sexta-feira, 3 de junho de 2011

Um Outro Borges




“Todo escritor respeitável deveria ter um biógrafo inglês”, observou García Márquez. Edwin Williamson, que leciona literatura na Universidade de Oxford, ilustra o princípio. Sua estupenda biografia do escritor argentino Jorge Luís Borges mostra um autor apaixonado e engajado politicamente, muito distinto do retrato habitual do homem perdido entre bibliotecas, labirintos, tigres e espelhos.

Borges teve longa vida (1899-1986), mas só conquistou fama internacional na velhice. Williamson divide sua produção artística em três etapas: a primeira é marcada pelo nacionalismo cultural e pelos vínculos com as vanguardas europeias; a segunda caracteriza-se pelo ceticismo e pessimismo, com forte influência de Franz Kafka; a terceira é de certo retorno da paixão juvenil. Em todas, Borges destacou-se por romper com a visão de que a arte deveria ser espelho da realidade, considerando-a como um mundo em si mesma e elaborando gêneros considerados inferiores, como romance policial, de aventuras, fantasia e ficção científica.



O escritor nasceu em Buenos Aires, em família de herois da Independência – seus dois avôs foram coronéis nas guerras contra a Espanha – mas que perdeu poder e prestígio para a nova elite dos estancieiros. A mãe de Borges, Leonor, era obecada em restaurar a grandeza de seus antepassados e esperava que o filho fosse o instrumento dessa vingança social. O pai, Jorge, era um literato frustrado, boêmio que ensaiou rebeliões contra a ordem vigente, e sonhava que o herdeiro completasse o que começou. Borges foi sempre dividido entre esses opostos, situação que Williamson chama de “dilema entre espada e punhal”, no qual “ambos eram reações ao mesmo medo: o de ser desprezado, de perder o senso de identidade, de não ser ninguém.”

“Se eu tivesse que indicar o evento principal da minha vida, diria que é a biblioteca de meu pai”, escreveu Borges. Embora o filho não se destacasse nos estudos – era demasiado tímido, gago e míope, intimidado pelas outras crianças e nunca terminou o ensino médio – foi desde cedo um leitor voraz. Por sete anos a família viveu na Europa, principalmente na Suíça, onde o pai foi fazer um tratamento de saúde por conta da catarata que lhe tirava a visão. A estadia europeia coincidiu com a eclosão da I Guerra Mundial e o jovem Borges fez várias amizades nos círculos de vanguarda artística. De volta a Buenos Aires, tornou-se por algum tempo o líder de um grupo semelhante na capital argentina, defendendo nacionalismo cultural e identidade própria ao país, rejeitando visões de “submeter-se a ser quase norte-americano ou quase europeu, sempre quase outro”. Fundou revistas, publicou poemas e ensaios. Parecia no curso de uma brilhante carreira literária, mas seus problemas emocionais o lançaram em depressão e quase no suicídio.



O resto, na resenha que escrevi para o Amálgama.

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