sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ich bin Obama



Não há precedentes para a recepção entusiasmada que Barack Obama recebeu dos 200 mil alemães que se aglomeraram em frente à Coluna da Vitória para ouvi-lo. Muito se comparou sua visita àquela de John Kennedy, e poderíamos citar também a chegada de Woodrow Wilson à Europa, ao fim da Primeira Guerra Mundial, mas as analogias são imprecisas: ambos eram presidentes cuja presença em meio a sérias crises aparecia como a única esperança de salvação. O senador americano é apenas o candidato favorito ao posto e chega em tempos de paz.

Ou quase, pois os europeus lutam combates distantes nas planícies iraquianas ou nas montanhas afegãs. A Aliança Atlântica está dividida diante dos problemas da OTAN, das disputas comerciais na OMC e das abordagens divergentes para enfrentar o aquecimento global e o terrorismo. Obama foi vago sobre os temas polêmicos, mas sua mensagem subliminar é poderosa: me importo com vocês, sou simpático às suas dificuldades e me esforçarei para compreendê-los. Grande avanço com relação às eleições de 2004, quando os republicanos diziam que o candidato democrata John Kerry “parecia francês”, e a expressão significava um insulto.

A visita a Berlim foi o ponto alto da turnê mundial de Obama, um genial golpe de marketing para mostrá-lo como Estadista e líder. Esteve no Iraque e defendeu a retirada das tropas americanas em um ano e meio; no Afeganistão afirmou a centralidade daquela guerra no combate ao terrorismo; no Oriente Médio, assumiu compromisso de mediar a paz entre Israel e os palestinos; na Europa, procura “derrubar muros e construir pontes”.

É claro que modelou sua passagem na capital alemã pela célebre viagem de Kennedy (foto abaixo). JFK visitava uma cidade rachada em duas no momento mais tenso da Guerra Fria, e seu famoso discurso Ich bin ein Berliner, Sou um berlinense, era a garantia da defesa militar da Alemanha Ocidental contra a URSS. A mensagem de Obama é outra: a de que é um cidadão do mundo, alguém com mentalidade ampla e capaz de liderar os Estados Unidos num cenário de instabilidade e crise.



O senador de 47 anos parece ainda mais jovem e dinâmico diante da velharia que atualmente governa a Europa – me refiro às idéias e à prática política, mais que à faixa etária. Obama está se tornando algo como um político mundial, um presidente sem fronteiras, um símbolo de esperança e transformação para muitas pessoas em países diferentes. Até no meu próprio bairro (Santa Teresa, Rio de Janeiro) já vi adesivos de carro com os dizeres “Obama 2008”. Reproduzo o comentário de um excelente jornalista espanhol, Lluís Bassets do El País:

Obama es el presidente que más se parece a América y la América de Obama es la que más se parece al mundo, plural, joven, libre, ambiciosa, luchadora. Sólo este mitin de ayer en Berlín es el mayor acto de relaciones públicas americano de la historia reciente. Obama está restituyendo a Estados Unidos lo que Bush le ha quitado: la estima de quienes aman la libertad en el mundo, el aprecio y la amistad de los europeos.

7 comentários:

Ramon Blanco disse...

Grande Maurício, tudo bom?

Realmente esse "tour" do Obama está causando um furor muito grande por aqui. Vejo dois motivos, um é o óbvio de ter novamente um EUA liderando em direções que são interessantes para a europa, assim como conversando mais (principalmente ouvindo mais). O segundo, foi um ponto que você tocou, ele é visto por aqui como o candidato que todos queriam em sua política doméstica em uma europa de velhas idéias. Há por aqui a sensação de que a Europa perdeu pelo caminho a capacidade de liderança na formulação e disseminação de novas idéias e ideais, e mais do que tudo, de esperança!

Com relação ao post anterior, o email da menina que lhe falei é: cmarcelinogomes@yahoo.com.br. O nome dela é Carla e ela fez alguns trabalhos na apreciação das empresas militares privadas nos cenários de reconstrução pós-bélica, mas não é a tese dela.

Um grande abraço,
Ramon

Maurício Santoro disse...

Salve, meu caro.

Pois é, em meio a mundo tão mediano, Obama surge como uma lufada de ar fresco. Estou curioso para ver qual será o impacto dele na América Latina, tenho a impressão de que também causará entusiasmo, justamente pela promessa de conciliar mudança com um discurso de aproximação e paz. Obrigado pelo email da sua amiga!

Abraços

SAM disse...

Dois comentários:

1. Obama de fato falou bem, mas parece não ter dito muito, o que aliás é comum nele e à boa parte dos atuais líderes quando em campanha eleitoral. Lembro de criticarem Zapatero há uns anos, durante as eleições, por falar bonito e não dizer medidas concretas! Isso deu-lhe (em parte) a vitória mas também lhe deu margem de manobra em muitas decisões posteriores.

2. Há algum motivo pelo qual se dá o nome de "Velho Continente" à Europa, não é? ;)

Maurício Santoro disse...

Pois é, há razões para o título de Velho Continente... Mas oxalá possa haver renovações, aí e também nesta margem do Atlântico.

Abraços

Alessandro Ferreira disse...

O Espírito de Porco, sempre de plantão, mandou avisar: em novembro, vai dar McCain.

A propósito: o que Obama já disse que realmente valesse a pena pra nós, habitantes do Bananão? Não vale esse papo de 'hope' e 'change', que tem zero de conteúdo. Pra mim, até agora foram só discursos 'hishtóricos' pra lá e pra cá, algumas promessas já quebradas (vide financiamento de campanha) e um monumental bafafá da mídia em torno do negão (posso usar o termo ou já dá processo?) - felizmente a mídia não vota.
Assim, de sopetão, só lembro de uma memorável do Barack, mais ou menos assim: 'a liderança brasileira no mercado de etanol (nos) preocupa'. Como bom (!?!) democrata que é, o sujeito é chegado num protecionismo pesado. E essa pose toda de estadista antes da hora, sei não...

Maurício Santoro disse...

Acho difícil McCain ganhar, Alessandro. As pesquisas estão dando Obama 6 ou 7 pontos na frente e as discussões sobre o candidato republicano são bastante negativas, falando de seus problemas de saúde e de suas gafes em política externa.

Os democratas têm vínculos mais fortes com setores protecionistas como sindicatos e grupos ambientalistas e desde que assumiram o controle do Congresso apertaram mais o torniquete dos subsídios agrícolas, inclusive aos produtores de milho, do tristemente conhecido programa de etanol dos EUA.

Ainda assim, é dificil imaginar qualquer processo de liberalização comercial no atual cenário americano, a crise está muito séria.

Abs

SAM disse...

Não discordo de nada do que você disse Maurício, mas verdades sejam ditas: os discursos do Sr. Obama têm sido retóricos e de pouco conteúdo real e há 8 anos nós todos achávamos que seria difícil que o Sr. Gore perdesse as eleições...