segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Trilema Europeu



Semanas atrás resenhei neste blog o novo livro do economista Dani Rodrik, que argumenta que o mundo atual vive um “trilema” entre globalização, democracia e Estado-Nação. É possível ter dois desses elementos ao mesmo tempo, mas não os três, afirma Rodrik. A crise da dívida européia, em particular os casos da Grécia e de Portugal, ilustra à perfeição essa discussão.

Por “globalização”, nesta situação, entendo o euro, uma moeda única para um conjunto de países bastante desiguais em termos de desenvolvimento econômico e competitividade internacional. A barganha era abrir mão da autonomia monetária em troca da prometida estabilidade que o euro traria. E também o pensamento em torno da “camisa de força dourada”, a idéia de que as restrições e exigências para adequar-se à União Européia contribuiria para governos mais responsáveis fiscalmente.

Como vemos atualmente, o resultado foi outro. A atual crise da dívida européia lembra o tipo de problema que os países sob padrão-ouro enfrentaram até a década de 1930. Na impossibilidade de alterar o câmbio, eram necessários cortes drásticos nos gastos públicos e nos salários para equilibrar as contas nacionais. Isso era difícil, mas possível, antes da era da democracia de massa. Deixou de ser viável com sociedades mais organizadas e sindicatos ativos e poderosos. As pessoas protestam, mobilizam-se, questionam o governo. Não é à toa que os jovens estão na vanguarda, basta olhar o gráfico abaixo para entender como sofrem com o desemprego na eurozona e como estão desapontados com a União Européia.



No trilema de Rodrik, a democracia coloca-se contra a globalização, e escolhe limitações à interdependência econômica para tentar salvaguardar empregos e nível de renda. O Nobel de Economia Amartya Sen vai pela mesma análise e ressalta a importância de priorizar a democracia sobre as exigências dos mercados financeiros internacionais.

Há diferenças importantes na crise européia com relação aos problemas que a América Latina viveu nas décadas de 1980-1990. Os europeus não sofrem com o problema da hiperinflação. Tem mais importância política e econômica, e podem recorrer aos recursos da União Européia, não estando dependente somente do FMI (onde, de resto, tem mais influência do que a América Latina). Contudo, justamente por sua posição central na economia global, um colapso por lá seria catastrófico. Os latino-americanos negociaram a reestruturação de suas dívidas por mais de dez anos, na Europa não há tanto tempo disponível.

É improvável, senão impossível, que Grécia, Portugal e outras nações européias consigam pagar suas dívidas nas condições atuais. Para evitar que entrem em moratória, com o risco de contágio para a Espanha, é necessária uma solução política. Renegociação da dívida em prazos mais longos e valores menores, com ajuda financeira mais vultosa da União Européia e do FMI. Vale lembrar o precedente da Alemanha, que por razões de estabilidade regional teve perdoadas largas parcelas de seus débitos públicos após as duas guerras mundiais.

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