quinta-feira, 8 de março de 2007

Quando Fui Shakira

Professores também têm seus momentos de popstar e às vezes se envolvem em polêmicas parecidas com as que enfrentam as celebridades. Em meu caso, isso veio das aulas que dou no Curso Clio, um preparatório para a carreira diplomática que tem o maior índice de aprovação no país e portanto desperta a atenção de muitas pessoas que vivem fora do Rio de Janeiro.

Para minha surpresa, estourou uma polêmica numa comunidade no Orkut dedicada aos debates sobre diplomacia. Um rapaz postou mensagem perguntando como poderia contactar alguém que supostamente havia gravado em MP3 as aulas do Clio e estaria vendendo esse material pela Internet. Os comentários que se seguiram eram majoritariamente entusiastas, de outras pessoas que queriam as gravações.

Não sei se elas de fato existem, mas entrei no debate me identificando como professor do Clio e lembrando que qualquer um que comprasse as gravações estaria cometendo um ato ilegal, profundamente ofensivo tanto ao meu trabalho como docente como, ainda mais, aos meus alunos. Afinal, pagam mensalidades muito altas e não estão aí para serem passados para trás pelo primeiro espertinho com um MP3.

A corrupção e o desrespeito à lei são tão generalizados no Brasil que não posso dizer ter ficado surpreso com o golpe das aulas pirateadas, mas me espantou a burrice das pessoas que afirmam publicamente querer comprar esse material ilegal. Estupidez tão mais impressionante porque os candidatos à diplomacia precisam estudar Direito, pelo visto sem muito proveito.

Alguns dos amigos com quem comentei o caso me perguntaram se eu não havia ficado lisongeado com a suposta pirataria das aulas, ou contente com a publicidade. De modo algum. O que afaga a vaidade é me elogiarem a barba, achei um desrespeito profissional o caso das gravações. Além disso, sou um professor, não um ex-Big Brother querendo descolar uma ponta no programa da Hebe.

O principal argumento das pessoas que querem comprar as gravações ilegais é a falta de dinheiro para estudar e/ou a impossibilidade de vir ao Rio para fazer o curso. O problema é real, só que ninguém pensou em soluções alternativas, como organizar grupos de estudo e apoio mútuo, ou pressionar o governo para criar um programa de bolsas para candidatos de baixa renda, à semelhança do que já existe para os estudantes negros. Como sempre, a desonestidade e a vontade de levar vantagem às custas dos outros é só mais uma face da apatia cívica e do individualismo extremado.

Valha-me Deus, podiam também usar o Google e pesquisar pelos nomes dos professores, encontrariam vários dos nossos artigos disponíveis em sites acadêmicos e jornalísticos, tudo de graça.

Gostaria de saber se a Shakira passa por isso quando copiam suas músicas. Bem, mas ela dá concertos milionários e além disso rebola bem melhor do que eu.

16 comentários:

Direito de Resistência disse...

Entendo a sua revolta, mas enquanto a compra e a venda das gravações são ilegais, a afirmação pública de querer comprá-las não é, ainda que seja bandeirosa.

(tem um erro ortográfico sinistro no texto)

Patrick disse...

Eu sou estudante de direito e acho realmente curioso como os alunos, ao mesmo tempo em que reverberam a catilinária do maior rigor penal, me vêem praticamente como um ET, porque ainda compro DVDs/CDs (e livros!).

Maurício Santoro disse...

DR,

não falo da afirmação como um ato ilegal, mas sim da cara de pau dos estudantes de afirmar num site público que querem comprar as tais MP3. E isso numa comunidade freqüentada em massa por professores e alunos do Clio!

Patrick,

Infelizmente, a atitude conivente com a pirataria (para não falar da prática entusiasmada) está longe de estar limitada aos seus colegas no Direito, e também está muito presente na polícia.

Abraços

Anônimo disse...

Maurício: não te conheço, concordo com tudo que você disse menos que a Shakira rebole melhor que você! Se você é professor, meu amigo, você rebola pra caramba pra viver, certo??
Está cada vez mais difícil falar em ética e valores. Não sou advogada. Sou mãe. E me sinto, muitas vezes, falando coisas arcaicas. Hoje, bom e ético é o que é avalizado pela TV e pelos jornais. O que dá os tais 15 munutos. Independente do conteúdo.

Anônimo disse...

Ainda bem que o Maurício não precisa rebolar pra ganhar a vida! ;)

Maurício Santoro disse...

Maray,

eu não havia encarado o rebolado pela sua perspectiva, mas desconfio que você esteja coberta de razão...

Alguns dos meus colegas professores do Curso chegaram a afirmar que a pirataria das aulas seria boa para nós, porque "divulgaria nosso nome" e seria "marketing".

Acho que nem do ponto de vista mais comercial isso se justifica, porque o melhor marketing que consigo imaginar é cuidar bem dos alunos.

Nika,

há controvérsias. Que tal uma escola de tango, com flor na boca e tudo?

Beijos

Leandro Bulkool disse...

O problema está no princípio. As pessoas que apelam para piratear a aula, são claramente pessoas que PRECISARIAM e muita d dinâmica de sala de aula para aprender. O que é impagável e impossível de ser absorvida por um arquivo MP3.

Falando em Mkt. É simples, começem a publicar CDs (Estilo MARCELO ROSSI), com as aulas de vocês e claro musiquinhas no meio para dar um ar mais jovem e alcançar todas as classes. Será um sucesso.

Em tempo, por favor não insista no esquema de rebolar.

Anônimo disse...

