quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
A Economia dos Conflitos Armados
Navegando pela Internet, encontrei o excelente programa de Harvard sobre Política Humanitária e Pesquisa sobre Conflito, do qual baixei o estudo “Economics and Violent Conflitct”, do cientista político Macartan Humphreys. Ele examina dados recentes e procura identificar os padrões econômicos que levam à eclosão de guerras, e do que acontece com a economia quando um confronto bélico está em andamento. O primeiro ponto é o mais desafiador.
A análise de Humphreys se concentra na África contemporânea, seu tema de especialização, o que significa que a maioria dos conflitos abordados por ele ocorrem na forma de guerras civis em países muito pobres, com profundas divisões étnicas e/ou religiosas. Portanto, conclui que a pobreza é um fator crucial na explicação da violência política, porque a escassez dos recursos leva a disputas mais intensas e pode gerar tensões como migrações, que exacerbam os ódios raciais.
A afirmativa me parece correta para o caso africano, mas é curioso observar como na América do Sul o padrão é diferente. A Colômbia é um país bem mais rico do que o Paraguai ou a Bolívia, e nenhuma dessas duas nações enfrentou guerras civis desde os anos 1940, ao passo que os colombianos vivem em estado de violência há 60 anos.
As observações de Humphreys sobre desigualdades são bem mais interessantes. Ele critica estudo do Banco Mundial que concluiu que elas não influíam em conflitos, afirmando que a instituição não entendeu os dados. Desigualdades gerais, entre indivíduos, não seriam relevantes, mas elas se tornariam um fator explosivo quando se tornam desequilíbrios de riqueza entre grupos étnicos ou regiões. Percepção instigante, vale a pena refletir sobre ela. No contexto sul-americano, podemos pensar em áreas assim, que se tornaram focos de violência – como o “trapézio andino” no Peru, em especial Ayacucho , berço do Sendero Luminoso e habitada por população de origem indígena, desprezada pela elite mestiça ou com pretensões à branquitude de Lima.
Outro bom ponto de seu estudo é examinar o papel que os recursos naturais desempenham no financiamento a grupos rebeldes ou mesmo na motivação para os conflitos. Basta lembrar dos “diamantes de sangue” de Serra Leoa e Angola, ou no petróleo na África e no Oriente Médio. Humphreys afirma que quando essas riquezas são muito concentradas geograficamente, a chance é que haverá um golpe de Estado, e não uma guerra civil. A tragédia é que em geral essas fontes estão muito dispersas, tornando difícil o Poder Central evitar que bandos armados se apoderem delas. A Colômbia é um exemplo: plantações de coca, terras férteis, minas e rebanhos de gado estão muito espalhados pelo país.
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2 comentários:
Caro professor,
Como ele coloca a questão do colonialismo, que colocou dentro de espaços decididos pelas metrópolis (Congresso de Berlim, 1885[?]) etnias, que podiam não se dar bem, ou até mesmo francamente inimigas? Sem contar que estas mesmas metrópolis incentivaram o conflito ("divide et impera").
Além disso, como ele vê a intervenção dos países industrializados nestas guerras? Afinal, me parece que o Reino Unido teve participação na Guerra de Biafra, assim como a França nos recentes confrontos da Costa do Marfim. A então racista África do Sul, bem como os Estados Unidos, ajudaram a combater os então marxistas governos de Angola e Moçambique, nos anos 1970.
Assim eu ficaria com guerras "autóctones" a questão Etiópia-Eritréia, e a esfacelada Somália. E temos estas questões dos minerais preciosos financiando guerrilhas na Libéria, Serra-Leoa e Congo (ex-Zaire).
Ou seja, como o autor analisa, se analisa, estas multi-dimensões?
[]
Salve, Zé.
Não, ele não analisa essas dimensões, seu estudo já parte de um cenário em que se dá por consolidado uma certa estrutura de Estado que, como você bem observou, é conseqüência do colonialismo e das intervenções das grandes potências.
Acredito que a pergunta dele é "partindo destas circunstâncias, como podemos analisar a relação entre conflitos e economia?".
Abraços
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