quinta-feira, 3 de julho de 2008

A Libertação de Ingrid Betancourt


Ontem passei a tarde na TV PUC, gravando um programa sobre África. Ao sair do estúdio, uma rádio paulista me ligou no celular, pedindo meus comentários sobre a libertação de Ingrid Betancourt. Contudo, o repórter me havia dito que as FARCs é quem tinham soltado a refém. Somente ao ler os jornais desta quinta é que soube que na realidade a ex-candidata à presidência foi libertada em conjunto com outras 14 pessoas numa brilhante operação de inteligência do Exército colombiano.

Os militares se passaram por guerrilheiros e convenceram um comandante das FARCs de que iriam levar a ele e os reféns para um encontro com a cúpula da organização. Só quando embarcaram na aeronave é que descobriram que estavam nas mãos das autoridades. Foi um resgate extraordinário, muito bem-executado e sem disparar um só tiro. Além de demonstrar a perícia das unidades de elite da inteligência colombiana, é uma prova clara do estágio de desestruturação e falta de comunicação em que caíram as FARCs.

A popularidade de Uribe já batia recordes antes da libertação, e agora deve crescer ainda mais. Difícil imaginar que, diante de um presidente tão admirado, a justiça colombiana anule sua reeleição - há um processo em curso, devido a acusações de compra de votos no Congresso para aprovar a emenda que permitiu a Uribe se candidatar a um segundo mandato.

O mais interessante, no entanto, será observar qual o papel que Ingrid Betancourt irá desempenhar na política colombiana. Ela é uma estrela do Partido Liberal, de oposição a Uribe. Naturalmente, passou por uma tragédia pessoal, de 6 anos de cativeiro, e há rumores de sua saúde está muito ruim. Ainda assim, a Colômbia tem outros exemplos de políticos que escaparam das FARCs e reassumiram posições de liderança (como o atual chanceler de Uribe, Fernando Araújo). A própria entrada de Ingrid na política foi uma espécie de acerto de contas com a decisão de seu pai de se retirar da promissora carreira pública - foi embaixador, ministro e chegou a ser cogitado para a presidência. Não me parece o perfil de uma mulher que se contentaria em se retirar para a vida privada.

É muito provável que ela se torne uma líder de relevo nas negociações para o desmantelamento das FARCs, e, naturalmente, esvaziará bastante as iniciativas que Hugo Chávez possa empreender, até porque o presidente da Venezuela está atarefado com suas próprias crises internas.

4 comentários:

Unknown disse...

Oi Maurício!
Todo o episódio foi emocionante, tanto a cobertura dada ao assunto como a chegada dos libertados e o subseqüente reencontro de Ingrid com a mãe e com os filhos. O que eu achei engraçado foi a posição dos EUA, segundo o Jornal Hoje (de hoje). O Depto de Estado teria dito que não participou da operação de resgate, mas o embaixador americano garantiu que os EUA contribuíram com treinamento, equipamentos e inteligência. Vai entender.....
Acho que da brilhante operação comlobiana fica uma lição para a nossa pretenção imperialista: a América do Sul não é tao dependente assim de nossos talentos.

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Sem dúvidas sará uma das melhores novidades do ano. E o mais interessante é que ista vitória se consiguiu sem violéncia nem violaçöes ao Direito Internacional como com a crise com o Equador.
Saludos

P.R. disse...

não sabia dos detalhes.
parece um filme do 007.

Maurício Santoro disse...

Olá, Claudia.

Há uma intensa colaboração dos EUA com a Colômbia na área militar, mas o ponto é que a operação de resgaste empreendida pelo Exército colombiano foi muito mais bem-sucedida do que qualquer ação semelhante que os Estados Unidos tenham executado! As tentativas deles em libertar os reféns americanos no Irã, por exemplo, foram um fiasco!

Os colombianos tiveram mais sucesso até do que os israelenses, que lançaram ações parecidas em Uganda, mas que culminaram em diversos mortos.

Abraços