Alemanha Ocidental, depois da Segunda Guerra Mundial, foi liderada por uma série de estadistas que priorizaram o projeto de integração europeu, colocando freios institucionais à autonomia germânica. Entendiam claramente que era o preço a pagar pela história sombria do país, a garantia que precisavam dar aos parceiros de continente de que a nova Alemanha abandonara os projetos de expansão imperial e estava comprometida com a paz e a prosperidade da Europa. Como nos lembra Barry Eichengreen, para entender o euro é preciso compreender a história política da região. Talvez mais até do que a economia.

A expansão da integração européia, em particular a criação do euro, foi condição para que os outros países aceitassem a reunificação da Alemanha. A barganha funcionou bem durante 20 anos, com o novo Estado funcionando como uma locomotiva econômica para as nações do antigo bloco comunista, fomentando o desenvolvimento com seus investimentos. Mas esse acordo deixou de ser tão interessante no momento de crise. Não há mais adversários ideológicos externos, como o comunismo, para impulsionar os europeus a esquecerem suas divergências e focarem no bem comum.

A nova geração de políticos alemães – a premiê Angela Merkel é a primeira oriunda da antiga Alemanha Oriental a governar o país – tem mostrado pouca disposição para a causa européia, e uma perspectiva bastante voltada para os problemas domésticos. A proposta germânica tem sido a de um regime fiscal europeu que seja mais severo, e fiscalize com rigor as finanças públicas dos países da UE. “Teremos que pagar por toda a Europa?”, perguntou a manchete de um jornal popular.

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