terça-feira, 13 de março de 2007

Somos Tão Jovens

Ao longo dos últimos dias li bastante a respeito de políticas públicas para jovens nos países do Mercosul. Procuro conhecer os pontos principais dos debates e os conceitos mais importantes utilizados pelos especialistas.

A primeira coisa que salta aos olhos é a própria variação na definição de juventude. Em geral os países mercosulinos consideram jovem quem tem entre 15 e 24 anos, mas no Brasil se adotou recentemente a faixa de 15 a 29. Isso significa que sou jovem por aqui, porém deixo de sê-lo quando cruzo a fronteira com a Argentina.

O Brasil é um dos campeões mundiais em percentual de jovens com relação ao total da população. Aparentemente o pico foi em 2005, mas os índices seguirão muito altos devido ao grande número de adolescentes que têm filhos em nosso país.

O segundo ponto que se destacou em minhas leituras foi a fragmentação dos órgãos governamentais dedicados a cuidar dos jovens. Em geral as ações estão dispersas por diversos ministérios e há pouca coordenação entre as várias iniciativas. O Brasil inovou ao criar uma secretaria nacional de juventude, vinculada diretamente à Presidência da República.

Cada país do Mercosul tem sua própria instituição destinada às políticas públicas aos jovens, ligadas a ministérios tão diferentes como Desenvolvimento Social, Educação e Esporte. O caso mais curioso é a Bolívia, que tem no âmbio do Desenvolvimento Sustentável um vice-ministério da “Infância, Juventude e Terceira Idade”. Tudo que tem a ver com faixas etárias...

A juventude só se tornou uma questão política após a Segunda Guerra Mundial, em particular com as explosões sociais da década de 60. Na América do Sul impressiona notar como a experiência traumática das ditaduras militares colocou com muita força a importância da mobilização da juventude. Me parece que sobretudo na Argentina e no Uruguai.

O debate sobre políticas públicas se tornou muito internacionalizado, com a influência decisiva das organizações do sistema ONU e dos organismos de crédito multilaterais. No caso da área de juventude, a Unesco tem muita influência e publica trabalhos muito interessantes. Por exemplo, analisando os jovens vítimas da violência no Brasil, descobriram que não há correlação entre pobreza e violência. As regiões mais perigosas não são as mais miseráveis, e sim as mais desiguais. Onde as frustrações e angústias contrastam com a opulência. Claro que é uma explosão em potencial.

Será que existe algo que une jovens ricos e pobres em países tão desiguais quanto os nossos? Estas leituras iniciais apontam para alguns pontos comuns: o medo do desemprego (ou mesmo o fantasma de “sobrar” na sociedade), a preocupação com a violência, o entusiasmo com a cultura e as novas tecnologias.

Poucas vezes estive tão empolgado com uma pesquisa. O motivo principal é minha ignorância sobre o tema. Não faço idéia do que irei encontrar ao ouvir esses jovens. Meu palpite é que descobrirei coisas muito interessantes no campo das artes e, quem sabe, ensaios de novas maneiras de fazer política. Porque as velhas, vou te contar...

7 comentários:

Leandro Bulkool disse...

Ao ouvir os jovens de classe baixa, os mais pobres, com certeza você vai ouvir a perspectiva menos explorada e estudada. Ou seja, muita coisa pode sair daí.

Outro assunto. Uma curiosidade que estou tendo, se um dia o Fidel chegar a morrer (falo isso pq começo a acreditar na imortalidade dele), quem vai substituí-lo? O irmão? Ou teria outra pessoa mais carismática para seguir os passos do velho?

Maurício Santoro disse...

Espero que sim, meu amigo... A expectativa é grande.

Quanto ao Fidel, mesmo antes da doença, ele vinha exercendo sobretudo funções simbólicas. Quem toca o dia a dia do governo, já há algum tempo, é o Raul Castro e um político chamado Ricardo Alarcón.

Mas não acredito que nenhum dos dois tenha condições de manter o regime cubano após a morte de Fidel. As pressões por mudanças serão fortes demais.

Abraços

Bruno Lopes disse...

Maurício, o Ipea publicou em 2006 e 2005 dois livros chamados "Brasil: o estado de uma nação". A edição de 2005 tem um capítulo dedicado à juventude com informações estatísticas muito ricas - e ele ainda está disponível de graça no site do Ipea.

Maurício Santoro disse...

Obrigado pela dica, Bruno. Vou atrás do livro do Ipea. Até agora, o que li do governo brasileiro foram mais os dados da Secretaria Nacional de Juventude.

abraços

Anônimo disse...

Maurício, me chamou a atençäo a palavra "mercosulino", pois em espanhol nunca ouvi um equivalente, seguramente porque ainda näo temos uma identidade respeito a issa unidade. Foi criada por você? Ou é comum?
Um beijo

Anônimo disse...

Síndico, respeito à inmortalidade de Castro, lembrei que quando ele tivo uma caida em público faz umos anos um médico cubano dijo que Fidel vai viver, com os adelantos das células mäe, umos 140 ANOS. Tendremos que ver (se chegamos).
Saludos argentinos

Maurício Santoro disse...

Hola, Patricio.

Não, não foi invenção minha. Em espanhol se usa "mercosureño", o "mercosulino" é só uma adaptação ao português.

Abraços