segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Horizonte da Minha Pele
O poeta e crítico literário cubano Emilio Bejel traça neste “romance autobiográfico” um panorama da primeira geração de emigrados da Revolução de 1959, dos conflitos pessoais e sociais envolvendo sua autodescoberta como homossexual, em Cuba e nos Estados Unidos, e da difícil relação da diáspora com as autoridades e parentes na ilha. É uma história de perseguições e discriminações, e às vezes elas são maiores na Flórida do que em Havana. O livro está estruturado de maneira não-linear, com capítulos que intercalam recordações da infância e juventude do autor em Cuba com descrições de sua vida nos Estados Unidos.
Bejel é de uma família da pequena classe média da província, filho de mãe solteira, professora, neto de soldado espanhol que se encantou com Cuba. Era adolescente quando ocorreu a Revolução e a princípio a apoiou, pela possibilidade de fazer algo para combater a pobreza extrema que havia testemunhado quando trabalhava em ações sociais em grupos católicos. É justamente o conflito entre a Igreja e o governo marxista que faz com que ele afaste-se da Revolução e emigre para os Estados Unidos em 1962. Nunca mais veria sua mãe: “Aquela despedida, que passados os anos chegaria a ser a mais radical de sua vida, ocorreu sem espalhafato, sem muitas lágrimas visíveis. A mãe fingia estar serena.”
(...)
A importância da homossexualidade para a vida de Bejel é tão grande que forma o subtítulo do livro. Ele conta que já sentia impulsos gays em Cuba, mas que, confuso, tratava de reprimi-los. Na ilha da década de 1950, os homossexuais sofriam intensa discriminação, inclusive com agressões físicas. É somente nos EUA dos anos 60 que ele assume sua sexualidade, em meio ao ambiente liberal de Miami (“o que me interessava de verdade estava acontecendo nos alojamentos da universidade”) e, mais tarde, em Nova York. As lembranças de Bejel são agridoces, conjugando a descoberta do prazer sexual e da afirmação da identidade com certa rejeição de seu comportamento promíscuo na época, além do relato de situações de risco pelas quais passou, como quando foi sequestrado e ameaçado de morte por um amante de uma noite.
O resto, na resenha que escrevi para o Amálgama.
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