segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Persepolis




Persepolis” é a adaptação para o cinema de uma história em quadrinhos autobiográfica escrita pela iraniana Marjane Satrapi, que conta sua infância e adolescência no contexto turbulento da queda da monarquia, dos anos iniciais da Revolução Islâmica e da guerra Irã-Iraque. É um excelente trabalho, que mistura humor, drama, tragédia, esperança e, acima de tudo, um forte senso de liberdade e de busca pessoal pelo que é correto.

A menina Marjane é a inquieta filha única de um casal de classe média cuja família possui muitos membros que são ativistas de esquerda e lutam contra a monarquia do xá Reza Pahlevi. Nos anos finais do reinado, a situação social no Irã se deteriora rapidamente, e a política entra com tudo na vida da pequena Marjane, que precisa aprender a lidar com a prisão de parentes e amigos, ou com a volta inesperada de personagens como o tio Arouche, um líder comunista que planeja substituir a monarquia por um regime semelhante ao que viu quando esteve exilado na URSS.

A renúncia do xá cria um breve clima de euforia, que logo é substituído pelo triunfo dos xiitas e uma mudança brusca no cotidiano, com a adoção da sharia, a lei islâmica, e perseguição ainda mais implacável aos opositores do regime e as privações e riscos causadas pela longa e sangrenta guerra contra o Iraque.



Marjane se torna uma adolescente rebelde, que tenta driblar a censura dos aiatolás contrabandeando discos do Abba ou do Iron Maiden. Mas a barra fica pesada e a família a despacha para um colégio em Viena. Na Europa, Marjane oscila entre o deslumbramento com o consumismo e a solidão, sentindo-se deslocada e sem lugar naquela sociedade, encontrando refúgio apenas entre outros outsiders, como anarquistas e punks. Após alguns casos amorosos mal-sucedidos, ela resolve retornar ao Irã. E descobre que também tornou-se estrangeira em seu próprio país, incapaz de adaptar-se à falta de liberdade.

O que torna Persepolis tão bom é a mistura dos dramas comuns à adolescência com o pano de fundo político da ascensão da revolução islâmica no Irã. O texto de Marjane é excelente, profundamente humano e sensível. Há personagens inesquecíveis na história, como os pais amorosos, o tio idealista e, sobretudo, a avó sábia e independente, que incentiva a neta a questionar sempre o que é correto e viver de maneira íntegra.

Marjane, a autora, deixou o Irã e foi morar na França, onde se tornou conhecida como artista plástica e ilustradora.

4 comentários:

SAM disse...

É, sobretudo, uma obra autobiográfica e divertida, dando, portanto, apenas uma visão sobre a realidade iraniana dos tempos da revolução.

Existe muito mais no Irã do que as questões de esquerda-direita ou o repúdio ao ocidente e ao mundo árabe. Existe a situação dos curdos com a vinda do novo regime, a perca da liberdade de expressão (que é, em pequena, parte abordado aqui) a dizimação e perseguições sistemáticas aos bahá'ís.

É uma interessante obra, mas que reduz os problemas iranianos aos problemas que a autora sentiu no seu processo de interação com o seu país de nascimento (que eu ainda não pude conhecer por causa do atual regime!).

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Parece un livro muito interessante, e creu que a autora legou um testimónio muito valioso. Dentro de centos de anos, ler o livro va ser cercano a ouvir a um testigo dessos tempos.
Parabéns por ter publicados algúns de seus artigos.
Saludos argentinos!

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Olá, Sam.

De fato, é muito difícil analisar a Revolução Islâmica do Irã a partir dos conceitos ocidentais de esquerda/direita. Ela foi igualmente destruidora para os adeptos do socialismo, comunismo e da monarquia pró-Ocidente do xá.

Caro Patricio,

é realmente muito bom, espero que o filme logo chegue à Argentina, se é que já não está por aí. Semana passada dei uma entrevista a um jornal portenho, o Crítica, por conta do lançamento da pesquisa sobre juventude sul-americana.

Abraços

Unknown disse...

Olá,

Estou entrando em contato novamente para me colocar à disposição ao esclarecimento de dúvidas referente ao e-mail que enviei no dia 20/02/08, tratando da Parceria Comercial entre o Site Todos os Fogos com a HOTWords.

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