quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
A Radicalização da Venezuela
Durante muito tempo, os defensores de Hugo Chávez alegavam que ele podia ter práticas questionáveis, mas representava a maioria da população da Venezuela, que o havia consagrado em diversas vitórias eleitorais expressivas. Contudo, o quadro político venezuelano tornou-se mais sombrio. Nas últimas legislações legislativas, a oposição obteve mais de 50% dos votos, mas ficou com pouco mais de 1/3 das vagas na Assembléia Nacional, em função da mudança na lei eleitoral, para beneficiar o governo. Ainda assim, seria o suficiente para dificultar a vida do presidente e bloquear indicações de juízes, por exemplo. A nova Assembléia toma posse em janeiro, mas antes disso Chávez reagiu conseguindo novas leis que o autorizam a governar por decreto, por um ano e meio.
O presidente alegou que precisa dos poderes extras para responder de maneira rápida e efetiva às chuvas catastróficas que deixaram cerca de 140 mil pessoas desabrigadas na Venezuela. Como não choveu por tanto tempo nem na Macondo de García Márquez, nem no Dilúvio bíblico, a oposição teme que seja simplesmente uma manobra para passar à margem da nova Assembléia – mesmo que o governo tenha quase 2/3 dos votos nela.
Além do poder de governar por decreto, Chávez conseguiu a aprovação de outra lei polêmica, criando as “comunas” – unidades administrativas que atravessam as divisões habituais entre cidades e províncias, e estão vinculadas diretamente à Presidência da República. O projeto já vem de algum tempo. Foi apresentado na reforma constitucional de 2007, derrotado no referendo e agora voltou na forma da nova lei. Já há mais de 200 comunas em implementação no país. Elas são descritas não só em termos de definição geográfica, mas também por terem um sistema político socialista. Ou seja: são um modo de adotar a agenda política chavista mesmo em áreas governadas pela oposição.
Pode sobrar até para o Country Club de Caracas, o último bastião da elite tradicional da Venezuela. A instituição está na mira do governo para ser desapropriada. Chávez quer transformar o campo de golfe do clube em área para abrigar os refugiados da chuva.
As novas medidas apontam para ainda mais concentração de poderes em Chávez, num momento político delicado, de crescimento da oposição, problemas na economia e já no início da movimentação para a próxima eleição presidencial, daqui a dois anos. Os bolivarianos não querem correr riscos e aumentam as ferramentas à sua disposição para manter o controle da Venezuela – mesmo que a maioria do eleitorado prefira outros candidatos.
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7 comentários:
Prezado Mauricio,
Não é meio contra-senso o Chaves está radicalizando internamente em um momento até bom para ele sem nenhum inimigo externo. A Colombia parece que não quer as bases e o presidente Santos parece ser amigo intimo, no continente todos parecem no mínimo suporta-lo. E os americanos estão enrolados até o pescoço no Afeganistão e Iraque para tentar algo de mais sério.
Com essas medidas e a lei da mídia podem forçar uma polarização com algum outro presidente até por que ter uma ditadura em Caracas com um presidente com um discurso expansionista é o que ninguém quer ou que seu eleitorado veja.
Concluindo ao forçar a corda interna, ele ameaça o silêncio que existe sobre o que ocorre em Caracas e Chaves irá fatalmente ouvir críticas, coisa que ele nunca absorve.
Abs e Feliz ano novo
Marcelo, todo ditador adora inimigos externos, que tornam fácil o trabalho de aglutinar o povo em uma única direção e calar os opositores. Se a Colômbia tivesse entrado no jogo do Chavez, ele não precisaria recorrer a uma desculpa esfarrapada como a das chuvas. Aliás, se chuva fosse critério para tirar poder do Legislativo, as cidades do Rio e São Paulo deveriam estar há décadas vivendo sob lei marcial.
Mestre, não acho que agora a situação está mais radical ou sombria. Apenas mais transparente. Chavez dizia adorar a democracia quando ganhava eleições, vamos ver agora o que acontece daqui para a frente.
Salve, Marcelo.
O novo presidente da Colômbia ascendeu ao poder ao ser ministro da Defesa, mas toda a carreira anterior dele foi na área de economia internacional. Ele é bom negociador e adotou uma postura pragmática com a Venezuela, de tentar reduzir tensões políticas para melhorar o comércio bilateral (o mercado venezuelano é o 2o maior para as exportações colombianas, só perde para os EUA).
No entanto, o problema de Chávez agora é puramente interno, com o crescimento da oposição. Acredito que cedo ou tarde ele vai arranjar outra crise externa, talvez com a Guiana, talvez com os EUA, mas ele precisa de algo assim para se manter no poder.
Salve, Bruno.
O jogo está ficando mais claro na Venezuela, mas também mais brutal. O que vai acontecer agora? Violência de rua? Prisões de oposicionistas? Com a maioria do eleitorado votando em outros candidatos, as coisas tornam-se bem mais complexas para Chávez.
Abraços
O risco esta na reação de Chavez a se sentir acuado.
Seu governo e' verdadeiramente catastrófico, mas sempre pode ficar pior. Ontem mesmo ele desvalorizou o bolivar fuerte mais uma vez.
Salve, Anônimo.
Acho que Chávez já está acuado. Estou pessimista com relação à Venezuela. A situação por lá só piora.
Abraços
Maurício,
nos EUA é possível que um presidente seja eleito sem ter a maioria dos votos, como em 2000.
E no Brasil, para o Legislativo, um sistema eleitoral não tão bem acabado permite que um candidato eleito leve consigo um bom número de parceiros de legenda com votação medíocre. E por aí vai!
Grande abraço,
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