terça-feira, 29 de maio de 2007
Câmbio e Desenvolvimento
Os comentários no post anterior me estimularam a escrever um pouco mais sobre o tema do câmbio e do desenvolvimento. O Patrício chamava a atenção para o controle chinês sobre o yuan, e de fato essa política é um instrumento importante no crescimento acelerado do gigante asiático.
Como o comércio dos Estados Unidos com a China é deficitário para o primeiro país, muitos políticos americanos pressionam para a valorização do yuan. Eles pensam que com a apreciação da moeda os chineses passariam a exportar menos e importar mais, conseqüentemente melhorando a situação das empresas dos EUA.
Pode não ser bem assim, nos diz a edição da semana anterior da The Economist. Para a revista , as economias de ambos os países estão tão entrelaçadas que mudanças bruscas no câmbio prejudicariam também os Estados Unidos, encarecendo os produtos consumidos pela população, influindo nas cadeias produtivas e até na taxa de juros – o Tesouro chinês é grande comprador dos títulos do governo americano. Contudo, a Economist defende uma pequena valorização do yuan, mas por razões ligadas ao mercado financeiro chinês.
O noticiário contemporâneo tem me ajudado nas leituras que faço sobre o Brasil das décadas de 1950 e 1960, para o artigo que escreverei sobre política externa e desenvolvimento. Naquela época, a principal exportação brasileira era o café. E o país precisava importar produtos caros para impulsionar o processo de industrialização: bens de capital, veículos, máquinas etc. Isso fazia com que à medida que a indústria avançava se tornasse mais difícil lidar com o desequilíbrio da balança de pagamentos. Desvalorizar o cruzeiro era a medida habitual para lidar com a queda no preço do café, mas as pressões dos industriais tornaram essa resposta inviável.
Para fechar as contas, o Brasil adotou diversas medidas. Taxas de câmbio variáveis, que privilegiavam a importação de equipamentos para as fábricas e dificultavam a compra de produtos industrializados. Restrições, ou mesmo proibições, de importar bens de consumo. A política cambial era pensada em conjunto com preocupações ligadas à indústria, ao comércio exterior e à situação fiscal – parcela considerável das receitas do governo federal vinha dela.
Tais políticas foram executadas com criatividade e inteligência e muitas vezes fico admirado ao estudar as soluções encontradas pelos técnicos da SUMOC, do BNDE e da Assessoria Econômica de Vargas e de JK, que operavam num contexto bastante difícil. Mas a fragilidade da posição brasileira, sempre dependente do preço do café e das instáveis coalizões políticas internas, não ajudou. As oscilações da política cambial foram grandes e imagino como devia ser complicado para administradores públicos e privados lidar com um quadro cheio de vicissitudes.
O Brasil não tem a capacidade de manobra econômica da China e nem há espaço hoje para as políticas heterodoxas implementadas nos anos desenvolvimentistas. A lição que tiro desta história é apenas a de que o câmbio é um instrumento muito precioso para o crescimento da economia, e portanto não pode flutuar ao vento. É necessário que ele seja objeto de políticas públicas adequadas, que levem em conta os efeitos monetários, para o comércio exterior e para a indústria. As atuais decisões de simplesmente comprar dólares para tentar conter a a desvalorização da moeda americana frente ao real são insuficientes. Aliás, têm impacto negativo sobre a dívida pública.
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2 comentários:
A economia americana anda tão comprometida com seus déficits internos que mexer no câmbio chinês não vai colocar as contas do país em ordem...
Pois é, meu caro. Fora o problema da bolha no mercado imobiliário. Mas um pouco de demagogia, de jogar a culpa dos problemas econômicos nos outros, nunca fez mal a político algum.
Abraços
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