segunda-feira, 28 de maio de 2007
O Pileque do Dólar Barato
O dólar finalmente caiu abaixo de R$2, algo que não acontecia desde a década de 90. A moeda americana se desvalorizou em todo o mundo, mas a queda foi particularmente brusca no Brasil, por duas razões: o boom nas exportações e os juros altos. Ambas inundaram nosso país de dólares e fizeram o real se valorizar em excesso.
O dólar barato é uma espécie de embriaguez, na qual os efeitos de curto prazo são agradáveis para o consumidor – fica mais fácil importar e viajar ao exterior – mas em pouco tempo aparece a ressaca para a economia. Em especial para o setor industrial, cujas dificuldades aumentam tanto para competir com as manufaturas estrangeiras quanto para disputar mercados internacionais.
Outro impacto negativo é que as indústrias brasileiras começam a substituir seus fornecedores. Em vez de comprarem aqui mesmo, passam a importar, para diminuir custos. O resultado é um efeito cascata de empresas nacionais prejudicadas.
O economista Dani Rodrik, um dos mais importantes especialistas em desenvolvimento econômico, está justamente escrevendo um artigo sobre câmbio e crescimento, no qual afirmará que os países têm melhor desempenho quando subvalorizam a moeda, como fazem China e Índia.
Entre nós, quem fez a proposta mais interessante foi o economista Luís Carlos Bresser Perereira. Ele avalia que o Brasil sofre da chamada “doença holandesa”, ou seja, a moeda sobrevalorizada em função de um surto exportador de produtos primários (na Holanda, isso ocorreu com o gás). Bresser sugere um imposto sobre a agroexportação, conjugado com redução de juros e controle de entrada de capitais.
Países como Chile, Venezuela e Rússia enfrentam o problema pela criação de fundos de estabilização dos preços das commodities, que taxam parte dos lucros e usam o dinheiro para investimentos no mercado financeiro ou no setor produtivo. O Brasil poderia fazer o mesmo, canalizando esses recursos para serviços públicos essenciais (educação, saúde) ou apoio à indústria.
Não faltam boas idéias. A dificuldade é contrariar os interesses do agronegócio. Até que chege este dia glorioso, me viro como posso: aproveitei o pileque e fiz uma grande compra de livros na Amazon, o pacote deve chegar pelos próximos dias.
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4 comentários:
O melhor do seu excesso no pileque é saber que que não haverá ressaca, uma vez que o dólar tende a baixar e sua fatura virá branda!!
Abraços mil
ps: te escrevo um email ainda hoje tratando dos assuntos do comentário anterior!!
É interessante isso que você escreveu. A imprensa sempre lembra as condições de trabalho na China, mas "esquece" que o câmbio lá não é deixado ao sabor do vento. Mais um fato que nos lembra como é importante a imprensa livre (de dívidas em dólar).
Isso (artificialmente subvalorizar a moeda) parece ser uma tática razoavelmente comum. O Japão fez a mesma coisa até meados da década de 80. Agora, o agronegócio me parece preferir o câmbio estratosférico de 2002 ao de agora. Me impressiona como os nossos setores agrários e industriais são absolutamente incapazes de se precaver contra flutuações. A regra simples de poupar em tempos de bonança parece ser sempre esquecida.
Salve, Igor.
Espero que sim. Mas a Amazon me mandou um email avisando que o pacote só chega dia 20. Ficarei roendo as unhas até lá.
Patrick,
a imprensa brasileira fala pouco da China, a não ser quando entra em questão as disputas com industriais brasileiros. É pena, porque é muito importante acompanhar o que está sendo realizado por lá, já que os impactos afetam toda a economia internacional.
Meu caro Paulo,
o Bresser diz na entrevista que mencionei que na América Latina o câmbio tende a ser sobrevalorizado, até pela sua função em combater a inflação. Pensei na Conversbilidade e nos impactos desastrosos dela para a Argentina.
Me parece que a posição atual do agronegócio é mais baseada na estratégia do "em time que está ganhando não se mexe", mas realmente não conheço muito o pensamento do setor.
Abraços
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