domingo, 1 de abril de 2007

A Outra Volta do Bumerangue


No ano passado o Ministério das Relações Exteriores organizou uma conferência sobre política externa e política internacional, na qual diplomatas e acadêmicos debateram esses temas. Em 2007 haverá uma segunda edição e agora o Itamaraty realiza os seminários preparatórios. Na sexta-feira aconteceu o debate sobre nosso continente e o ministério me convidou para apresentar meu estudo “A Outra Volta do Bumerangue: Estado, movimentos sociais e recursos naturais na Bolívia (1952-2006)”, que foi recebeu o Prêmio América do Sul.

Falei para uma platéia de 150 ou 200 pessoas, embaixadores e acadêmicos dos países sul-americanos. Como o tempo era curto, minha breve palestra se limitou a apontar a luta pelo controle dos recursos naturais (terra, estanho, coca, hidrocarbonetos e água) como o eixo que define a política boliviana. Comentei a ascensão dos movimentos indígenas centrados na valorização da identidade e da cultura dos povos originários e terminei pedindo ao público que lembrassem das lições do pensamento nacionalista brasileiro dos anos 50: a nação é um projeto, algo que se contrói, um a fazer, e é isso o que está em jogo na Bolívia.

Meu irmão havia brincado comigo: “Quer dizer que você vai explicar a Bolívia aos bolivianos?”. Não foi isso, mas felizmente a diplomata boliviana presente me cumprimentou pelo trabalho e se ofereceu para me ajudar com informações para minha pesquisa sobre a juventude sul-americana. O tom do meu texto é de muita admiração pelo povo boliviano e por sua rica tradição de lutas sociais, tratei a questão da nacionalização dos hidrocarbonetos como um direito soberano e critiquei certas reações na opinião pública brasileira como xenófobas e racistas.

O Itamaraty aproveitou o seminário para realizar a cerimônia de premiação. Assim, minutos depois da palestra recebi o certificado das mãos de um convidado ilustre: o economista argentino Aldo Ferrer. É um dos intelectuais nacionalistas mais importantes do continente, comparável ao nosso Celso Furtado e o cito várias vezes em minha tese. Enquanto ele e o Moniz Bandeira me cumprimentavam, disse-lhes algo embaraçado que falar sobre política sul-americana num evento no qual ambos estavam presentes era quase desrespeitoso, eu deveria ficar em silêncio e ouvi-los.

O seminário reuniu acadêmicos de todo o país e conheci gente muito boa de universidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará. A idéia é trocarmos informações e idéias e provavelmente darei algumas palestras por aí. Outra boa surpresa foi conhecer a equipe de uma revista acadêmica para a qual dias atrás eu tinha enviado um artigo sobre a crise argentina – devo usar parte do texto na minha tese. Ele me contava da rede de pesquisadores que estão formando em vários paísess e comentei entusiasmado que eles estavam de parabéns: “Nós estamos, porque você é parte disso”, ele me corrigiu.

Também encontrei bons amigos, como um ex-professor (em cuja disciplina escrevi o artigo para a revista) e colegas do Exército e todos queriam saber como tinha sido a experiência na Argentina e escutar as novidades. Meu ex-professor me incentivou a me dedicar integralmente à carreira acadêmica e a publicar a tese como livro. Curiosamente, depois do evento dei uma passada no Iuperj e os amigos que encontrei por lá brincavam que já que estou “com um pé no governo” poderia arranjar empregos para jovens recém-doutores.

Como não faço parte do PMDB, me limitei a rir e cuidar da vida. Trabalhei pesado no fim de semana e escrevi o segundo capítulo da tese. O texto flui fácil e rápido, porque estou a mil com informações e idéias. Se continuar neste ritmo, devo terminar o trabalho ainda neste semestre. De qualquer forma, razões burocráticas me impedem de defender a tese antes de agosto.

7 comentários:

N, Maciel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
N, Maciel disse...

Olá professor,

Estive neste seminário na sexta e por coinscidência vim parar no seu blog enquanto procurava seu texto na internet.Infelizmente a FUNAG ainda não o disponibilizou no site. Se não fosse pela minha timidez e pressa, eu até teria lhe cumprimentado no final do seminário. Gostei muito de seu trabalho. São exemplos como seu que me fazem persistir no sonho de seguir carreira acadêmica.

Parabéns!!

Lerei seu blog sempre que puder

N, Maciel disse...

Que bom, acabei de encontrar o texto no link do seu post!

Maurício Santoro disse...

Oi, Natália.

Muito obrigado pelas suas palavras amáveis. Como você pode ver pelo link, o texto já está online no site da FUNAG. Aliás, recomendo também o texto do embaixador Taunay sobre a Comunidade Sul-Americana de Nações, é o mais completo que vi sobre o assunto.

Meu caro Igor,

eu achava que seria uma reunião fechada, no estilo mesa-redonda, só quando cheguei ao Itamaraty é que vi que estava aberta ao público. Em todo caso, em breve vem aí a II Conferência.

Abraços
'

Anônimo disse...

Parabéns, meu amigo! Fico feliz ao conhecer seus logros.
Desculpe meu desconhecimento da vida acadêmica, é muito comum que as teses sejam depois livros?
Assim que agora ha um argentino no "Gran Hermano" (como o chamam aqui) do Brasil. Aqui estivo uma brasileira e por umos dias foi mais famosa que Xuxa ou Lula! hehe. Nunca imaginei que os realities voltariam, pensei que tinham sido superados.
Saludos

Sergio Leo disse...

Da próxima vez em que passar por Brasília e não fizer contato, sofrerás os rigores da justiça bolivariana, anote o que digo.

Maurício Santoro disse...

Caro Patricio,

soube da ida da brasileira ao Big Brother Argentino, inclusive dos problemas de comunicação dela com os hermanos. Mas acredite: nós, brasileiros, somos melhores do que aquilo que você vê na TV! Em especial com qualquer coisa que envolva a Xuxa.

É relativamente comum que uma tese de mestrado ou doutorado vire em formato resumido pelo menos um artigo numa revista acadêmica. Mas meu plano para o trabalho sobre a Argentina é editá-lo em livro.

Mestre Sergio,

poupe-me da guilhotina de Bolívar, porque o evento foi no Palácio do Itamaraty do Rio de Janeiro. Nas atuais circunstâncias de tráfego aéreo, está difícil ir a Brasília...

Abraços