Qué interessante... no Brasil la corrupçäo está na forma de estudar para entrar à diplomácia. Na Argentina, direitamente está na forma de entrar! Sem "amiguinhos" é imposível.
Se isso os faz sinter melhor, no meu país a corrupçäo na policia, política, venta de CDs e DVDs, etc. näo é menos que no Brasil.
Um abraço, meu amigo!

Anônimo disse...

PD: Aqui quem comente os piores erros otrográficos sou eu!! Täo malo é o meu português, que näo detectei o erro!!
HAHAHA
(Caetano Veloso tem muito trabalho)

Maurício Santoro disse...

Leandro, meu amigo.

Eu gostaria de acreditar que é essencial a um candidato ao Itamaraty ouvir minhas aulas em MP3 (ou ao vivo) para passar, mas acho que a galera está num delírio total. Violar as leis da República só para me ouvir falar de Rio Branco ou do general Geisel?

Sou mais piratear a Shakira.

Patrício, mi caro.

Como você pode ver, a corrupção em nossos países é marcada por notável criatividade e se manifesta de várias maneiras.

Ainda é um tema para debate saber onde ela é maior, se na Argentina ou no Brasil. Acho que vocês só levam vantagem naquela história do dinossauro ladrão de ovos que você me contou.

Quanto ao meu português, ele voltou cheio de erros e todo espanholado. Depois conto mais sobre isso.

Abraços

Jacqueline Sobral disse...

Mauricio!!!! Saudades de você!!! Ah! Ressuscitei meu blog:

incertasintencoes2.blogspot.com.

Beijos!!!!

Maurício Santoro disse...

Querida Jackie,

almocei com a Luciana há poucos dias e queríamos ambos saber de você. A quantas estás, além do fato de agora és morena?

Vou adicionar seu blog à lista.

beijo

Sergio Leo disse...

Desculpe aí, Maurício, mas vai ser difícil eu elogiar sua barba, e dispenso uma demonstração dor ebolado. Em que site encontro essas suas aulas, hein?

Agora falando sério, confesso que o que me incomoda mesmo é a pirataria de textos para serem apresentados como trabalhos nas aulas; o plágio puro e simples. Virou praga na universidade, e acho que é resultado da maneira como os professores aceitam esse tipo de coisa no segundo grau.

Quem trabalha em jornal já se acostumou a ver o próprio trabalho copiado e multiplicado em clippings e sitios diversos... sabe que não sei até hoje se condeno ou não esse troço? Fico balançando entre a defesa do direito à propriedade intelectual e a ânsia de ver as idéias circulando o mais amplamente possível. Talvez isso não se aplique aos rebolados, sejam metafóricos dos professores, sejam os reais da Shakira.
Mas tenho um sonho, de um dia ver os professores serem remunerados pela sociedade toda pelo conhecimento que propagam, e ver toda a humanidade ter acesso ao que dizem. Enquanto isso, tenho de me render à realidade, de que os comendadores também comem, e, portanto, não cabe explorar sua sapiência sem pagar, não é mesmo?

Maurício Santoro disse...

Salve, Sergio.

Seu comentário me lembrou algo que me acontecia quando trabalhei como assessor de imprensa de uma grande editora. Com muita freqüência os jornais fora do eixo Rio-SP-BSB simplesmente reproduziam meus press-releases e os publicavam como resenhas.

Não tinha idéia que isso acontecia também com os textos jornalísticos que você publica no Valor, pensei que a empresa se encarregasse de vigiar as reproduções ilegais.

No caso das aulas-MP3s o que me incomoda é mais a cara de pau das pessoas em dizer publicamente que querem as cópias sim, e dane-se se é ilegal. Além do prejuízo aos meus alunos, que não pagam pouco para freqüentar o curso...

Abraços

Migliorin disse...

Caro,

Interessante seu post.
Entretanto, tendo a crer que você reduz uma situação absolutamente complexa à legalidade ou não. Este não é o foco.

Lembro que hoje temos acesso a uma parte considerável do conhecimento do século XX graças a pessoas que gravaram as aulas de pessoas como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Roland Barthes, Lacan, etc.

Fazer de suas aulas um comércio, vendê-las na internet, etc, me parece efetivamente um problema, entretanto, não tornar público o teu saber também é um problema.

Um professor é um aglutinador de conhecimentos.
Quando você faz uma citação em aula você não faz um DOC para a conta do autor, felizmente. A sua presença na sala é única, mas o seu conhecimento não é algo individual, é bem maior que você.

Assim como estamos constantemente utilizando um saber que nos ultrapassa, acho difícil aceitar que se criem barreiras ao nosso conhecimento.

Quem pagou o curso certamente terá muito mais que o texto das aulas. Sejam essas aulas divulgadas na internet ou não os alunos do curso não perdem nada, apenas o monopólio do saber baseado em condições financeiras privilegiadas.

Caro, no seu lugar eu colocaria todas as minhas aulas na internet.
Certamente você se tornaria um professor ainda mais bem pago.

O Itamaraty só teria a ganhar e o país também. Se há algo ilegal em difundir suas aulas para as pessoas que não podem pagar, cabe a você mudar o foco, acabar com a ilegalidade e universalizar o acesso ao seu saber, o que você já faz no Blog.

A gravação sem autorização traz um outro problema,a invasão de um espaço privado, ai concordo com você.
A sala de aula é um espaço organizado pelo professor. Se algo será gravado ele deve estar ciente. Ele tem o direito de "reorganizar" esse espaço em função do uso que será feito do que ele diz.

Parabéns pelo blog
abraços
Cezar

Anônimo disse...

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